O BTG reconhece que as movimentações recentes dos mercados pioram o balanço de riscos, mas mantém a previsão de que o BC cortará a Selic para até 9,5% em 2024. O mercado de juros futuros chegou a precificar uma taxa terminal perto de 11% na última semana.
Por Redação, com Bloomberg - de São Paulo
A resiliência do câmbio em meio à volatilidade causada pela expectativa de juros altos por mais tempo nos EUA e pelo conflito no Oriente Médio deve ajudar o Banco Central a cortar mais a Selic do que o mercado projeta, segundo o BTG.
O balanço de pagamentos do Brasil “está bem sólido”, o que limita a desvalorização do câmbio e o seu efeito nas expectativas de inflação, disse João Scandiuzzi, estrategista-chefe do BTG Pactual, em entrevista à agência norte-americana de notícias Bloomberg News com outros executivos na sede do banco, em São Paulo.
O BTG reconhece que as movimentações recentes dos mercados pioram o balanço de riscos, mas mantém a previsão de que o BC cortará a Selic para até 9,5% em 2024. O mercado de juros futuros chegou a precificar uma taxa terminal perto de 11% na última semana.
Emergentes
Um dos motivos dessa visão mais positiva é o câmbio, segundo o banco. O real acumula um ganho de 2,9% desde o ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro, segundo melhor desempenho entre 31 moedas de países desenvolvidos e emergentes compiladas pela agência.
A resiliência da moeda, favorecida pelo carregamento vantajoso da taxa de juros no Brasil, de 12,75%, também se ampara no saldo comercial em patamar recorde. Além de itens tradicionais das exportações do país, como os produtos agrícolas e o minério de ferro, agora também o petróleo ganha destaque.
— A balança de petróleo só tem a melhorar — disse Scandiuzzi, que prevê o Brasil entre os maiores exportadores do produto até o final da década.
Pressão
A Petrobras (PETR3; PETR4) divulgou em 16 de outubro uma produção trimestral recorde de óleo e gás, de quase 4 milhões de barris de óleo equivalente por dia. O país tem elevado consistentemente a produção nas últimas décadas, à frente dos demais produtores latino-americanos.
A revisão que o mercado fez em termos de projeção para a Selic no final do ciclo de cortes parece um pouco exagerada, de acordo com Scandiuzzi. Ele considera prematura a discussão no mercado sobre a possibilidade de o BC desacelerar o passo do corte de juros de 0,50 ponto percentual para 0,25 ponto percentual.
— A volatilidade lá fora muda o balanço de riscos no Brasil, mas por enquanto sem um efeito importante nas projeções de inflação — acrescentou.
Transparência
Analistas do mercado financeiro também monitoravam as notícias sobre a esperada substituição de diretores do Banco Central (BC), mas com expectativas amenizadas pelo histórico de transparência da instituição, que é reforçado pela obtenção da autonomia formal, segundo os executivos do BTG.
— O BC, ao longos de décadas, tem construído um alicerce de confiança institucional que traz segurança aos investidores — concluiu Marcelo Santucci, CIO da área de Porfólio Solution do BTG.