Os diálogos foram apreendidos pela Polícia Federal (PF) durante a Operação Spoofing, uma investigação relacionada ao hackeamento de procuradores e do ex-juiz parcial e incompetente Sergio Moro (União Brasil-PR), hoje senador.
Por Redação - de Brasília
Durante um período de mais de três anos, o ex-procurador e ex-deputado Deltan Dallagnol conduziu negociações secretas com as autoridades dos Estados Unidos para estabelecer um acordo sobre a divisão dos valores que seriam cobrados da Petrobras em multas e penalidades decorrentes de casos de corrupção. Essas negociações não contaram com a participação da Controladoria-Geral da União (CGU), instância competente, por Lei, para tais questões.
As conversas ocorreram por meio do aplicativo Telegram e não foram oficialmente registradas, envolvendo procuradores suíços e brasileiros. Tais interações foram motivadas pelo papel das autoridades de Berna na busca, confisco e detalhamento das contas utilizadas como destino para as propinas investigadas no âmbito da Operação Lava Jato. No entanto, ambos os lados consideraram estratégico envolver também a Justiça dos Estados Unidos, que estava conduzindo sua própria investigação sobre o caso.
Os diálogos foram apreendidos pela Polícia Federal (PF) durante a Operação Spoofing, uma investigação relacionada ao hackeamento de procuradores e do ex-juiz parcial e incompetente Sergio Moro (União Brasil-PR), hoje senador, no caso amplamente conhecido como Vaza Jato. Os dados foram apurados pelos jornalistas Jamil Chade, do UOL, e Leandro Demori.
Reunião
Em 29 de janeiro de 2016, Dallagnol comunicou aos suíços o resultado dos primeiros contatos estabelecidos por ele com as autoridades norte-americanas, conforme revelado nos registros obtidos pela investigação: "meus amigos suíços, acabamos de ter uma reunião introdutória de dois dias com a Comissão de Valores Mobiliários (SEC) dos EUA. Tudo é confidencial, mas eu disse expressamente a eles que estamos muito próximos da Suíça e eles nos autorizaram a compartilhar as discussões da reunião com vocês".
Na sequência, Dallagnol resume a reunião:
"Proteção às testemunhas de cooperação: eles protegerão nossos cooperadores contra penalidades civis ou restituições; Penalidades relativas à Petrobras. O pano de fundo: O DOJ e a SEC aplicarão uma penalidade enorme à Petrobras, e a Petrobras cooperou totalmente com eles. Eles não precisariam de nossa cooperação, mas isso pode facilitar as coisas e, se cooperarmos, entendemos que não causaremos nenhum dano e poderemos trazer algum benefício para a sociedade brasileira, que foi a parte mais prejudicada (e não os investidores dos EUA).
“Como estávamos preocupados com uma penalidade enorme para a Petrobras, muito maior do que tudo o que recuperamos no Brasil, e preocupados com o fato de que isso poderia prejudicar a imagem de nossa investigação e a saúde financeira da Petrobras, pensamos em uma solução possível, mesmo que não seja simples. Eles disseram que se a Petrobras pagar algo ao governo brasileiro em um acordo, eles creditariam isso para diminuir sua penalidade, e que o valor poderia ser algo como 50% do valor do dinheiro pago nos EUA”, conclui.