Na data que marca os 133 anos da abolição da escravatura e o Dia Nacional de Denúncia Contra o Racismo, o Brasil tem ainda um longo caminho para se tornar um país racialmente mais igualitário.
Por Redação, com Brasil de Fato - de Brasília
Na data que marca os 133 anos da abolição da escravatura e o Dia Nacional de Denúncia Contra o Racismo, o Brasil tem ainda um longo caminho para se tornar um país racialmente mais igualitário. Este foi um dos temas debatidos na edição desta quinta-feira do Programa Bem Viver, que celebrou a luta do Movimento Negro pela conquista de direitos e pelo combate a discriminação.
– Temos uma narrativa que enfatizou muito a importância do Estado na abolição da escravatura, na qual ela aparece como uma dádiva e não como uma conquista de movimentos sociais e popular. É como se as conquistas do povo brasileiro na verdade fossem concessões, ignorando as disputas que os envolveram. O 13 de Maio também é uma conquista da luta social que se tenta diminuir o significado numa tentativa de fazer pessoas permanecerem sob uma cultura da escravidão – diz o professor da Unicamp Matheus Gato, autor do livro “O Massacre dos Libertos: Sobre Raça e República no Brasil (1888-1889)”.
Para marcar a data, organizações do Movimento Negro realizam diversos atos de protesto, em diferentes locais do país. A Coalizão Negra por Direitos, por exemplo, convoca manifestações para hoje em diversas cidades pelo fim do racismo, do genocídio da população negra, pela construção de mecanismos de controle social da atividade policial e por justiça para as vítimas da chacina a Favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro. “Nem bala, nem fome, nem Covid. O povo negro quer viver!”, diz o manifesto da entidade.
A organização Convergência Negra também realiza ações descentralizadas para debater sobre as condições de vida da população negra no Brasil, convocando para isso representantes políticos e governamentais, como deputados federais, govenadores, presidentes de partidos e lideranças da Frente Brasil Popular e da organização Povo Sem Medo.
Escritoras negras
Inspiradas na autora Maria Carolina de Jesus, 180 escritoras brasileiras se reuniram para produzir uma obra contundente sobre a trajetória e os desafios da população negra no Brasil: o livro Carolinas - A Nova Geração De Escritoras Negras Brasileiras, que reúne relatos fortes e sensíveis sobre as barreiras raciais ainda tão presentes no país. Todo esse material foi organizado a partir da Feira Literária Das Periferias (Flup), realizada no final do ano passado.
Para as escritoras responsáveis pela obra, o livro oferece à população informações críticas e sobre a escravidão de negros no Brasil e sobre o racismo que marca a nossa sociedade.
“Quando a filha nasceu, Jandira havia jurado para si mesma dar um futuro diferente para a pequena, mas a única profissão que havia aprendido era a de empregada doméstica. Agora estava ali, diante da filha, tendo que decidir se alimentava o sonho da garotinha ou se já cortava as asinhas dela ali mesmo, para evitar frustração”, diz trecho de conto que integra o livro, escrito pela autora Aline Lelis.
A trajetória do grupo é baseada no trabalho de Carolina Maria de Jesus, autora brasileira que passou grande parte da vida em São Paulo, na favela do Canindé, que serviu de cenário para seu primeiro livro “Quarto de Despejo, diário de uma favelada”. Narrado em primeira pessoa, na forma de diário, o livro conta o cotidiano da escritora enquanto trabalhava como catadora de material reciclado e criava seus filhos em uma pequena que ela mesma construiu.
A obra foi lançada há 60 anos e ganhou o mundo: foi traduzida em 13 idiomas e lançada em 40 países, explicitando e denunciando a desigualdade social e racial no Brasil e apontando as condições de vida precária dos moradores das favelas.
Leite condensado
A multinacional Nestle usou amplamente seu poder financeiro e de marketing para introduzir o leite condensado da marca como um ingrediente essencial na doçaria brasileira. E esse é um dos temas investigados pelo podcast Prato Cheio, do site O Joio e o Trigo, projeto que investiga exclusivamente a alimentação e suas implicações políticas.
– A empresa contratou equipe para publicar e modificar receitas tradicionais para que fossem feitas com Leite Moça e não mais com leite. É um caso de como empresa usam seu poder para construir hábitos. Uma das estratégias foi criar receitas em que as medidas eram a própria leta do leite condensado – diz o produtor do programa, Vitor Matioli.
A série de podcasts conta com oito episódios e tem como fio condutor a análise das relações entre o poder e a alimentação.
Longe da crise
O balanço econômico dos bancos no primeiro trimestre de 2021 revelou resultados que parecem outra realidade frente a situação do país: apesar do desemprego crescente, da falência de empresas e da inflação em alta os bancos Itaú, o Bradesco e o Santander aumentaram seus lucros.
– O que houve é que, diante de um cenário imprevisível, com a pandemia, os bancos subiram o provisionamento, temendo uma explosão da inadimplência (não pagamento de empréstimos e outros compromissos – explica a economista Vivian Machado, mestre em Economia Política e técnica do Dieese.
O provisionamento são reservas que os bancos criam para cobrir perdas futuras estimadas. No entanto, o cenário para as instituições financeiras foi menos desastroso do que se imaginava, devido a planos emergenciais de crédito lançados pelo Banco Central.
Soma-se a isso o fato de os bancos não terem cumprido o compromisso firmado com sindicatos de não demitir durante a pandemia. Só o Santander e o Bradesco fecharam 10.933 postos de trabalho entre março de 2020 e março de 2021.
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