A biblioteca é criada em conjunto por acadêmicos da China, Brasil, Peru, México e Uruguai, entre outros países. A previsão é publicar 50 livros sobre História, Cultura e Humanidades latino-americanas nos próximos 10 anos.
Por Tan Xin, traduzido por Pan Luodan - de Pequim
"No início dos anos 90, o filósofo chinês Li Shenzhi salientou que nossa compreensão da América Latina tendia a ter mais conceitos abstratos do que conhecimentos específicos, impressões mais vagas do que experiências exatas. 30 anos se passaram, esta situação não mudou muito, mas a China tornou-se uma existência que não pode ser ignorada na América Latina. É urgente que a China abra seu coração, entre na América Latina, leia e a entenda”.
A afirmação é do doutor Guo Cunhai, coordenador do Centro de Estudos Chineses e Latino-Americanos (CECLA), durante o lançamento da biblioteca‘Entendendo a América Latina’, recentemente lançada pela Editora da Universidade de Pequim e o CECLA, na Hacienda Pampas, em Pequim. Não é apenas a primeira biblioteca de grande porte da China a reunir e publicar temas históricos e humanísticos da América Latina, mas também dá forma ao projeto conhecido como ‘Ilustração do Conhecimento Latino-Americano’.
"Trazer o público chinês para
a América Latina mais profundamente"
A biblioteca é criada em conjunto por acadêmicos da China, Brasil, Peru, México, Uruguai e outros países. A previsão é publicar 50 livros sobre História, Cultura e Humanidades latino-americanas nos próximos 10 anos, ajudando o público chinês a adquirir uma compreensão profunda da história, cultura, etnia e sociedade da América Latina, a partir de uma perspectiva de fácil leitura, apresentando uma América Latina real, tridimensional e abrangente, principalmente através dos olhos dos intelectuais latino-americanos.
Wang Ligang, diretor editorial da Editora da Universidade de Pequim, enfatizou na cerimônia de lançamento que, nos últimos anos, ele sentiu profundamente um aumento rápido do interesse do público chinês pela América Latina. Os resultados acadêmicos não devem ser deixados na academia, “mas devem ser usados para melhorar o intercâmbio cultural entre o povo chinês e o latino-americano”, afirmou.
Ligang acrescenta que a Editora da Universidade de Pequim e o CECLA compartilham o objetivo comum de disseminar o conhecimento da América Latina para o público chinês e trazer ele para a América Latina mais profundamente. Para tanto, essas duas instituições trabalharão em conjunto para criar a biblioteca ‘Entendendo a América Latina’, que tem tanto interesse acadêmico e disseminação pública.
"Os chineses veem a América Latina,
não mais 'refractados' através de uma
perspectiva europeia ou americana"
O acadêmico Guo Cunhai destacou, ainda, as relações fortalecidas entre a China-América Latina:
— Até o final de 2020, a China foi um importante parceiro comercial e também a principal fonte de investimento estrangeiro direto para muitos países latino-americanos. Enquanto isso, atualmente na China existem 156 instituições de ensino superior que ensinam a língua espanhola e 57 em português, além de 63 instituições e centros dedicados aos estudos latino-americanos — relata.
Guo Cunhai também mencionou sobre a situação atual dos estudos chineses na América Latina.
— Os livros são pequenos e acadêmicos. Mais importante, o conteúdo é basicamente traduzido do inglês, traduzindo as opiniões de estudiosos europeus e americanos. Desta forma, temos que olhar para a América Latina através da refração do olhar europeu e americano, em vez de escutar diretamente as vozes dos estudiosos latino-americanos — pontua.
Análise dialética
Sobre o significado da biblioteca ‘Entendendo a América Latina’, Guo Cunhai acrescenta:
— Queremos saber como o povo latino-americano vê a si mesmo, e queremos que mais chineses entendam a América Latina. Devemos fazer um bom trabalho na leitura de livros de história e humanidades da América Latina, para que os estudiosos não se sintam superficiais depois de lê-los e o público não se sinta dificuldade depois de lê-los.
Já o doutor Han Qi, presidente da Sociedade Chinesa de História Latino-Americana e membro do Comitê Consultivo Acadêmico Internacional da Biblioteca, destacou na cerimônia de lançamento que, para "entender" a América Latina, dois pontos básicos devem ser esclarecidos:
— Em primeiro lugar, é necessário analisar dialeticamente a história do desenvolvimento da América Latina, que teve seus sucessos e fracassos, seu sol e suas sombras. Em segundo lugar, é a compreensão da cultura latino-americana. Uma das características distintivas da cultura latino-americana é uma cultura híbrida, mas ela é rica em conotações, e a proporção de vários componentes culturais não é igual.
Han Qi espera que a biblioteca ajude mais chineses a compreender a América Latina de um jeito mais abrangente, profunda e multiangular.
"Esta palavra chamada
‘entendendo’, é a base
da comunicação"
Para o doutor Enrique Krauze, membro da Academia Mexicana de História e do Comitê Consultivo Acadêmico Internacional da Biblioteca, em um discurso por vídeo, "todos estão aqui pela ‘Entendendo a América Latina' (Biblioteca), mas também para ‘entender' a América Latina.”
Krauze acredita que a biblioteca pode aproximar a China e a América Latina e construir uma longa ponte ao longo do Oceano Pacífico.
— Claro que esta ponte existe há centenas de milhares de anos e tudo o que estamos fazendo é renová-la. Escolhi estar envolvido devido a esta proximidade, porque esta palavra chamada ‘entendendo' é a base da nossa comunicação — ressaltou.
Krauze disse, ainda, estar ansioso para visitar a China no próximo ano, "não apenas pela oportunidade de aprender sobre este fascinante país milenar e sua cultura, mas também para construir uma 'ponte de entendimento' mais forte entre nossos países e regiões (por meio da biblioteca)”.
Tan XinePan Luodansão jornalistas do Diário Chinês para a América do Sul.