Rio de Janeiro, 05 de Dezembro de 2025

Reverência à memória de Herzog, 50 anos após tortura e morte na ditadura

Comemoração dos 50 anos da morte de Vladimir Herzog, jornalista torturado e assassinado pela ditadura militar. Ivo Herzog reflete sobre a falta de justiça.

Sábado, 25 de Outubro de 2025 às 13:55, por: CdB

Ivo tinha nove anos quando viu o pai pela última vez. No dia 25 de outubro de 1975, Vladimir foi até o prédio do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), em São Paulo.

Por Redação, com BdF – de São Paulo

O jornalista Vladimir Herzog gostava de criar pombos e coelhos, e de observar o céu à noite. 

— Acho que essa imagem dele, olhando o céu com o meu avô, é a última e também a mais simbólica — lembra Ivo Herzog, filho de Vlado, como era conhecido o editor e cineasta assassinado por agentes da ditadura militar.

Reverência à memória de Herzog, 50 anos após tortura e morte na ditadura | Ivo e a mãe, Clarisse Herzog, mulher do jornalista Vlado Herzog assassinado na ditadura militar
Ivo e a mãe, Clarisse Herzog, mulher do jornalista Vlado Herzog assassinado na ditadura militar

Ivo tinha nove anos quando viu o pai pela última vez. No dia 25 de outubro de 1975, Vladimir foi até o prédio do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), em São Paulo, para prestar um depoimento sobre a sua ligação com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), que atuava na ilegalidade durante o regime militar. De lá, o jornalista nunca mais voltou. Ele foi torturado e assassinado por homens que, depois do crime, forjaram uma cena de suicídio.

 

Algo errado

Na manhã seguinte, Ivo e o irmão André receberam a notícia.

— Minha mãe entrou no quarto e disse que ele havia morrido — recorda.

Num primeiro momento, a mãe, Clarice Herzog, contou às crianças que Vlado havia sido vítima de um acidente de carro.

— Eu e meu irmão não entendíamos muito bem, mas logo percebemos que havia algo muito errado — lembra Ivo, que atualmente é presidente do conselho do Instituto Vladimir Herzog (IVH), organização da sociedade civil criada em junho de 2009 para celebrar a vida e o legado de Vlado.

 

Investigação

Em entrevista exclusiva ao site de notícias Brasil de Fato (BdF), publicada neste sábado, Ivo retoma as últimas memórias que tem do pai, celebra o trabalho do IVH e denuncia a ausência de justiça nos crimes cometidos pela ditadura militar no Brasil. Mesmo após um longo trabalho de investigação da Comissão Nacional da Verdade e de uma denúncia apresentada à Justiça pelo Ministério Público Federal (MPF) contra seis pessoas envolvidas na morte de Herzog, nenhum dos acusados foi responsabilizado até agora.

— Nenhum país se torna verdadeiramente democrático sem reconhecer e julgar os seus crimes de Estado — destaca Ivo, que hoje dedica seus dias à tarefa de salvaguarda da memória de Vlado, um homem que, “mesmo vivendo em tempos duros, acreditava na luz, no conhecimento e na liberdade”.

 

Memória

Presidente em exercício, Geraldo Alckmin (PSB) confirmou presença à cerimônia ecumênica em memória dos 50 anos da morte do jornalista Vladimir Herzog. O ato, no fim da tarde deste sábado, será realizado na Catedral da Sé, no Centro da capital paulista, que se tornou símbolo da resistência democrática após sediar a histórica missa de sétimo dia do jornalista em 1975.

Em viagem à Ásia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não participará do encontro. A celebração inter-religiosa reunirá líderes de diferentes crenças, familiares, jornalistas e representantes de instituições de Direitos Humanos, reafirmando o compromisso com a memória, a verdade e a justiça. A cerimônia integra uma série de homenagens realizadas pelo legado de Herzog, cujo assassinato tornou-se marco pela redemocratização do país.

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