Rio de Janeiro, 05 de Dezembro de 2025

A luta política no Brasil rumo a 2026

Análise da dinâmica política brasileira com foco na consolidação de Lula, divisão da direita e mobilização da esquerda para as eleições de 2026.

Sexta, 26 de Setembro de 2025 às 12:37, por: CdB

A consolidação de Lula, a divisão da direita e a mobilização da esquerda.

Por Leandro do Erre – de Brasília

O cenário político brasileiro atravessa um período de acirramento e reconfiguração de forças, com implicações diretas para as eleições de 2026. Uma análise aprofundada da conjuntura atual revela três movimentos principais que definem a dinâmica do poder: o reposicionamento estratégico do governo Lula, o impasse e a fragmentação do campo conservador, e a retomada da capacidade de mobilização da esquerda. Estes elementos, interligados, desenham um panorama complexo e disputado, cujos desdobramentos merecem atenção.

A luta política no Brasil rumo a 2026 | O presidente Lukla discursa em sessão solene do Congresso Nacional
O presidente Lukla discursa em sessão solene do Congresso Nacional

A consolidação de lula e o reposicionamento do governo

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva tem demonstrado uma notável capacidade de ditar a agenda pública, afastando-se de uma postura reativa para assumir o protagonismo no debate nacional. A implementação de pautas de grande apelo popular, como a isenção do imposto de renda para salários de até R$ 5 mil e a taxação dos super-ricos, sinaliza uma reconexão com as demandas da base da sociedade. Essas medidas não apenas geram impacto econômico direto, mas também funcionam como poderosos instrumentos de comunicação política, permitindo que o governo paute o Congresso e a opinião pública.

Adicionalmente, a firme defesa da soberania nacional em questões econômicas, especialmente em resposta a pressões externas, permitiu a Lula recapturar uma bandeira historicamente explorada pela direita. Ao se posicionar como defensor dos interesses brasileiros, o presidente fortalece sua imagem e amplia seu apelo para além do eleitorado tradicional da esquerda. Este movimento estratégico tem se refletido consistentemente nas pesquisas de opinião, que indicam um crescimento na aprovação do governo e uma vantagem consolidada de Lula em todos os cenários projetados para 2026. A consolidação de sua liderança é um fator que eleva a tensão no campo adversário, forçando-o a reavaliar suas estratégias.

O impasse da direita e a agressividade bolsonarista

Enquanto o campo progressista se fortalece, a direita brasileira enfrenta um impasse significativo. A inelegibilidade de Jair Bolsonaro abriu um vácuo de liderança que ainda não foi preenchido de forma consensual. O nome de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, surge como uma alternativa natural, mas sua transição para a política nacional é complexa. A possibilidade de uma candidatura de Geraldo Alckmin ao governo paulista, por exemplo, introduz um elemento de incerteza, tornando arriscado para Tarcísio abandonar seu posto atual sem a garantia de uma vitória em 2026 ou da manutenção do poder em São Paulo.

Este cenário de indefinição alimenta a radicalização do bolsonarismo, que busca reafirmar sua força e relevância dentro do espectro conservador. A intensificação de discursos agressivos e a defesa de pautas extremas, como a perseguição ideológica a trabalhadores de esquerda, podem ser interpretadas como uma tentativa de demonstrar que nenhuma candidatura de direita pode prosperar sem o seu apoio. Figuras como Silas Malafaia ganham proeminência ao tensionar o debate, buscando consolidar uma base radicalizada e, possivelmente, herdar o capital político de Bolsonaro. A direita, portanto, encontra-se dividida entre a necessidade de um nome viável para a disputa presidencial e a pressão de sua ala mais extremista.

A mobilização da esquerda e os desafios futuros

A esquerda, por sua vez, dá sinais de que está recuperando sua capacidade de mobilização social, um elemento crucial para o sucesso em 2026. Iniciativas como o plebiscito popular nacional, que pautou temas como a redução da jornada de trabalho e o fim da escala 6×1, demonstram a vitalidade dos movimentos sociais e sua habilidade de se reconectar com as pautas dos trabalhadores. Essas ações complementam a estratégia institucional do governo, criando uma sinergia entre o Palácio do Planalto e as ruas.

No entanto, é preciso reconhecer que a mobilização ainda está aquém do necessário para garantir uma vitória tranquila e, mais importante, para sustentar um projeto de transformações profundas no país. As manifestações de 7 de setembro, embora presentes em todo o território nacional, não atingiram a mesma magnitude dos atos da extrema direita em seus momentos de auge. A esquerda tem o desafio de transformar a energia do plebiscito em um movimento contínuo de organização e politização, construindo um programa sólido e popular para 2026. O protagonismo dos movimentos sociais, emulando experiências históricas como a CONCLAT (Conferência Nacional da Classe Trabalhadora) dos anos 80, será fundamental para disputar os rumos do próximo governo e garantir que as pautas populares permaneçam no centro do debate.

Conclusão

O acirramento da luta política no Brasil é fruto de um realinhamento de forças. O governo Lula se consolida ao abraçar pautas populares e a defesa da soberania, enquanto a direita se vê em um impasse, fragmentada e pressionada por sua ala mais radical. A esquerda, por fim, demonstra ter condições de mobilização, mas precisa intensificar seus esforços para construir uma base social sólida para os desafios que virão. A disputa por 2026 já começou, e seu resultado dependerá da capacidade de cada campo em responder a este complexo cenário.

 

Leandro do Erre,  é mestrando em Sociologia e Ciência Política na PUCRS e responsável pelo canal no YouTube “A questão política”. Redes Sociais: X: @leandrodoerre Facebook: Leandro do Erre.

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

Edições digital e impressa