Três ministros de Estado, seis delegados e uma deputada federal foram chamados a depor, ainda que “sob vara”, entre esta segunda e a quinta-feira, no inquérito que investiga a veracidade das acusações do ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro contra o mandatário neofascista.
Por Redação - de Brasília
A semana começa para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com uma agenda negativa que se estenderá para os dias seguintes. A Procuradoria-Geral da República (PGR) precisará decidir nas próximas horas se o denuncia, ou não, por corrupção passiva privilegiada, obstrução de Justiça e advocacia administrativa ao tentar interferir na autonomia da Polícia Federal (PF).
Três ministros de Estado, seis delegados e uma deputada federal foram chamados a depor, ainda que “sob vara”, entre esta segunda e a quinta-feira, no inquérito que investiga a veracidade das acusações do ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro contra o mandatário neofascista.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Melo também poderá decidir, em breve, se autoriza a divulgação do vídeo da reunião ministerial em que Bolsonaro teria ameaçado Moro de demissão, caso não trocasse o diretor-geral da PF. Se a Câmara aprovar o prosseguimento das investigações, Bolsonaro será afastado do cargo, automaticamente, por 180 dias.
No STF, onde se encontra a maioria das ações, o ambiente não poderia ser mais negativo para o inquilino do Palácio do Planalto. Nesta manhã, o ministro Luís Roberto Barroso disse a uma rádio paulistana que a ida de Jair Bolsonaro à sede do Supremo na semana passada, em reunião surpresa com o presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, juntamente com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e empresários "não fez nenhuma diferença”.
Barroso
A reunião foi interpretada pela maioria dos ministros como uma pressão por parte de Bolsonaro ao Supremo, contra o isolamento social.
— Do ponto de vista do presidente (da República), acho que foi um movimento político que não me cabe avaliar. O que posso te dizer é que pressão é uma coisa nessa vida que só produz algum efeito se você aceitá-la, venha de onde vier. Se você não aceitar, ela não produz nenhum efeito. Portanto, eu preciso lhe dizer que para mim, pessoalmente, e estou certo de que para meus colegas, não fez nenhuma diferença — acrescentou Barroso.
O papel do Judiciário, de acordo com o ministro, está mantido.
— Nós não somos adversários do presidente, nós não somos aliados do presidente, nós interpretamos e aplicamos a Constituição. Nossa lógica é certo ou errado, justo ou injusto, legítimo ou ilegítimo. Alguém pode divergir, tem todo o direito, mas nós não nos movemos por escolhas políticas — afirmou.
Barroso também elogiou o presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, pela forma como se comportou diante da pressão bolsonarista.
— Eu acho que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, agiu com a elegância que o cargo impunha. Se o presidente da República vem até sua casa, você não fecha a porta e muito menos bate a porta na cara dele. Do ponto de vista do Supremo, o comportamento foi o adequado e o desejável — acrescentou.
Grupos criminosos
Apesar dos movimentos erráticos de Bolsonaro, as investigações sobre o apoio dele ao movimento golpista que prega o fechamento do Congresso e do STF seguem nos tribunais, com o agravante que a Polícia Federal (PF) já descobriu de onde partem os apoios logístico e financeiro aos manifestantes. Tais manifestações contam com a participação de parlamentares, membros do governo e ativistas de organizações que pregam a volta da ditadura por meio das redes sociais.
Um do grupos criminosos que divulgam tais manifestações antidemocráticas é a Organização Nacional dos Movimentos (ONM), criada em meados do ano passado, segundo levantamento policial. Um dos responsáveis pela convocação do chamado “Acampamento Patriota” foi Renan da Silva Sena.
Sena, contratado por empresa terceirizada no Ministério da Mulher e dos Direitos Humanos até a última segunda-feira, foi exonerado após ser exposto, durante agressão física a uma enfermeira, durante protesto em frente ao Palácio do Planalto. Outro grupo citado nas investigações é o “300 pelo Brasil”, criado em abril pela ativista Sara Winter, que prega abertamente a violência contra os adversários do presidente. Ela chegou a ser coordenadora de Atenção Integral à Gestante na pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos, de Damares Alves, mas também foi afastada do cargo.
Covid-19
O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, o deputado Cabo Junio Amaral (PSL-MG), a deputada Bia Kicis (PSL-DF) e a deputada federal Caroline de Toni (PSL-SC), entre outras autoridades, parlamentares e militares da reserva foram citados no inquérito.
Ao lado de Sena, o militar da reserva identificado apenas como Paulo Felipe, vulgo “Comandante Paulo”, que chegou a ameaçar o STF com “300 caminhões” que se encontrariam a caminho de Brasília com data prevista para chegar na sexta-feira (o que não aconteceu) também consta do relatório policial. O responsável pelo comboio teria sido internado, com a covid-19.
— Eu não vou te dar muitas informações porque o autor do comboio, o comandante do comboio está debilitado. Ele pegou covid-19, estava na UTI. Estou aguardando ele me dar retorno sobre isso e ele é que está no comando dessa operação. Eu divulguei pra ele, porque eu divulgo vídeos quase que diariamente, ele me contactou e pediu para que eu divulgasse, aproveitasse a minha evidência nas redes sociais e divulgasse pra ele — concluiu Felipe.