Visita do presidente brasileiro ao país passa por Cidade Sagrada ocupada por israelenses desde 1967. Autoridade palestina tacha de "totalmente inaceitável" decisão ligada a eventual transferência de embaixada brasileira.
Por Redação, com DW - de Brasília
A integrante do Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) Hanan Ashrawi considerou "totalmente inaceitável" o gabinete do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, incorporar uma visita a Jerusalém Oriental como parte de sua estadia oficial em Israel. Segundo o programa da estada que se inicia neste domingo, o presidente visitará na segunda-feira a basílica do Santo Sepulcro, o templo mais sagrado para o cristianismo, e o Muro das Lamentações, local máximo de culto para os judeus. – Jerusalém Oriental é território palestino ocupado – declarou Ashrawi, condenando especialmente o fato de o gabinete de Bolsonaro mencionar sua visita ao Santo Sepulcro como parte da sua estadia em Israel. Ele frisou que os palestinos são "os descendentes da tradição cristã mais antiga", com cerca de 2 mil anos de história. Oficialmente, o Brasil não reconhece a soberania israelense sobre Jerusalém Oriental e Cisjordânia, territórios ocupados desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Bolsonaro embarcou neste sábado para Israel, com uma comitiva integrada por ministros, deputados, senadores e militares, para uma estada oficial de quatro dias. Nela se reunirá com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, com quem consta ter uma boa sintonia, e deve firmar até quatro cooperação com o governo local, em áreas como defesa, serviços aéreos, saúde e ciência e tecnologia. Além disso insinuou-se há poucos dias a possibilidade de que anuncie a abertura de um escritório de negócios em Jerusalém, primeiro passo antes de decidir se transferirá ou não a embaixada brasileira para a Cidade Sagrada. A decisão poderá acarretar dificuldades adicionais na relação do país com os palestinos, que reivindicam Jerusalém Oriental como capital de seu futuro Estado. Ashrawi declarou à agência espanhola de notícias EFE ver tal possibilidade com preocupação, acrescentando que as autoridades palestinas não receberam nenhuma oferta para se reunir com o governo brasileiro durante a visita do presidente à região. A dirigente palestina advertiu que Bolsonaro não deveria seguir os passos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que no fim de 2017 reconheceu Jerusalém como capital de Israel. Em maio seguinte, ele inaugurou a embaixada americana na cidade, numa polêmica mudança que rompeu com o consenso internacional sobre a Cidade Sagrada.