Bolsonaro voltou a criticar o presidente do Inpe. Disse que Ricardo Galvão não falará diretamente com ele, mas pretende designar um ministro para discutir os dados de desmatamento que, na sua opinião, não correspondem à verdade.
Por Redação - de São Paulo
Com mandato assegurado de quatro anos à frente do Instituto Nacional de Pesquisas (Inpe), o seu presidente, Ricardo Osório Galvão, voltou a frisar nesta segunda-feira, que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) teve uma atitude “pusilânime e covarde” ao acusar a instituição de mentir sobre o desmatamento na Amazônia. E, mais uma vez, Bolsonaro voltou a afirmar que “há uma propaganda negativa do Brasil”.
Osório Galvão já havia rebatido, no sábado 20, as críticas de Bolsonaro que o acusou de mentir sobre os dados referentes ao desmatamento e atuar a serviço de uma ONG.
— A questão do Inpe, eu tenho a convicção que os dados são mentirosos, e nós vamos chamar aqui o presidente do Inpe para conversar sobre isso, e ponto final nessa questão — disse Bolsonaro, na véspera.
E emendou:
— Se for somado o desmatamento que falam dos últimos 10 anos, a Amazônia já acabou. Eu entendo a necessidade de preservar, mas a psicose ambiental deixou de existir comigo.
Piada
Bolsonaro, então, voltou a criticar o presidente do Inpe. Disse que Ricardo Galvão não falará diretamente com ele, mas pretende designar um ministro para discutir os dados de desmatamento que, na sua opinião, não correspondem à verdade.
— Eu não vou falar com ele. Quem vai falar com ele vai ser o ministro Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) e talvez também ali o Ricardo Salles (Meio Ambiente). O que nós não queremos é uma propaganda negativa do Brasil. A gente não quer fugir da verdade, mas aqueles dados pareceram muito com os do ano passado — acrescentou.
Galvão, por sua vez, reafirmou nesta manhã que sustenta cada palavra dita, anteriormente e não pretende se demitir do cargo.
— Quando ele tem essas entrevistas com a imprensa ou mesmo em outras manifestações, ele tem um comportamento como se estivesse em botequim. Ou seja, ele fez acusações indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira, não estou dizendo só eu, mas muitas outras pessoas. Isso é uma piada de um garoto de 14 anos que não cabe a um presidente da República fazer — afirmou o cientista, inicialmente.
Série histórica
Galvão também comentou sobre a série histórica de dados produzidos no Inpe:
— Esses dados sobre desmatamento da Amazônia, feitos pelo Inpe, começaram já em meados da década de 70 e a partir de 1988 nós temos a maior série histórica de dados de desmatamento de florestas tropicais respeitada mundialmente.
O pesquisador novamente criticou Bolsonaro:
— Ele já disse que os dados do Inpe não estavam corretos segundo a avaliação dele, como se ele tivesse qualidade ou qualificação de fazer análise de dados.
Filé mignon
O especialista defendeu a sua trajetória de pesquisas e ainda alfinetou o presidente em relação aos benefícios concedidos a um dos filhos, Eduardo Bolsonaro, a quem pretende dar o cargo de embaixador nos EUA.
— O presidente Bolsonaro tem que entender que eu sou um senhor de 71 anos, professor titular da Universidade de São Paulo (USP), membro da Academia Brasileira de Ciências; fui presidente da Sociedade Brasileira de Física durante três anos, membro do Conselho Científico da Sociedade Europeia de Física durante três anos — frisou.
E emendou:
— Todos os diretores dessas unidades de pesquisa não são escolhidos por indicação política ou porque o pai deles quis dar um filé mignon pra eles.
Galvão lembrou, ainda, que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o vem atacando desde o início do mandato, sobre os dados do Inpe e a suspeita é de que haja intenção de transferir o trabalho do órgão para alguma empresa privada.