Rio de Janeiro, 24 de Abril de 2025

Lava Jato abriu caminho para o fascismo, aponta coletivo de advogados

Para a advogada Tânia Mandarino, o fim melancólico da Lava Jato, sem qualquer tipo de manifestação popular a seu favor, demonstra que a sociedade brasileira tomou consciência das ilegalidades cometidas por Moro e a turma de procuradores.

Quinta, 04 de Fevereiro de 2021 às 14:03, por: CdB

Para a advogada Tânia Mandarino, o fim melancólico da Lava Jato, sem qualquer tipo de manifestação popular a seu favor, demonstra que a sociedade brasileira tomou consciência das ilegalidades cometidas por Moro e a turma de procuradores.

Por Redação, com RBA - de São Paulo

Depois de quase sete anos de atuação, o Ministério Público Federal anunciou oficialmente, na véspera, o fim da Operação Lava Jato. Seu fim melancólico coincide com a divulgação de nova leva de mensagens trocadas entre o então juiz federal Sérgio Moro e os procuradores da força-tarefa de Curitiba. O conteúdo dessas conversas confirma, mais uma vez, o conluio montado para prender o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com Lula preso, impedido de concorrer às eleições de 2018, a Lava Jato pavimentou o caminho para a ascensão de Jair Bolsonaro.

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O Ministério Público Federal já recomendou a apuração das denúncias de parcialidade que recaem sobre o ex-juiz Sérgio Moro

Para a advogada Tânia Mandarino, do Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia (Caad), o fim melancólico da Lava Jato, sem qualquer tipo de manifestação popular a seu favor, demonstra que a sociedade brasileira tomou consciência das ilegalidades cometidas por Moro e a turma de procuradores.

 — A corrupção mata e sabemos disso. Só que o esse modelo de combate à corrupção também foi o maior sabão de lavar o fascismo — afirmou Tânia, em entrevista à agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA), nesta quinta-feira.

Além disso, ela diz que esse suposto combate à corrupção passou a ser o tipo de estratégia utilizada por autoridades estadunidenses para desestabilizar governos considerados como “inimigos”, a exemplo do que ocorreu em Honduras e na Ucrânia ao longo da última década, passando também pelo Brasil.

Desespero

A advogada curitibana relata que o clima nos bastidores da Lava Jato é de apreensão. Isso porque as mensagens trocadas entre Moro e os procuradores da força-tarefa foram alvo de perícia da própria Polícia Federal (PF), que atestou sua veracidade. Com isso, elas poderão servir de provas tanto para absolver Lula, como para incriminar Moro e os “moleques da Lava Jato” pelas ilegalidades cometidas.

— Ouvi dizer, de gente que tem convívio com eles, que Dallagnol está chorando e Sérgio Moro está bastante desesperado. Nos bastidores, o medo é muito grande. Inclusive de prisão — afirmou a advogada.

Mandarino ironizou a tentativa de Moro, que utilizou a sua esposa, Rosângela Moro, para mover uma reclamação no STF, alegando que as mensagens foram obtidas por meios ilícitos.

— O cara (Moro) é campeão em obter provas por meios ilícitos. É um momento de deleite para quem gosta de Justiça — acrescentou.

Passivo

De acordo com a coordenadora do Caad o rastro de destruição econômica e política, além das transgressões jurídicas, configuram um legado negativo “inigualável”.

— O passivo histórico deles vai ser assemelhado, em diferentes proporções, com coisas tão graves como foi a escravidão no Brasil. Vejo no futuro o Estado brasileiro pagando altas indenizações em relação ao que foi feito na Lava Jato — disse Tânia.

A advogada afirmou, ainda, que é preciso entrar com um pedido de prestação de contas sobre a Operação Lava Jato. Só assim será possível verificar a destinação dos recursos que foram “recuperados” pelos procuradores, além dos custos proporcionais acarretados pela operação. Por enquanto, o único legado positivo, segundo ela, foi o aumento da consciência do povo brasileiro sobre os abusos cometidos pela turma de Curitiba.

Conluio

Com o sigilo das mensagens quebrado, por ordem do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), de acordo com o jornalista Laurindo Leal Filho, o Lalo, a cobertura da imprensa tradicional sobre mais esse episódio que envolve a Lava Jato tem sido “simplesmente vergonhosa”. Os veículos das organizações Globo, por exemplo, têm dedicado espaços ínfimos e tempos reduzidos nos seus noticiários sobre essas novas revelações.

Os diálogos reforçam o conluio montado por Moro e os procuradores para prender o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Também mostraram preconceitos de classe dos integrantes da força-tarefa e ataques depreciativos ao líder petista e seus familiares.

Contudo, essa nova leva de conversas reveladas é apenas uma ínfima parte (cerca de 1%) do material em posse da defesa do ex-presidente. O material colhido na Operação Spoofing, que culminou com a prisão dos hackers que interceptaram as conversas, já foi periciado pela Polícia Federal (PF), que atestou a sua veracidade.

‘Mancomunados’

 A hipótese de Lalo é que os sete terabytes de dados apreendidos também revelem a relação de Moro e a Lava Jato com os próprios veículos da imprensa tradicional, especialmente com a própria Globo.

— Minha especulação é que tudo o que ainda tem para ser revelado nessas conversas criminosas entre Moro e os procuradores pode bater muito forte em empresas da mídia, sobretudo a Globo. Há um temor muito forte que isso se expanda e chegue nas próprias redações, nos seus profissionais e nos donos dessas empresas. Há muito ainda o que se conhecer dessa caverna — disse Lalo, em entrevista à agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA) nesta quinta-feira.

Ainda segundo Lalo, "a mídia quase despreza esse assunto". O jornalista também faz parte do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da diretoria do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.

Fosse ao contrário, e essas mensagens implicassem Lula, resume Lalo, “imagina o carnaval que estariam fazendo”.

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