Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

O poeta canta a liberdade

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Sexta, 23 de Abril de 2021 às 07:05, por: CdB

 

O 25 de abril é uma data feliz para a Humanidade, pois celebra a liberdade. Os romanos chamavam uma data auspiciosa de felix dies ou dies mirabilis. Na Itália, a efeméride celebra a libertação nacional do fascismo e do nazismo, conforme declaração da Resistência em 1945. Era essa liderada pelas Brigadas Garibaldi, do Partido Comunista Italiano (PCI), por sua vez capitaneado pelo grande e inesquecível estadista, Palmiro Togliatti.

Por António Paixão – de Brasília

O 25 de abril é uma data feliz para a Humanidade, pois celebra a liberdade. Os romanos chamavam uma data auspiciosa de felix dies ou dies mirabilis. Na Itália, a efeméride celebra a libertação nacional do fascismo e do nazismo, conforme declaração da Resistência em 1945. Era essa liderada pelas Brigadas Garibaldi, do Partido Comunista Italiano (PCI), por sua vez capitaneado pelo grande e inesquecível estadista, Palmiro Togliatti. Uma constituição democrática foi promulgada em 1946. Em 1974, naquele mesmo dies mirabilis de 25 de abril, era derrubado o Estado Novo em Portugal, regime fascista sombrio, cruel, opressor e imperialista, que vigorava desde 1933. As forças democráticas foram lideradas pelos estadistas Álvaro Cunhal, do Partido Comunista Português (PCP), e Mário Soares, do Partido Socialista (PS). Esse foi casado com Maria de Jesus Barroso, extraordinária política humanista. Uma nova constituição de 1976 estabeleceu o estado de Direito e a democracia no país. Foi abolido o imperialismo opressor.
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O 25 de abril é uma data feliz para a Humanidade, pois celebra a liberdade
Como o grande antifascista que é, o Poeta sempre celebrou a data em refinado estilo, com vinhos italianos e portugueses, como se deve. Demande de la dignité. Para o ano de 2021, apesar de todas as dificuldades impostas pelo regime fascista do Capetão de Coturno, o Bardo do Bixiga não se intimidou e declarava todos os dias naquela semana, aos quatro ventos, desde a janela de sua maloca no Bom Retiro: “Viva o 25 de Abril, viva a democracia, abaixo o fascismo e fora Bolsonaro”! Isso religiosa e pontualmente às 19:00 horas, mais ou menos. Neste mister, tinha o apoio de sua mulher, também antifascista, a sorveteira napolitana, Gigi Dell’Amore. “Vou fazer uma pizza de bacalhau”, informou a Gigi, com aquela voz de comando da Bismark do Borgo Santa Lucia. “Pizza de bacalhau?”, indagou o Poeta com estupefação. “Mas se não temos sequer um forno aqui em nossa maloca no Bixiga…”

Criatividade, persistência e valor

“É preciso criatividade, persistência e valor para derrotar o fascismo. Temos uma frigideira e um fogareiro. Temos também gás de cozinha, um luxo nestes dias sombrios. É o que basta! A pizza de bacalhau homenageia, ao mesmo tempo, a Itália e Portugal”. “Oh, raios. É verdade! Vamos então comemorar!”, respondeu o Vate da Gaviões já vislumbrando a oportunidade de antecipar o consumo das 12 garrafas de vinho que havia ganho do publicitário Ruy Nogueira. “Irei aproveitar a ocasião para consumir com moderação minhas garrafas do Douro Quinta do Caleiro. Sim, aquelas mesmo que você escondeu”. “Escondi, sim, porque conheço o bebum que tenho em casa”, maliciosamente respondeu em erro e com a típica crueldade a misantropa Gigi. “De mais a mais, você só é moderado em abrir a sua mão de vaca para me dar parte dos mil euros que ganhou com a entrevista ao banqueiro. Che cavolo”! “Saiba só Gigi, que minha santa mãezinha, Dona Mapá, tenha-a Deus em sua infinita compaixão e misericórdia, me ensinou que a virtude está no meio termo. Os filósofos gregos, inclusive Sócrates, Platão e Aristóteles promoveram a moderação. Horácio, o grande poeta romano, a celebrou em versos nas Odes (II,10,5) e a denominou aurea mediocritas, que significa a frugalidade. Você precisa de dinheiro para quê”? “Para comprar arroz e sabão, por exemplo. Mannaggia la miseria”! “Gigi, não tratemos do despiciendo, do desnecessário e do desdenhável, in vino veritas semper”, teve ainda tempo de comentar o Menestrel da Fiel antes de levar o rolo de macarrão na cabeça. Ao acordar, a doce Gigi lhe aplicava salmoura na parte afetada, tradicional terapia de Dona Mapá, à qual já estava tristemente habituado. “Desculpe-me, Passione. Acho que me excedi. Scusami. Não acontecerá novamente, salvo se necessário. Hahaha”. “Menos mal”. “O seu editor do Portal Vermelho, o Camarada Inácio, retransmitiu pelo Zap um texto dirigido a si por uma leitora de São José do Rio Preto com referência ao seu novo livro, ‘Annus Horribilis – 2020’. Foi enviado para mim porque você insiste em só ter o Wechat. Che schifo”! “De Rio Preto, aquela outrora formidável cidade do interior de São Paulo, que nas últimas eleições votou em peso no desaurido Dudu Diabrete e na desatinada Janaína das Dores? Coisa boa não deve ser”. “Infatti. Vem de uma tal Roseane Borrsonetti e diz o seguinte: ‘ô seo fiu duma égua barranquerra. Ocê arresorrveu escrrevê um livrru pra falá marr du Missias. Qui merrda. Pricisa di um rolu di paper higeniCú prra limpá tuda a bosta lá. Qui bom qui o Missias vai acabá cum tudu us livrru. Nun servi mermu prra porrra ninhuma. O Missias vai taméim acabá cum essi povin di merrda i cum ocê taméim, verrmeiu du carrai. Jesus na carrsua. O verrmeiu é a cor dus petrraia, dus Cúmuna e dus diabu’”. “Essa gente não muda nem com o genocídio do povo brasileiro a estarrecer o mundo. Que horror”, observou com propriedade o Poeta. E continuou: “Gigi, foi bom que você tenha mencionado o Camarada Inácio, porque devo lhe comunicar que sairei para uma licença sabática por prazo indeterminado e que não poderei, por algum tempo, enviar minha coluna”.
“Licença sabática? Mas a sua vida é um eterno sábado, Passione! Você não irá lhe informar que foi contratado para ser um poste de luz? Ntiempo’e tempestaogne pertuso è porte (¹). Hahaha”.
“Por ora, não. Tudo em sua hora. O tempo tudo esclarece, explica ou resolve”, respondeu enigmática, lacônica e melancolicamente o Vate do Timão. “Au revoir, mes enfants”. (1) Ditado napolitano que diz “na tempestade, qualquer buraco é porto”.  

António Paixão, é jornalista desempregado, enólogo voluntário, humanista, inspirado poeta, comunista e corintiano.

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

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