Procurador-geral da República, Paulo Gonet sublinhou a complexidade do caso e indicou que a decisão pode demorar. Gonet participou de um fórum jurídico, em Lisboa, quando comentou o assunto.
Por Redação – de Brasília
O grupo de nove procuradores nomeados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) iniciou, nesta segunda-feira, a análise do relatório da Polícia Federal (PF) que indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 36 suspeitos de tramar e colocar em curso o plano de golpe de Estado fracassado no dia 8 de Janeiro. O documento, que chegou à PGR há seis dias, contém cerca de 900 páginas.
Após receber o documento, encaminhado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), os procuradores decidirão se Bolsonaro e os demais indiciados serão denunciados pelos crimes de organização criminosa, abolição do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. Além do ex-presidente, ex-ministros de seu governo e 27 militares constam entre os envolvidos na trama golpista.
Procurador-geral da República, Paulo Gonet sublinhou a complexidade do caso e indicou que a decisão pode demorar. Gonet participou de um fórum jurídico, em Lisboa, quando comentou o assunto.
— O caso precisa de um ‘estudo mais aprofundado’ e a resposta provavelmente não será divulgada este ano, mas em 2025 — afirmou Gonet à rede norte-americana de TV CNN.
Joias sauditas
Além das acusações relacionadas ao golpe de Estado, Bolsonaro também enfrenta indiciamentos em dois outros casos capazes de levá-lo à cadeia. Em março deste ano, foi acusado de fraude no cartão de vacinação da covid-19. Já em julho, foi indiciado por envolvimento no caso das joias sauditas, presenteadas ao governo brasileiro e, posteriormente, negociadas nos Estados Unidos.
Somados, os três inquéritos podem resultar em penas máximas de até 70 anos de prisão, caso o ex-mandatário neofascista seja julgado culpado pelos crimes cometidos.
O inquérito sobre o golpe de Estado, no entanto, é de longe a mais grave das acusações contra ex-presidente. Especialistas apontam que a decisão da PGR será crucial não apenas para o futuro político de Bolsonaro, mas também para a definição de parâmetros sobre o combate a ameaças à democracia no Brasil.
Militares
Diante dos fatos apresentados, a estratégia de defesa de Bolsonaro (PL) entende a necessidade do distanciamento máximo da tentativa de derrubada do atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT0. Mas, ao se distanciar da intentona golpista, Bolsonaro transfere a responsabilidade para os militares que se juntaram à organização do golpe.
A linha de defesa de Bolsonaro, então, resulta diretamente em complicações jurídicas ainda mais grave para seus seguidores, na tentativa de salvar a própria pele.
— Bolsonaro está rifando os militares — afirmou à jornalista Andrea Sadi, do canal de TV por assinatura Globonews, um dos integrantes das Forças Armadas indiciados pela tentativa de golpe, que preferiu manter anonimato.
Plano golpista
A crítica ocorre em resposta à entrevista de Paulo Cunha Bueno, advogado de Bolsonaro, que, na sexta-feira, declarou que os principais beneficiários do golpe seriam os militares, com a criação de uma junta militar após a morte de líderes políticos, incluindo o presidente Lula (PT) e seu vice, Geraldo Alckmin (PSB).
Cunha Bueno alegou que, conforme o plano de um dos generais envolvidos, Mário Fernandes, Bolsonaro não faria parte da junta e, portanto, não se beneficiaria do golpe.
— Quem seria o grande beneficiado? Segundo o plano do general Mário Fernandes, seria uma junta que seria criada após a ação do Plano Punhal Verde e Amarelo, e nessa junta não estava incluído o presidente Bolsonaro — resumiu o advogado, na tentativa de isentar o ex-presidente da conspiração criminosa.