Resiliente, Guedes tem se mantido no cargo apesar dos constantes bombardeios de setores próximos ao presidente. Mas, segundo constatou um assessor à reportagem do Correio do Brasil, nesta tarde por telefone, em condição de anonimato, “a paciência tem limites”. Analistas do mercado financeiro observam de perto a nova realidade do ministro.
Por Redação - de Brasília
A promessa pública de deixar o governo ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PL), jurada perante o Congresso, em uma das oitivas quanto à crise econômica que acompanha seu trajeto desde que assumiu o Ministério da Economia, estaria prestes a levar o empresário Paulo Guedes de volta à vida privada. Com inflação descontrolada, desemprego em níveis recordes, miséria e fome disseminadas, o cenário resume seu prestígio, ou a falta dele, junto aos articuladores da possível campanha à reeleição do atual mandatário.
Resiliente, Guedes tem se mantido no cargo apesar dos constantes bombardeios de setores próximos ao presidente. Mas, segundo constatou um assessor à reportagem do Correio do Brasil, nesta tarde por telefone, em condição de anonimato, “a paciência tem limites”. Uma vez consolidado o fracasso econômico, em ano de eleição, a derrota de Bolsonaro será uma mancha histórica no currículo do empresário que se tornou agente público.
— Na ‘rádio-corredor’ do ministério (da Economia), muitos já se arriscam a prever que Guedes deixe o cargo antes do fim do ano. Bem antes — previu.
Repercussão
Nesta quinta-feira, Bolsonaro mandou publicar um decreto presidencial no Diário Oficial da União que delega ao ministro da Economia competências para a abertura de créditos autorizados na Lei Orçamentária de 2022 (LOA-2022), bem como para atos de alterações orçamentárias, desde que seja autorizado pelo ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), líder de peso do chamado ‘Centrão’.
De acordo com a Secretaria-Geral da Presidência da República, a publicação do decreto tem por objetivo “dar maior celeridade na efetivação dessas alterações, ao tempo em que libera a Presidência da República para análise de projetos de atos de maior repercussão”.
Entre as competências delegadas pelo Decreto ao ministro da Economia está a alteração de Grupos de Natureza de Despesa (GND); a abertura de créditos suplementares autorizados na Lei Orçamentária de 2022; a reabertura de créditos especiais em favor de órgãos do Executivo federal; e a abertura de créditos especiais ao Orçamento de Investimento para o atendimento de despesas relativas a ações em execução no exercício de 2021.
Saldos negativos
Também estão delegadas competências para a reabertura de créditos extraordinários e para transposição, remanejamento ou transferência das dotações orçamentárias aprovadas na Lei Orçamentária de 2022 e em créditos adicionais, em decorrência da extinção, transformação, transferência, incorporação ou do desmembramento de órgãos e de entidades da administração pública federal – bem como da alterações de algumas de suas competências ou atribuições.
Outra competência prevista para o ministro é a “transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de programação para outra, no âmbito das atividades de ciência, tecnologia e inovação”; e a abertura de créditos suplementares ou especiais para ajustar eventuais saldos negativos “apurados entre o Projeto de Lei Orçamentária de 2022 encaminhado ao Congresso Nacional e a respectiva Lei em decorrência da execução prevista no referido artigo”.
Em nota divulgada sobre o decreto, na noite passada, o Palácio do Planalto não citava a alteração quanto à redução de poder do ministro da Economia. Peculiar, a medida é tomada durante o acirramento da disputa entre as equipes de Paulo Guedes e de auxiliares palacianos. Em jogo também está a tentativa de Bolsonaro de consolidar apoio político para a eleição, em que ele aparece em segundo lugar, embora distante do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo com todos os levantamentos realizados até agora.