Rio de Janeiro, 05 de Dezembro de 2025

Possível expulsão não impedirá PM de participar dos atos golpistas

Para analista militar Paes de Souza, as convocações que têm sido feitas para manifestações no dia 7 de Setembro ferem o artigo 11 do regulamento disciplinar da Polícia Militar, que determina infração grave para os agentes que incidirem em “ofensa aos valores e aos deveres policial-militares”.

Quinta, 26 de Agosto de 2021 às 13:27, por: CdB

Para analista militar Paes de Souza, as convocações que têm sido feitas para manifestações no dia 7 de Setembro ferem o artigo 11 do regulamento disciplinar da Polícia Militar, que determina infração grave para os agentes que incidirem em “ofensa aos valores e aos deveres policial-militares”.

Por Redação, com BdF - de São Paulo
Policiais militares que manifestarem publicamente o apoio a atos antidemocráticos, falando em nome da corporação ou usando farda, podem sofrer sanções administrativas e, até mesmo, serem expulsos da corporação, explica Adílson Paes de Souza, tenente-coronel aposentado da Polícia Militar de São Paulo e mestre em Direitos Humanos.
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O coronel Tardilli defende a participação de policiais militares em atos políticos da extrema direita
— O policial militar que convoca para participar de atos com pautas antidemocráticas pode responder por transgressão disciplinar de natureza grave, que pode ensejar a instauração de processo disciplinar, levando, inclusive, à expulsão desse policial da corporação — alerta o oficial. Para o tenente-coronel, as convocações que têm sido feitas para manifestações no dia 7 de Setembro ferem o artigo 11 do regulamento disciplinar da Polícia Militar, que determina infração grave para os agentes que incidirem em “ofensa aos valores e aos deveres policial-militares”.

Punições

No artigo 3, aponta Paes de Souza, está explicita a determinação que pode elevar a pena aos agentes de patente alta. “A violação da disciplina policial-militar será tão mais grave quanto mais elevado for o grau hierárquico de quem a cometer”, diz a legislação, como explica o especialista. — Ele também poderá, em sendo policial da ativa, praticar ato de improbidade administrativa, notadamente pela infração no artigo 11 da lei, que viola os princípios da Constituição. Notadamente, o princípio da impessoalidade e da legalidade, eles podem ser alvo de uma ação civil pública pela prática de ato de improbidade administrativa, onde uma das punições previstas em lei é a perda da função pública — ressalta Paes de Souza. Os agentes da reserva, que estão aposentados, não são alcançados pelo regimento interno da Polícia Militar. No entanto, explica o tenente-coronel, podem ferir a Constituição, quando manifestam apoio a manifestações com pautas antidemocráticas.

Veteranos

Em desconhecimento das regras da PM, o coronel Aleksander Toaldo Lacerda publicou mensagens de apoio a Bolsonaro em suas redes sociais, convocando para a manifestação. “Liberdade não se ganha, se conquista. Dia 7/9 eu vou”, disse ele. Em outra mensagem, o militar acrescenta: “Precisamos de um tanque, não de um carrinho de sorvete”. “Nenhum liberal de talco no bumbum” consegue “derrubar a hegemonia esquerdista no Brasil”, assinalou. Também no domingo, Ricardo de Mello Araújo, ex-comandante da Rondas Ostensiva Tobias Aguiar (Rota), publicou um vídeo convocando os “veteranos da Polícia Militar” para a manifestação. — Nós temos que dia 7 de setembro ajudar o nosso presidente Bolsonaro. A PM de SP participou dos principais movimentos do nosso país (...). Não podemos nesse momento em que o país passa por essa crise, com o comunismo querendo entrar (…). Eu vejo que nós da PM de SP, a força pública, nós devemos nos unir. E no dia sete de setembro, todos os veteranos de SP, devemos estar presente na Avenida Paulista — acrescentou.

Bolsonaristas

O ex-comandante da Rota, batalhão de elite da Polícia Militar de São Paulo, e de diversos regimentos da corporação ao longo de 35 anos de carreira, o coronel reformado Alberto Sardilli é outro que integra a tropa “bolsonarista”. A maioria dos policiais militares rezam na cartilha do mandatário neofascista e, por isso, haverá adesão de policiais, inclusive da ativa, ao ato de 7 de setembro na avenida Paulista. — O presidente é militar, a tropa se identifica com essa questão, ele preza valores que são os da PM há 200 anos — continuou Sardilli, atualmente chefe de gabinete do deputado estadual paulista Frederico D’Avila (PSL). Ele também saiu em defesa do coronel Aleksander Lacerda, que foi afastado da função de comando após o apoio ao 7/9, e diz que a punição aplicada pelo governador João Doria (PSDB) gerou revolta na corporação. Sardilli diz ainda que a PM é comprometida com a democracia, mas que apoiará as Forças Armadas caso se chegue ao “limite extremo” de uma intervenção.
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