“Na madrugada em que se completavam dez dias do maior desastre meteorológico da história do meu Estado natal, fiquei acordado respondendo diversas mensagens de preocupação. Dezenas de pessoas me enviavam em seus celulares um vídeo onde supostamente eu era linchado à noite em uma visita a um abrigo. Amigos, companheiros, familiares me perguntavam se eu estava bem, se precisava de ajuda. “
Por Celso Lungaretti – de São Paulo
Ministro Paulo Pimenta denuncia fake-news sobre inundações no RS
Abaixo reproduzo trechos de um desabafo do ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta, contra a infestação de fake news. Ele tem a minha total solidariedade.
Vale lembrarmos, contudo, que a postura do partido do Pimenta era bem diferente em 2007, quando nós, da esquerda que era e continua sendo revolucionária, enfrentávamos o mesmíssimo problema.
Se os petistas houvessem então somado forças conosco contra as viúvas da ditadura e os novos fascistas que estavam formando, provavelmente o ovo da serpente nem sequer teria eclodido e infernizado a tal ponto o cotidiano dos brasileiros.
Pimenta soaria muito mais verdadeiro agora se sua catilinária viesse acompanhada por uma sincera autocrítica, pois a eternidade que tal ficha demorou a cair para o PT se mede, inclusive, pelo número de mortes evitáveis mas não evitadas durante a recente pandemia: uns 400 mil brasileiros dizimados como consequência da sabotagem vacinal.
“Confesso que perdi a cabeça com mentirosos“
“Na madrugada em que se completaram dez dias do maior desastre meteorológico da história do meu estado natal, fiquei acordado respondendo diversas mensagens de preocupação.
Dezenas de pessoas me enviavam em seus celulares um vídeo onde supostamente eu era linchado à noite em uma visita a um abrigo. Amigos, companheiros, familiares me perguntavam se eu estava bem, se precisava de ajuda.
O vídeo é mais um episódio de uma estratégia organizada de desinformação que acontece no Rio Grande do Sul. As imagens são de uma assembleia sindical no Ceará, onde alguém (que não sou eu) é alvo de violência, porém as mensagens não apenas davam a entender que o vídeo era atual e me envolviam, como diziam que eu estava tendo a recepção que merecia.
Mentir não é novidade, a mentira não nasceu com o WhatsApp, mas é nas redes sociais que surge o fenômeno de produção de mentiras em escala industrial, com ações coordenadas e métodos para desinformar.
É difícil de entender que em um momento de tamanha fragilidade, pessoas se escondam em suas telas produzindo conteúdos que sabem ser mentirosos para que tenham algum tipo de ganho político ou econômico.
“Por isso me indigno. Por isso, falei que deviam prender quem tem propositalmente produzido essas mentiras de forma estratégica para desinformar as pessoas, por isso oficiei a Advocacia Geral da União e a Polícia Federal para que investiguem essas pessoas como criminosos.” (ministro Paulo Pimenta, da Secom).
Observação – antes tarde do que nunca, o PT não só denuncia o uso desembestado da mentira por parte da extrema-direita para desqualificar seus adversários políticos, como pede que tal prática seja investigada e punida com prisão dos responsáveis.
Palhaço assassino
Eu concordo, até porque já defendia a adoção de tais medidas… em 2007! (vide aqui, p. ex., uma denúncia que então fiz e o tiroteio cerrado que provocou nos comentários).
Se a força majoritária da nossa esquerda tivesse também erguido tal bandeira quando nós, os sobreviventes da luta armada, sofríamos idêntica campanha de satanização virtual (um balão de ensaio para a atual produção de mentiras de forma estratégica a que se refere Pimenta), talvez o infame palhaço assassino nem sequer tivesse sido eleito na mais mentirosa e manipulada eleição brasileira de todos os tempos, a de 2018.
Contudo, o inimigo de classe naquele tempo era subestimado pelos petistas, que se mostravam muito mais hostis a nós do que aos ultradireitistas, praticamente os ignorando, como se fossem malucos sem real importância.
Deu no que está dando.
Celso Lungaretti é jornalista, escritor, combatente contra a ditadura militar)
Direto da Redação é um fórum de debates publicado no jornal Correio do Brasil pelo jornalista Rui Martins.