Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Novo panelaço de protesto, no sábado, marcará aniversário de Bolsonaro

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Quinta, 19 de Março de 2020 às 15:19, por: CdB

Na véspera, pelo segundo dia consecutivo, protestos ecoaram na noite, em ao menos 21 capitais, em panelaços contra o presidente. Marcados inicialmente para as 20h30, os atos ocorreram ao longo do dia, nos horários em que Bolsonaro participava de duas entrevistas coletivas para falar sobre medidas para combater o coronavírus.

Por Redação - do Rio de Janeiro e São Paulo
O novo panelaço, manifestação realizada nas maiores cidades brasileiras contra o mandatário neofascista Jair Bolsonaro (sem partido), foi marcado para este sábado, também às 20h30, em uma convocação nacional apoiada pela União Nacional dos Estudantes (UNE), lançada nesta quinta-feira. Na data em que completará 65 anos, o presidente receberá, de presente, um novo protesto, em nível nacional.
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Mesmo em meio à pandemia, presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fura isolamento para cumprimentar apoiadores
Na véspera, pelo segundo dia consecutivo, protestos ecoaram na noite, em ao menos 21 capitais, em panelaços contra o presidente. Marcados inicialmente para as 20h30, os atos ocorreram ao longo do dia, nos horários em que Bolsonaro participava de duas entrevistas coletivas para falar sobre medidas para combater o coronavírus.

Máscara

Já no início da tarde, o presidente tentou neutralizar o efeito do protesto contra seu governo. Nas redes sociais e em uma das entrevistas, Bolsonaro divulgou a existência de um outro panelaço, que aconteceria às 21h, favorável ao seu governo. O resultado foi pífio, acentuado pelo fato de que, enquanto alguns batiam panelas em favor do mandatário, o Jornal Nacional ecoava um clarim que tocava Lula-lá, durante a entrada, ao vivo, de uma das reportagens. Nas duas entrevistas que participou, na véspera, Bolsonaro errou feio. Depois de tentar explicar sua participação em um ato golpista, no domingo, em que esteve exposto e expôs o público ao vírus Sars-CoV-2, na Esplanada dos Ministério, foi alvo de memes nas redes sociais depois de se atrapalhar com o uso de uma máscara higiênica. Bolsonaro fez pouco da pandemia que vem escalando no número de mortos, dia após dia. Disse que os números foram “superdimensionada” e chegou a sugerir que o melhor remédio contra o organismo é deixar que as pessoas se infectem com o novo coronavírus. A posição do governo brasileiro foi, de imediato, condenada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Aglomerações

Após perceber o tamanho do erro, Bolsonaro apareceu de máscara, ao lado de oito ministros. Fez afagos ao Legislativo e ao Judiciário que, apenas dois dias antes, eram os alvos dos manifestantes que ele acariciava, sem qualquer rigor sanitário. Nem assim, porém, pediu desculpas aos brasileiros, diante das críticas de políticos e médicos, entre estes o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Na equipe estratégica do governo, os panelaços foram interpretados como consequência de um “erro político” do presidente na condução da crise, que tende a se agravar, nos próximos dias. Além da demora no reconhecimento da gravidade desta pandemia, Bolsonaro afastou-se da maioria dos brasileiros e deixou exposta sua ignorância e cegueira política. Bolsonaro errou também ao afirmar, durante a coletiva, que não descartava pegar “um metrô lotado em São Paulo” ou uma “barca no Rio de Janeiro”, na travessia até Niterói, para mostrar que está “ao lado do povo”. De acordo com normas do Ministério da Saúde, contudo, as pessoas devem evitar aglomerações para evitar o contágio.

Luta

A mudança de tom de Bolsonaro também atende a interesses políticos. Enquanto ele continuava insistindo que a pandemia tinha como o pano de fundo uma “luta pelo poder” e somava reações negativas nas redes sociais, Alcolumbre e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, se organizaram para apresentar medidas. Bolsonaro foi, então, obrigado a mostrar iniciativa. Na entrevista, ele fez questão de citar os chefes dos Poderes como parceiros no enfrentamento à pandemia. “Mais uma vez, eu agradeço aos Poderes da República pela compreensão e pelo apoio que têm nos dado para buscar não soluções, que no momento ainda não existem, mas para atenuar esse grave problema que se aproxima”, afirmou. Maia não compareceu, porém, a uma reunião convocada por Bolsonaro, mais tarde, para anunciar medidas de combate ao coronavírus. “O presidente nos convida para conversar, queremos organizar a pauta e com isso poder avançar no diálogo objetivo que construa soluções para os brasileiros. Não é apenas uma pauta para fotografia”, disse Maia. O único presente ao encontro foi Toffoli, já que Alcolumbre está com coronavírus (mais informações na pág. A6). “Nesse momento delicado, de fragilidade humana (…) estamos todos em ação e trabalhando com firmeza para que o País possa cruzar esse momento”, afirmou Toffoli. Bolsonaro classificou o panelaço contra o governo como um movimento “espontâneo” e uma “expressão da democracia”. Lembrou, no entanto, que também haveria manifestação a favor do governo. “Qualquer movimento por parte da população, eu encaro como expressão da democracia”, afirmou o presidente, quando questionado sobre os protestos. “Nós, políticos, devemos entender como uma pura manifestação da democracia”, completou ele, ao pedir isenção da imprensa na cobertura dos dois panelaços.

Barulhaço

Sem responder se estava arrependido de ir ao encontro dos manifestantes, sem o resultado do segundo teste, Bolsonaro disse que não descumpre orientações sanitárias, apesar de ter quebrando a quarentena recomendada por médicos. — A partir do momento que não estou infectado, ao ter contato com quem quer que seja não estou colocando em risco a vida ou a saúde daquela pessoa. Não descumpro qualquer orientação sanitária por parte do ministro da Saúde — acredita. A mobilização, puxada por movimentos sociais, ganhou o país inteiro. Além do ‘barulhaço’, em algumas cidades houve projeção de frases nas paredes dos prédios contra o desgoverno de Bolsonaro. Nas redes sociais, parlamentares ajudaram a divulgar vídeos das manifestações em todo país. “Barulhaço contra Bolsonaro se espalhando pelo país! É o povo reagindo contra a omissão e inoperância desse governo irresponsável e descomprometido com a população. O povo bateu panela, apitou e gritou alto pra chamar a atenção do governo nesse momento crítico do país. E o governo respondeu como? Acreditem… Batendo panela, apitando e gritando! Quem não tem projetos tenta sempre ganhar no grito!”, criticou o deputado  Helder Salomão (PT-ES).

‘Fora, irresponsável’

A presidente do PT, deputada  Gleisi Hoffmann (PT-PR) lembrou da luta pelas Diretas Já. “Na luta pelas Diretas Já, o povo batia panelas e vestia amarelo para defender a democracia e seus direitos. Isso é citado por Chico Buarque na música Pelas Tabelas! Vamos retomar as panelas, símbolo popular, e mostrar a Bolsonaro e seu governo o que eles merecem.” A deputada  Maria do Rosário (PT-RS) cobrou aos eleitores de Bolsonaro que se sentem enganados que se mexam. “A gente avisou. Quem foi enganado mexa-se. Vamos unir o Brasil pra mostrar que juntos somos fortes, temos o SUS, profissionais, e muita solidariedade. Em Porto Alegre tem projeções nos prédios! 2° dia consecutivo de protestos barulhentos em todo o país contra este desgoverno que nos assombra com tanto despreparo. Que o país passe por este grave momento com serenidade e saia fortalecido para ingressar em novo momento político, em uma perspectiva popular. Fora Bolsonaros. Fora irresponsável!”, concluiu.
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