Por enquanto, a extrema direita bolsonarista se consome em divergências internas e na tentativa de parir uma vociferante candidatura.
Por Luciano Siqueira – de Brasília
Há inúmeras razões para comemorar o desfecho do julgamento dos golpistas — agora cumprindo pena em instalações da Polícia Federal e em quartéis. É a primeira vez na história do país em que militares de alta patente são condenados e levados à prisão por tentativa de golpe.

Mas a complexidade da luta política no país recomenda considerarmos o conjunto das variáveis em presença. A luta segue.
Há de imediato uma missão em certa medida decisiva para os rumos do país, a “vitória do Brasil em 2026. Mudanças para o desenvolvimento soberano”, assim anunciada na resolução política do 16º Congresso do PCdoB.
Nada fácil, ainda que Lula cresça nas pesquisas (agora figurando como favorito no primeiro e no segundo turno) e as hostes oposicionistas estejam temporariamente divididas e desarvoradas.
Na esfera estritamente política, o complexo midiático dominante (enquanto corrente de opinião convergente, na prática o mais influente “partido” político do país) empenha-se no combate cerrado ao governo e na busca de uma candidatura presidencial oposicionista viável, se possível de centro-direita, com o apoio da extrema direita.
Por enquanto, a extrema direita bolsonarista se consome em divergências internas e na tentativa de parir uma vociferante candidatura, talvez um dos filhos do ex-presidente prisioneiro.
Mais do que aparenta no jogo estritamente político, nem a Faria Lima nem Wall Street se conformam com a perspectiva de mais um mandato para Lula.
Capital financeiro
Simbolizam poderosos interesses representados sobretudo pelo capital financeiro – materializado num mercado de capitais considerado o 13º maior do planeta, o 3º em derivativos e o 11º em fundos -, que sustentam a cantilena de que a essência das limitações financeiras do Estado brasileiro se encontra nas despesas primárias (com saúde, educação e programas sociais compensatórios) – cerca de os R$ 40 bilhões este ano, a despeito de que o déficit total nas contas públicas até dezembro deva atingir 1 trilhão e 40 bilhões de reais!
Sobre os gastos com juros, que alcançam RS 1 trilhão, nenhuma palavra.
Tudo a ver com a correlação de forças adversa na Câmara dos Deputados e no Senado. E com a dificuldade de se retomar o desenvolvimento econômico a partir da reindustrialização e de se melhorar o padrão de vida do povo.
Nessas circunstâncias, a ação política “por cima” há que se fazer tão determinada quanto flexível, no intuito de ampliar mais ainda a frente democrática em torno de Lula; e “pela base”, inventiva no sentido de gerar alternativas práticas correspondentes ao tempo presente, mirando a mobilização do povo nos salões, nas redes digitais e nas ruas.
Luciano Siqueira, é médico membro do Comitê Central do PCdoB e secretário nacional de Relações Institucionais, Gestão e Políticas Públicas do partido, foi deputado estadual em Pernambuco e vice-prefeito do Recife.
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