Delgatti foi ouvido pelos investigadores na última quarta-feira. Na ocasião, afirmou ter recebido R$ 40 mil da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) para invadir o sistema do CNJ e inserir falsos documentos no Banco Nacional de Mandados de Prisão, entre eles, um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Por Redação - de Brasília
O hacker Walter Delgatti Netto prestou um novo depoimento à Polícia Federal (PF), nesta sexta-feira. Esta é a segunda vez na semana que o chamado ‘Hacker de Araraquara’ depõe no âmbito das investigações sobre a suposta invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Desta vez, porém, o criminoso declarado negocia um acordo de delação premiada, segundo apurou a reportagem do Correio do Brasil junto a pessoas próximas ao caso.

Delgatti foi ouvido pelos investigadores na última quarta-feira. Na ocasião, afirmou ter recebido R$ 40 mil da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) para invadir o sistema do CNJ e inserir falsos documentos no Banco Nacional de Mandados de Prisão, entre eles, um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A deputada nega as acusações.
Na quinta-feira, o hacker compareceu à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura os atos de 8 de janeiro, dia em que vândalos e golpistas invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e a sede do Supremo Tribunal Federal (STF). À CPMI, Delgatti disse que o ex-presidente da República Jair Bolsonaro pediu a ele, por telefone, que assumisse a autoria de um suposto grampo contra o ministro Alexandre de Moraes. Essa informação, uma vez confirmada, torna-se a base do acordo proposto às autoridades policiais.
Relatório
Segundo o hacker, Bolsonaro teria prometido lhe conceder um indulto, ou seja, o perdão presidencial, caso o Poder Judiciário decretasse sua prisão. À CPMI, Delgatti também afirmou que “orientou” os militares responsáveis por produzir o relatório das Forças Armadas sobre a segurança das urnas eletrônicas eleitorais que o Ministério da Defesa entregou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 9 de novembro de 2022.
Ao chegar à sede da PF, nesta manhã, para acompanhar seu cliente, o advogado Ariovaldo Moreira disse que as afirmações de Delgatti são “indícios de provas”. No Direito, via de regra, uma prova é composta por um conjunto de indícios, ou seja, por uma série de vestígios que, uma vez comprovados, indica que algo de fato ocorreu, sustentando uma tese.
— Entendo quando vocês (jornalistas) perguntam se há provas (do que Delgatti afirma). Há indícios de provas. Porque não há dúvidas de que o Walter esteve com Jair Bolsonaro. (Na véspera), o filho do Bolsonaro (o senador Flávio Bolsonaro) confessou isso. E há, com certeza, no Ministério da Defesa, câmeras e imagens. Com o Walter (informando as) datas e horários (em que afirma ter estado no prédio do ministério), muito provavelmente será possível obter estas provas — afirmou o advogado.
O advogado Ariovaldo Moreira, confirma, portanto, a hipótese de Delgatti fazer uma delação premiada.
— Não está descartada a (possibilidade de uma) delação premiada — acrescentou Moreira, assegurando que seu cliente já deu todos os esclarecimentos à PF e à CPMI.
Quebra-cabeça
Para o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, o depoimento de Delgatti Neto à CPMI encaixa-se como mais uma peça do quebra-cabeça de indícios e provas a serem analisados. Para o ministro, os acontecimentos recentes — como o depoimento desta quinta e operação na véspera da Polícia federal envolvendo o advogado da família do ex-presidente Jair Bolsonaro, Frederick Wassef — formam uma "progressão" de produção de provas que demonstram a ocorrência de atos ilegais desde o segundo turno das eleições do ano passado até os atos de janeiro que resultaram na depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília.
— Como os inquéritos estão continuando, prosseguindo, haverá seguramente, não é uma informação é uma dedução e uma imposição legal, haverá atos futuros Desde os terríveis eventos, que se iniciam na operação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no segundo turno e veem até 8 de janeiro, há progressivamente a produção de provas e indícios mostrando que houve práticas ilegais — resumiu o ministro.