Guerra na Ucrânia foi tema central de discurso do líder alemão ao Parlamento do país. Chanceler federal criticou imperialismo de Putin e disse que "amor à paz" não significa submissão a vizinho maior.
Por Redação, com DW - de Berlim
Em discurso ao Parlamento alemão (Bundestag) nesta quinta-feira, o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, pediu à China que não apoie a Rússia com armas na guerra contra a Ucrânia.
– Minha mensagem para Pequim é clara: use sua influência em Moscou para pressionar pela retirada das tropas russas. Não envie armas ao agressor – ressaltou. Scholz acrescentou ainda que espera que a China discuta o seu plano de paz com os principais interessados: o povo ucraniano e o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky.
O discurso ocorreu um ano depois de Scholz anunciar uma Zeitenwende (mudança de era ou paradigma, ponto de inflexão), após a Rússia invadir a Ucrânia. Na ocasião, o chanceler prometeu um fundo especial de 100 bilhões de euros para modernizar as Forças Armadas da Alemanha (Bundeswehr).
Meses depois, a proposta foi aprovada pelo Bundestag. Em junho do ano passado, a oposição de centro-direita uniu forças com os partidos do governo no Parlamento para aprovar uma mudança constitucional e permitir a dívida adicional – algo inédito na história da República Federal da Alemanha.
Assim como há um ano, a guerra na Ucrânia foi o tema predominante no discurso de Scholz ao Bundestag nesta quinta. O chanceler iniciou sua fala enfatizando a importância do apoio contínuo à Ucrânia e rejeitou os apelos do presidente russo, Vladimir Putin, para negociações de paz. "Não se pode negociar com uma arma apontada para a cabeça."
Scholz pediu ainda que a Rússia restabeleça o direito internacional e destacou que nada indica que Putin estaria disposto a negociar. "Não haverá acordo de paz sem o envolvimento do povo ucraniano", destacou.
Críticas ao imperialismo russo
O chanceler enfatizou também que coragem é necessária para a paz e destacou, ao justificar a postura clara que foi assumida pela comunidade internacional, que é crucial que "não seja permitido que o imperialismo de Putin triunfe".
Ele defendeu o direito à soberania da Ucrânia e criticou o polêmico protesto promovido em Berlim contra o fornecimento de armas a Kiev, que contou com a participação de radicais de extrema direita e de esquerda no último fim de semana. O ato foi convocado pela controversa líder da ala comunista do partido A Esquerda, Sahra Wagenknecht, e pela autora e ativista Alice Schwarzer, ícone do feminismo alemão, que nos últimos tempos tem se destacado por defender inclusive posições mais identificadas com a direita mais conservadora.
– Não se alcança paz quando se grita em Berlim ‘guerra nunca mais' e, ao mesmo tempo, se exige a suspensão do envio de armas à Ucrânia. O amor pela paz não significa submissão a um vizinho maior. Se a Ucrânia parasse de se defender, então, não seria paz, mas o fim da Ucrânia – disse Scholz.
O chanceler lembrou ainda que a Alemanha é o país que está treinando a maior quantidade de soldados ucranianos e agradeceu à Bundeswehr por seus serviços.
Ele destacou que o governo alemão continuará apoiando Kiev com armamentos. "O governo que eu lidero nunca toma decisões sobre envio de armas levianamente."
Mais dinheiro para defesa
Scholz também disse que estava colocando fim aos anos de negligência com as Forças Armadas e prometeu que a Alemanha investirá 2% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em defesa, meta estabelecida pela Otan que vinha sendo deixada de lado por governos anteriores. Para isso, é necessário que o país aumente o volume destinado para tal no orçamento.
Ele também mencionou os esforços de seu governo para a independência alemã da Rússia no fornecimento de gás, ao buscar fornecedores alternativos. "Conseguimos sobreviver ao inverno mesmo sem o fornecimento de gás russo", destacou, acrescentando que, até 2030, a Alemanha visa gerar 80% de sua energia a partir de fontes renováveis.