Rio de Janeiro, 22 de Novembro de 2024

A libertação da consciência popular

Arquivado em:
Quinta, 11 de Abril de 2019 às 06:25, por: CdB

O mundo vive um momento alto da emancipação popular que coincide com o agravamento da crise sistémica e a maior, e mais pérfida, agressão do imperialismo. São os polos opostos do confronto entre os explorados e os exploradores.

Por Zillah Branco - de Brasília

As migrações forçadas em busca de melhores condiçōes de vida, que sempre existiram ao longo da história da humanidade em função de catástrofes naturais que provocavam a fome e a morte, ou de agressões de grupos mais fortes em busca de escravos ou de territórios mais ricos. Com o surgimento de conceitos "civilizacionais" foram sendo definidas as castas e classes dominantes dentro de impérios e Estados que deram origem a instituições que atribuiam o poder (com alegações religiosas e de superioridade cultural) imposto como uma fatalidade (garantida pela violência armada) aos povos trabalhadores privados das condições de desenvolvimento físico e cultural. Eram os nobres ricos que tinham o direito de escravizar os que precisavam serví-los para sobreviver.
consciencia.jpg
As migrações forçadas em busca de melhores condiçōes de vida
Para reforçar a distância que separavam ricos de pobres, foi afirmada como indiscutível a superioridade com que nasciam os nobres em relação aos seus subordinados. Foram milênios de imposição desta fraude que só pode ser contestada a partir do desenvolvimento científico. Vamos encontrar "descobertas", louváveis na época e "óbvias" hoje, nas primeiras décadas do século XX, de observadores europeus, portanto brancos, de que os povos negros da África, ou os "amarelos" do Oriente, ou os "escuros" da Índia, da Polinésia e os indígenas dos países do Terceiro Mundo eram tão humanos como os brancos. Lentamente a ciência foi comprovando que todos têm as mesmas aptidões e capacidades para o desenvolvimento mental e físico desde que respeitadas as suas condições de vida e compreendidas as suas respectivas culturas, que eram destruídas nos processos de colonização. As ciências foram multiplicando as provas da igualdade entre os seres humanos, mas os preconceitos raciais, de gênero, de opção sexual, e de opinião contestatária, foram cristalizados pelos "donos" do poder assegurado pela estrutura de propriedade e de acumulação das riquezas do sistema capitalista. Foi a partir da Revolução Soviética - que levou à criação de uma potência mundial a partir de sociedades que adotaram o sistema socialista de vida para os seus povos - que ficou patente a fraude dos preconceitos que são usados pelo capitalismo como armas segregacionistas. Surgiram os movimentos feministas e anti-racistas, fortaleceu-se o sindicalismo operário, inspirando o associativismo estudantil, de artistas, de profissões liberais, de moradores, para a defesa dos seus direitos usurpados pelo corporativismo de elite colado ao poder. A história do colonialismo transformou a escravização (de africanos, asiáticos e os povos nativos do continente americano, da Austrália e outras regiões isoladas) em uma forma mercantil, assim como as injustiças inerentes do sistema desenvolveram a mercantilização do sexo pela prostituição imposta às jovens de origem pobre, e outros comércios de jovens competidores em lutas consideradas esportivas, ou tornados criminosos a serviço de patrões (jagunços, seguranças pessoais e gangues criminosas até chegar aos "terroristas" que são utilizados nas guerras modernas como mercenários que substituem exércitos regulares de países invasores).

Emigrantes ou fugitivos do caos social?

Com o surgimento do neo-liberalismo a migração interna nos países mais pobres foi dinamizada pela rápida projeção de alguns centros urbanos em sociedades mais ricas tornadas polos de um desenvolvimento de serviços onde proliferam pequenas indústrias têxteis e a valorização de imagens exóticas integradas nas artes populares. Grande número de jovens nativos de regiões onde a população indígena não encontra trabalhos fora da agricultura, emigra para zonas urbanizadas mais modernas dos países vizinhos onde enfrentam duras condições de trabalho sem regulamentação (que se assemelham à escravidão) e procuram evoluir com a apresentação das formas de arte dos seus ancestrais que, além de enriquecerem e diversificarem os núcleos artísticos populares, fortalecem uma identidade nacional que os ajuda no processo de identidade a suportarem os preconceitos que os obriga à submissão nas relações de trabalho e no confronto com os demais trabalhadores de origens nacionais diversas concorrentes no mercado de mão de obra barata. Os estudos antropológicos nas universidades promovem um elo entre os estudiosos com os trabalhadores de origens étnicas variadas, promovendo a valorização da consciência nacional e étnica desses trabalhadores e suas famílias e combatendo o preconceito que é a arma maior da exploração patronal. As contradições do sistema capitalista, agravadas com a sobre-exploração dos trabalhadores pela não aplicação da legislação trabalhista que destrói a segurança contratual, são o grande incentivo para que as forças partidárias de esquerda, os sindicatos e as associações solidárias com os setores marginalizados, divulguem os protestos contra todos os preconceito tornados ferramentas discriminatórias para o exercício da exploração patronal.

Ameaça global

O agravamento da expansão imperialista com o uso da OTAN para invadir países com reservas de petróleo e outros minerais de alto valor, para derrubar governos que aplicam os princípios democráticos de tipo socialista visando um maior equilíbrio da renda nacional e o desenvolvimento das alavancas sociais para tirar o povo do atraso herdado da exploração centenária do colonialismo e do neo-liberalismo (dando-lhe um sistema universal de saúde, ensino em todos os níveis, emprego e previdência social, transporte e habitação condigna), ao provocar genocídios e destruição de cidades que horrorizam o mundo, destrói as instituições jurídicas em defesa dos Direitos Humanos criadas a nível nacional e internacional, tem despertado um panorama favorável ao desenvolvimento da consciência cidadã de esquerda. As pessoas que não sucumbem ao desespero da aparente impotência diante do poder nefasto descobrem caminhos de união para salvar a civilização. A eleição de uma figura grotesca e pre-potente como Trump nos Estados Unidos e outra como Bolsonaro (que não tem as condições mínimas para ser dirigente de coisa nenhuma e foi feito Presidente do Brasil), provocam o despertar até mesmo de uma burguesia que não foi totalmente engolida pelo egoísmo desumano para a necessidade de impedir que o planeta seja destruído pela ganância diabólica de uma elite criminosa. O exemplo dado por Lula - que estoicamente aguentou uma perseguição sem tréguas e sem justiça, estando há um ano em prisão política por ter colocado o Brasil ao lado dos grandes países por sua grandeza econômica e capacidade de superar o atraso herdado historicamente, que introduziu serviços sociais que salvaram 40 milhões de brasileiros da fome e criaram universidades e instituições técnicas e científicas para formar os profissionais capazes de aproveitar as jazidas de petróleo do Pré-sal, a Amazonia, as bases científicas de Alcantara e toda a inteligência brasileira para afirmar a soberania nacional e as melhores condições de vida para mais de 200 milhões de cidadãos - há de semear a unidade de todo o povo com o apoio mundial para reverter o desastre que o imperialismo norte-americano introduziu pelas mãos dos traidores da pátria que forjaram uma eleição graças ao desespero em que os eleitores se viram afundados iludidos por fake news veiculados pela mídia hegemônica e uma falsa igreja pentecostal. É um novo caminho a ser construído a partir da realidade em que vivem os 220 milhões de brasileiros, com 40 milhões de volta à fome, 46 milhões de desempregados, estudantes sem escola, doentes sem médicos, o rico patrimônio nacional entregue ao usurpador imperial, o crime e a violência incentivados por um governo submisso e vendido ao capital estrangeiro, um Estado com os serviços institucionais destroçados e a Justiça violada por profissionais acovardados. Lula Livre! Um comité de luta em cada município, uma célula familiar em cada casa para unir as gerações! O povo unido jamais será vencido! Zillah Branco, é Cientista Social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de vida e trabalho no Chile, Portugal e Cabo Verde.

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

Edições digital e impressa
 
 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo