Guiado por Nogueira, o banqueiro mineiro transitou com desenvoltura no meio político e no mercado financeiro nacional.
Por Redação – de Brasília
A prisão do agora ex-banqueiro Daniel Vorcaro, suspeito de montar uma rede de conexões suspeitas com líderes políticos do chamado ‘Centrão’, que reúne parlamentares da direita à extrema direita, torna visível aos olhos dos investigadores da Polícia Federal (PF) a teia de interesses montada para captar recursos bilionários de cofres públicos e investidores privados. No centro das investigações, segundo apurou o jornalista Daniel Weterman, do diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo (OESP), aparece um dos principais ministros do governo de Jair Bolsonaro, o hoje senador Ciro Nogueira (PP-PI).

Guiado por Nogueira, o banqueiro mineiro transitou com desenvoltura no meio político e no mercado financeiro nacional. Segundo a PF, Vorcaro dizia publicamente da importância de “escolher as pessoas com quem se conectar”, princípio que norteava sua atuação e o levou a formar um círculo de poder com políticos de diferentes correntes partidárias.
Os relacionamento construídos ao longo dos últimos anos, no entanto, foram os mesmos que levaram, agora, à liquidação extrajudicial do Master pelo Banco Central (BC) e ao afastamento do presidente do BRB, Paulo Henrique Costa. A aparente certeza da impunidade dá lugar, agora, à realidade da prisão e do sequestro de bens do executivo.
Aliado
Entre os principais contatos políticos de Vorcaro, nenhum outro foi tão relevante quanto Ciro Nogueira, segundo apurou Weterman. O senador foi considerado por interlocutores como o aliado mais próximo do então banqueiro, em Brasília.
Interlocutores de ambos disseram à PF que Nogueira foi consultado antes de o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, autorizar o BRB a avançar nas negociações para adquirir parte do Banco Master e transferir cerca de R$ 12 bilhões à instituição agora dissolvida por ordem do BC.
O grupo político ligado ao senador — que inclui o presidente do União Brasil, Antônio Rueda — articulava apoio a Ibaneis para as eleições de 2026. Nesse esquema, Ciro também teria apadrinhado a escolha de Alexandre Cordeiro para a presidência do Cade, autarquia que classificou a operação como “simples”.
Prisão
Nem Nogueira ou o governador do DF comentaram o caso. Vorcaro e o senador, porém, apareciam juntos com frequência em seminários internacionais, que reúnem políticos e empresários.
As conversas para que o BRB adquirisse parte do Banco Master começaram em novembro do ano passado. Em janeiro, o banco brasiliense iniciou auditorias para avaliar se a operação poderia fortalecer sua atuação em áreas como cartões privados e banco digital.
A proposta, porém, chamou a atenção do BC e se tornou alvo da PF, que identificou fraudes na operação e desencadeou a ação que levou à prisão de Vorcaro.
Articuladores
Outro nome influente que se aproximou do banqueiro foi Fábio Faria, ex-ministro das Comunicações de Bolsonaro, que o apresentou a outros articuladores políticos. O ex-ministro, agora, também preferiu não comentar sobre a relação entre ambos.
Documentos da investigação, no entanto, mostram como uma estrutura de fundos fechados e interligados dificultava rastrear a origem e o destino de aportes bilionários ligados ao empresário.
Ainda segundo documentos que chegaram às redações dos principais diários do país, nesta quarta-feira, a maior parte dos investimentos relacionados ao fundo Hans 95, do qual o Banco Master participava, não ocorria diretamente, mas por meio de outros veículos controlados pelos operadores financeiros, criando uma estrutura de cascata semelhante à já identificada na ‘Operação Carbono Oculto’, que apura lavagem de dinheiro associada à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).