Rio de Janeiro, 05 de Dezembro de 2025

Orquestra da Maré do Amanhã celebra 15 anos em fase de expansão

A Orquestra da Maré do Amanhã, fundada em 2010, celebra 15 anos transformando vidas com música e educação. Descubra sua trajetória e impacto.

Segunda, 01 de Dezembro de 2025 às 14:48, por: CdB

Projeto criado pelo jornalista Carlos Eduardo dos Prazeres em memória ao pai, reúne 4 mil alunos.

Por Redação, com Agenda do Poder – do Rio de Janeiro

Depois de começar em um Ciep da Maré, na Zona Norte do Rio, com 26 alunos e poucos instrumentos, a Orquestra Maré do Amanhã se tornou uma rede com mais de 4 mil estudantes, turnês internacionais e um núcleo na Amazônia. Em 2025, o projeto que redesenhou a trajetória de um dos maiores complexos do Rio completa 15 anos de existência na próxima sexta-feira.

Orquestra da Maré do Amanhã celebra 15 anos em fase de expansão | Em crescimento, Orquestra da Maré do Amanhã completa 15 anos
Em crescimento, Orquestra da Maré do Amanhã completa 15 anos

A história da Orquestra Maré do Amanhã começa muito antes de sua primeira nota. Em janeiro de 1999, o carro do maestro português Armando Prazeres foi encontrado abandonado, com marcas de sangue, perto do Complexo da Maré. Dias depois, a polícia confirmou sua morte. 

O episódio interrompeu toda uma carreira marcada por corais, concertos ao ar livre e pela regência que emocionou o Rio na missa campal do Papa João Paulo II, no Aterro do Flamengo, em 1980.

Para o filho, Carlos Eduardo Prazeres, aquele crime abriu uma ferida profunda e uma pergunta que levaria anos para encontrar resposta.

A resposta veio em 2010, dentro de um Ciep da Baixa do Sapateiro. Ali, Carlos reuniu 26 crianças com pouco ou nenhum acesso a instrumentos e um objetivo simples e ambicioso ao mesmo tempo: criar uma orquestra que pudesse abrir caminhos profissionais para jovens da Maré.

No início, as aulas aconteciam em um contêiner no pátio da escola. As primeiras escalas, acordes e a primeira apresentação surgiram em poucos meses, com seis performances realizadas no fim de 2010. O desempenho mostrou que aquele grupo poderia ir além do improviso e da força de vontade.

A virada ocorreu quando o projeto apareceu no programa Caldeirão do Huck, da TV Globo, pedindo apoio para que a iniciativa seguisse em frente. A exposição atraiu o primeiro grande patrocinador, em 2012. Com o novo fôlego, a orquestra ampliou o número de alunos, incorporou instrumentos como viola e contrabaixo e estruturou melhor suas atividades.

Os anos seguintes consolidaram uma rede que hoje se espalha pelo território e aterrissou recentemente na Amazônia, na Região Norte. A Orquestra se tornou Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Rio, presente em 24 Espaços de Desenvolvimento Infantil, creches municipais e seis escolas do ensino fundamental. 

Como os alunos participam?

A porta de entrada costuma ser a pré-escola, onde todas as crianças matriculadas em EDIs da Maré recebem aulas de musicalização. Quem demonstra interesse segue para as orquestras mirins do ensino fundamental. Depois, entra nas turmas da sede da OMA, onde recebe bolsa de estudo, acompanhamento psicológico, plano de saúde e atendimento fisioterápico.

Os estudantes que avançam passam para a Orquestra Juvenil e, mais tarde, para a camerata, grupo principal, onde recebem formação no Método Suzuki, aprimoram técnica e se aproximam da rotina profissional. 

A etapa final os transforma em multiplicadores: jovens que agora ensinam outras crianças, e fecham o ciclo que sustenta o projeto. O rendimento pode chegar a dez vezes a renda média da Maré, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV). 

144 mil trajetórias

O impacto alcança cerca de 144 mil pessoas, e 85% de seus beneficiários são pessoas pretas ou pardas. Depois de quatro turnês internacionais e uma recente série de concertos em Pequim, os músicos da Orquestra da Maré do Amanhã ou OMA, como é conhecida, já levaram a música para 10 países. 

Também chegaram à Amazônia, onde um segundo núcleo funciona em Oriximiná/Porto Trombetas, atendendo crianças quilombolas e ribeirinhas.

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