Quinta, 14 de Fevereiro de 2019 às 10:47, por: CdB
O foco da ação é um esquema de lavagem de dinheiro do grupo, que seria chefiado por Zinho. A Justiça autorizou o sequestro e bloqueio de R$ 4 milhões em imóveis de alto padrão comprados por suspeitos de integrar o grupo, com dinheiro supostamente proveniente de atividades criminosas.
Por Redação, com ABr - do Rio de Janeiro
Policiais civis cumpriram nesta quinta-feira) 20 mandados de prisão e 18 de busca e apreensão contra suspeitos de integrar a milícia conhecida como Liga da Justiça.
Entre os alvos da ação estão Wellington da Silva Braga, o Ecko, e seu irmão, Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho, apontados como líderes do grupo que é umas das principais milícias do estado do Rio de Janeiro.
O foco da ação é um esquema de lavagem de dinheiro do grupo, que seria chefiado por Zinho. A Justiça autorizou o sequestro e bloqueio de R$ 4 milhões em imóveis de alto padrão comprados por suspeitos de integrar o grupo, com dinheiro supostamente proveniente de atividades criminosas.
A operação é coordenada pelo Departamento Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e a Lavagem de Dinheiro, com apoio do Departamento Geral de Polícia da Capital, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco), da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e de policiais militares.
Intervenção
Relatório do Observatório da Intervenção, vinculado ao Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes (CESeC/Ucam), sobre as ações das forças de segurança no Rio de Janeiro, mostra que R$ 1,2 bilhão foram aplicados nos 10 meses de atuação dos agentes no Rio de Janeiro.
“Durante os dez meses que a gente acompanhou toda a intervenção federal, a gente teve olhar específico para operações que desde o começo se mostraram grandiosas com mais de mil, três mil, quatro mil homens, com resultados pouco expressivos”, disse à Agência Brasil o coordenador de Pesquisa do Observatório da Intervenção, Pablo Nunes.
Para Pablo Nunes, o investimento foi grande, mas sem todos os resultados esperados. Com base em informações do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio, o relatório mostra que a letalidade violenta caiu no estado, durante a intervenção federal, de 569 casos, em fevereiro, para 447 casos, em dezembro passado.
Os homicídios dolosos, ou seja, com intenção de matar, caíram de 441 para 341, acumulando no período total pesquisado 4.468 homicídios, queda de 8,2% em comparação a igual período de 2017.
Agentes do Estado
As mortes por ação de agentes do Estado caíram de 102, em fevereiro, para 88, em dezembro. No acumulado dos 320 dias da intervenção, entretanto, somaram 1.375 mortes, mais 33,6% do que o verificado em 2017, no mesmo período.
O monitoramento do Observatório destaca também o elevado nível de mortes de policiais, que subiu de 3, em fevereiro, para 5 em dezembro, com total de 99 entre o início e o fim da intervenção federal no Rio.
Os roubos de rua, que afetam a percepção de segurança da população de forma direta, aumentaram 1% no estado, em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com o Observatório da Intervenção. O total de roubos de rua, envolvendo pedestres, coletivos e assaltos de aparelho celular, diminuiu de 10.433, em fevereiro, para 9.802, em dezembro de 2018.
Monitoramento
Nos dez meses da intervenção federal na segurança pública no estado, o observatório do CESeC/UCAM monitorou o Diário Oficial, jornais impressos e na internet, perfis e páginas de redes sociais, bases de dados oficiais, como do Instituto de Segurança Pública (ISP).
Neste período, foram coletadas informações pelas iniciativas parceiras DefeZap, FogoCruzado e Onde Tem Tiroteio (OTT-RJ), além de rede de ativistas de diferentes favelas da região metropolitana.
Confrontos
O documento mostra que as mortes violentas em confrontos caíram 1,7% entre 16 de fevereiro e 31 de dezembro do ano passado, em comparação a igual período de 2017, somando 6.041 pessoas mortas.
O CESeC, no entanto, chama a atenção que, embora tenham sido registradas reduções de 9,4% e de 6,5 % nas mortes violentas na capital e na Baixada Fluminense, respectivamente, houve aumento da violência no interior, da ordem de 15,8%.
Impactos
Segundo o Observatório da Intervenção, os tiroteios e disparos de armas de fogo cresceram 56,6% durante a intervenção federal na segurança pública, contra diminuição de 8,2% na apreensão de armas longas.
No relatório, há observações sobre como são os impactos desses tiroteios na vida dos cidadãos, afetando escolas, creches, postos de saúde, setor de transportes e, o mais preocupante, acarretando ferimentos e mortes de inocentes por balas perdidas.
De acordo com Pablo Nunes, quanto maior for o número de operações e de agentes, maior será o total de tiroteios, mortes pela polícia e balas perdidas. “As escolas fecham, as pessoas não conseguem ir trabalhar, acaba a luz. Há transtornos que são violências cotidianas também causadas por esses confrontos e disparos.”
Cargas
Para os integrantes do observatório, o Gabinete da Intervenção Federal (GIF) focou na redução de crimes contra o patrimônio, em especial o roubo de cargas, que registraram queda no estado 17,2% entre fevereiro e dezembro, enquanto teria ocorrido elevação desse tipo de roubo na Grande Niterói (19,1%) e no interior do estado (46,5 %), o que evidenciaria o deslocamento do crime para o interior fluminense.
O Observatório da Intervenção analisa que o movimento de repressão do GIF a roubos de carga registrado a partir de março foi interrompido no final do ano, voltando os números a subir entre outubro e dezembro de 2018.
–(Houve) aumento no roubo de carga em relação ao ano e até em relação a 2017, porque a intervenção investiu em operações ostensivas para coibir roubos de carga nas operações e nas grandes vias do Rio de Janeiro – disse Pablo Nunes.
O cientista social lembrou que é preciso acompanhar a cadeia que envolve este tipo de crime com “operações de inteligência para entender [não só] quem rouba, mas também quem recebe esse material roubado, quem distribui e quem compra porque roubo de carga é uma cadeia completa”.
GIF
O chefe da Comunicação Social do Comando Militar do Leste (CML), coronel Carlos Cinelli, ressaltou que GFI foi desativado e, portanto, concluída a tarefa. “O posicionamento do GIF é que os números da intervenção foram todos informados por ocasião do término da operação. Agora, não caberiam mais comentários, haja vista a intervenção já ter sido concluída”, afirmou.
A coordenadora do Observatório da Intervenção, Silvia Ramos, avaliou que a entrada de generais no comando da segurança pública foi recebida com esperança por boa parte da população.
Advertiu, contudo, que “o uso reiterado de tropas do Exército Brasileiro em crises de segurança produz o risco de desgastar a imagem das Forças Armadas”. Para Silvia, o modelo militar intervencionista foi pouco efetivo diante de instituições policiais do estado que “necessitam de reformas estruturais, combate à corrupção e choque de eficiência em inteligência”.
Para o Observatório da Intervenção, o alerta deve ser que nos 320 dias da intervenção, houve casos que ficaram sem solução, como os crimes na Rocinha, Maré e Cidade de Deus; as mortes e denúncias de tortura em operação no Complexo da Penha, em 20 de agosto de 2018, que resultaram em oito mortos, entre os quais três militares do Exército.