O mundo voltou atrás 15 anos, com níveis de má nutrição comparáveis àqueles de 2008 e 2009, e arrisca descumprir o segundo objetivo do desenvolvimento sustentável, que é zerar a fome até 2030.
Por Redação, com ANSA – de Genebra
Cerca de 733 milhões de pessoas passaram fome no mundo em 2023, o que significa um indivíduo a cada 11 habitantes do planeta, proporção que chega a um para cinco na África.
Os dados estão no último relatório das Nações Unidas (ONU) sobre a segurança alimentar global, divulgado nesta quarta-feira, à margem da reunião ministerial da força-tarefa para a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza do G20, no Rio de Janeiro.
Segundo o documento, o mundo voltou atrás 15 anos, com níveis de má nutrição comparáveis àqueles de 2008 e 2009, e arrisca descumprir o segundo objetivo do desenvolvimento sustentável, que é zerar a fome até 2030.
Apesar de alguns progressos em áreas específicas, como amamentação no peito e atraso no crescimento, um número alarmante de pessoas continua enfrentando insegurança alimentar e subnutrição.
Os níveis de fome em nível mundial estão estáveis há três anos seguidos, com o número de subnutridos entre 713 e 757 milhões em 2023, aproximadamente 152 milhões a mais que em 2019, diz o relatório elaborado pelas agências FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), Fida (Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola), Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), PMA (Programa Mundial de Alimentos) e OMS (Organização Mundial da Saúde).
Tendências regionais
As tendências regionais variam de modo significativo: a parcela da população com fome aumentou na África, chegando a 20,4%, manteve-se estável na Ásia (8,1%) e mostrou progresso na América Latina (6,2%).
Se as tendências atuais se mantiverem, cerca de 582 milhões de pessoas sofrerão de subnutrição crônica até 2030, metade delas na África, uma projeção muito próxima dos níveis observados em 2015, quando foram adotados os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
O relatório destaca que o acesso a uma nutrição adequada continua inatingível para bilhões de pessoas. Em 2023, aproximadamente 2,33 bilhões de indivíduos em todo o mundo enfrentaram insegurança alimentar moderada ou grave, número que não mudou significativamente desde o aumento acentuado observado em 2020 por conta da pandemia de covid-19.
A insegurança alimentar e a subnutrição se agravaram devido a uma combinação de fatores, incluindo a inflação persistente dos alimentos, os conflitos, a crise climática e as crises econômicas cada vez mais frequentes.
Quanto ao “financiamento para acabar com a fome, a insegurança alimentar e todas as formas de desnutrição”, o relatório destaca a importância de uma abordagem multifacetada e que inclua a transformação e o fortalecimento dos sistemas agroalimentares, o combate às desigualdades e a garantia de dietas saudáveis e acessíveis para todos.