Encher os palácios e gabinetes de militares foi a forma que o novo governo federal encontrou de tentar se aproximar das Forças Armadas, de parecer militar. Isso trouxe vantagens e desvantagens aos novos donos do poder e aos representantes das casernas, que estão indecisos (ou perdidos) nos postos que ocupam.
Por Jaime Sautchuk - de São Paulo
A Reforma da Previdência, por exemplo, foi tema forte da campanha eleitoral, mas puxou ao centro dos debates o regime previdenciário especial das Forças Armadas, que chama atenção por ser visto como privilégio, assim como os do Judiciário e do Legislativo. Já passa da hora de alterá-los.
Entretanto, diante do crescimento do debate em torno do assunto, vários porta-vozes das Forças Armadas têm se manifestado, dizendo que as três armas “ficarão de fora da reforma da Previdência”. Mas essas vozes parecem amplificar sua ressonância no sentido contrário, desde que, é claro, essas mudanças passem por algum debate público, inclusive no Congresso Nacional.
É claro que esse debate só será efetivo se levar em contra que a Previdência é um dos principais fatores da desigualdade social no país, com brutal diferença de renda. Nos meios militares, ao que parece, há consciência disso.
O recente aumento de mais de 16% nos salários dos membros do Poder Judiciário já demonstrou a má vontade dos Três Poderes quanto ao assunto, uma vez que a mesma benevolência não se manifesta na outra ponta do sistema, como no reajuste do salário-mínimo, por exemplo.
Em verdade, o atual governo ainda não disse a que veio no campo econômico. Não conseguiu estruturar um plano de trabalho e nem consegue explicitar o que pretende fazer. Demonstra, apenas, que o Brasil volta a ser exportador de produtos agrícolas e importador de tecnologia, num desmantelo completo, de puro retrocesso.
O discurso que fez no esvaziado (sem Estados Unidos, China, Rússia) Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, dia 22, foi o coroamento dessa falta de estratégia. Prevista pra 30 minutos, um tempo já limitado , a fala acabou tendo míseros seis minutos, sem nenhum conteúdo, contraditório, tratando de generalidades.
Declarou que sua equipe econômica “colocará o Brasil entre os cinquenta melhores países para se fazer negócios” e que assumiu o país “em meio a uma profunda crise ética, moral e econômica” e que seu governo goza “de credibilidade para fazer as reformas de que precisamos e que o mundo espera de nós”, já que “é a primeira vez em que um presidente montou uma equipe de ministros qualificados.”
Chamado a responder perguntas após o discurso, ele foi igualmente lacônico e impreciso. Uma pergunta específica pedia que ele detalhasse as relações entre desenvolvimento econômico e meio ambiente, mas ele foi rápido e superficial na resposta, não detalhando nada, apenas repetindo o que já havia lido antes.
Já no dia anterior, ao chegar a Davos, ele quebrou uma tradição do primeiro chefe de estado ou de governo a falar no dia seguinte, que é dar uma entrevista coletiva no hotel. Mas ele não deu. E, de quebra, usou a breve parada que deu no hall do hotel pra falar mal da Venezuela, sem mais nem menos.
Por fim, antecipou sua volta ao Brasil em um dia, tirando o vice-presidente, general Hamilton Mourão, da presidência interina. Afinal, Mourão já deve estar se preparando pra assumir o cargo em definitivo, caso se confirmem as tendências que despontam de todos os lados, especialmente da família do chefe, que apontam na direção da saída do poder.
Jaime Sautchuk, é jornalista.
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