Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Um número maior de japoneses enfrenta a solidão, na velhice

Arquivado em:
Domingo, 15 de Dezembro de 2024 às 17:18, por: CdB

Segundo o relatório, 10,8 milhões de pessoas com 65 anos estarão vivendo sozinhas em 2050, um aumento de 50% em relação ao número de 2020.

Por Redação, com DW – de Tóquio

Aos 85 anos, no dia 30 de novembro, a japonesa Ikuko Arai finalmente se aposentou. Ela afirma estar feliz após deixar sua função em uma organização da sociedade civil em Tóquio, mas também se sente bastante preocupada. Arai vive sozinha desde a morte do marido, há 16 anos, e teme que a aposentadoria a deixe isolada e sujeita ao que os japoneses chamam de “morte solitária”. 

japonesas.jpg
Na velhice, principalmente as mulheres preferem ter seu próprio apartamento

Essa é uma preocupação comum em um país com uma população que envelhece rapidamente. Um relatório publicado pelo Instituto Nacional de Pesquisa sobre População e Segurança Social do Japão, no final de novembro, concluiu que os lares unipessoais representarão 44,3% do total do país até 2050. Esse número deve chegar a 54,1% na capital Tóquio. 

Segundo o relatório, 10,8 milhões de pessoas com 65 anos estarão vivendo sozinhas em 2050, um aumento de 50% em relação ao número de 2020. 

 

Continue lendo

Ansiedade

— A ansiedade de estar sozinha é imensa. Eu poderia listar todas as preocupações que tenho, mas farei o meu melhor enquanto eu estiver bem. Até agora, eu não me senti socialmente isolada por causa do meu trabalho. Sempre estava ocupada, mas agora que me aposentei, não terei mais isso para me ocupar, então este é o meu momento de verdade — disse Arai à agência alemã de notícias DW.

Após 32 anos de trabalho na Associação de Mulheres para uma Sociedade Melhor para o Envelhecimento, onde acabou se tornando secretária-geral, Arai tem uma compreensão sólida dos desafios enfrentados pelos idosos na sociedade japonesa.

— Eu planejo tentar criar estratégias para evitar o isolamento. Fundamos a associação em 1983 com a missão de resgatar as esposas da constante necessidade de cuidar dos pais idosos, promover a socialização do cuidado e tornar a sociedade japonesa um lugar melhor para os idosos viverem — acrescentou.

 

Desvantagens

No entanto, essa realidade mudou drasticamente, segundo Arai.

— Estamos vivendo em uma época em que os idosos não moram mais com seus filhos e netos. Eles vivem sozinhos. Muitos, em especial as mulheres, querem independência e dizem que conseguem viver com suas pensões e economias, mas há desvantagens evidentes — observa.

O isolamento social é apenas um dos desafios enfrentados pelos idosos quando seus filhos não moram por perto.

— Em nossa sociedade, sempre se assumiu que o cuidado dos pais idosos é papel do filho mais velho e sua mulher, e como os homens trabalham, suas esposas precisam deixar sua carreira e planos de vida para cuidar dos pais (ou dos sogros) — explica.

 

Saúde

Outro problema é o financeiro, especialmente quando há questões de saúde. Arai também vê uma crescente preocupação entre a comunidade idosa com organizações criminosas que miram pessoas mais velhas. O Japão recentemente enfrentou uma onda de arrombamentos em todo o país, incluindo casos em que idosos foram feridos ou até mortos pelos invasores. 

— Queremos que o governo crie uma sociedade mais segura para os idosos. Achamos que chegou o momento de aumentar o número de grupos comunitários de vigilância e encontrar maneiras de ajudar os idosos a criar novos laços em seus bairros — afirma Arai.

 

Atenção

Os desafios para a população mais velha se adaptar à sociedade moderna do Japão são imensos, diz Hiroshi Yoshida, professor de economia do envelhecimento na Universidade de Tohoku.  Para ele, é necessária uma atenção especial para impedir que os mais velhos passem seus últimos dias sozinhos e sofram de “kodokushi”, termo japonês que significa morte solitária. 

— A expectativa de vida média dos japoneses está bem acima dos 80 anos agora e, no futuro, pode chegar a quase 100 anos, mas estamos vendo mais problemas de saúde física e mental nesse grupo, o que está sobrecarregando o sistema de saúde — conclui o economista.

Edições digital e impressa
 
 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo