Ao anunciar a proposta de serviço militar de dez meses voltado para jovens de 18 e 19 anos, Macron afirmou que “a juventude tem sede de engajamento”.
Por: Redação, com RFI – de Paris
O lançamento de uma campanha de serviço militar voluntário na França, pelo presidente Emmanuel Macron, é mais um sinal de preparação do país para a eventualidade de uma guerra, constata a imprensa francesa nesta sexta-feira. Declarações, medidas e anúncios nesse sentido têm se acelerado no país, em meio às incertezas do contexto geopolítico internacional

Na quinta, ao anunciar a proposta de serviço militar de dez meses voltado para jovens de 18 e 19 anos, Macron afirmou que “a juventude tem sede de engajamento”. O presidente frisou que “a única forma de evitar o perigo é se preparando”.
Para o jornal Le Monde, a medida faz parte “de uma batalha travada junto à opinião pública e à coesão nacional” francesas. Há meses, pouco a pouco, Emmanuel Macron assumiu o desafio de “preparar o país” para um conflito, observa o diário. O debate se intensificou desde que o governo decidiu liberar orçamento para aumentar os gastos com defesa, incluindo cortes nas despesas sociais.
Guia de sobrevivência
Na semana passada, Paris lançou um “guia de sobrevivência” para situações de “crise ou catástrofe”, com orientações sobre o que os habitantes devem ter em casa para sobreviver 72 horas em caso de “emergência”.
Nos últimos dias, Macron buscou amenizar os comentários do chefe do Estado-maior das Forças Armadas francesas, general Fabien Mandon, que disse que o país deve “aceitar perder os seus filhos”. O presidente salientou que “não se trata de enviar os nossos jovens para a Ucrânia” e os voluntários servirão “exclusivamente no território nacional”.
Há 30 anos, o fim da Guerra Fria tornou obsoleto o serviço militar na França, que deixou de ser obrigatório, lembra o jornal Le Figaro. “A guerra nas fronteiras da Europa pôs fim a esse intervalo. A história voltou a ser trágica – mas, em algum momento, deixou de sê-lo?”, questiona o diário, ao defender a medida.
Seleção rigorosa
O tema também está na capa de Libération. Dez mil jovens devem ser formados para as bases da atuação militar, em cinco anos. O jornal destaca que a seleção para as vagas será rigorosa: apenas os estudantes com as melhores notas e “aptidões provadas em tecnologia” deverão ser recrutados, neste primeiro momento.
O serviço servirá como um “ano sabático” antes do ensino superior. Ele será remunerado com um mínimo de € 800 por mês, além de alojamento, alimentação e equipamento, segundo o Palácio do Eliseu.
Devido a restrições orçamentárias, o programa será implementado gradualmente: no primeiro ano, a partir de janeiro de 2026, espera-se a adesão de 3 mil jovens. A expectativa é de que, em 2035, 42,5 mil participem do programa.
O financiamento necessário, 2,3 bilhões de euros para o período de 2026 a 2030, está previsto na atualização da lei de programação militar proposta por Emmanuel Macron, que ainda não foi aprovada. Esse esforço orçamentário é “essencial”, argumentou o presidente francês.
Doze países na Europa mantiveram ou restabeleceram o serviço militar obrigatório. Desde o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia, outros seis decidiram restabelecer o serviço voluntário.