Rio de Janeiro, 25 de Junho de 2025

Governo sob cerco, reagir é preciso

Análise de Luciano Siqueira sobre os desafios do governo Lula em um cenário político adverso e a necessidade de mobilização frente à oposição.

Quinta, 29 de Maio de 2025 às 15:19, por: CdB

Governar o Brasil será sempre uma missão complexa, quaisquer que sejam as circunstâncias, favoráveis ou não.

Por Luciano Siqueira – de Brasília

Luiz Inácio Lula da Silva, em seus dois primeiros governos, em boa medida jogou a favor do vento. Fatores externos e internos articulados entre si permitiram realizações importantes, tanto no que diz respeito aos pilares do desenvolvimento econômico, como a adoção de programas sociais compensatórios de largo alcance.

Governo sob cerco, reagir é preciso | Luiz Inácio Lula da Silva
Luiz Inácio Lula da Silva

Não é exagero afirmar que na história da República foi precisamente de 2003 a 2011 (com boa vontade é possível incluir também os primeiros quatro anos da presidente Dilma) que mais se avançou no país na satisfação de direitos sociais. 

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Agora, presidente pela terceira vez, Lula navega em mar revolto. 

Venceu o pleito presidencial por pequena margem e desde o primeiro dia vive às turras com um Congresso Nacional majoritariamente conservador, onde pontificam fortes bancadas de centro-direita e de extrema direita.

Não fosse a amplitude das alianças celebradas para a disputa eleitoral não teria sido possível vencer.

Amplitude que tanto contribui, em certa medida, para as condições de governabilidade; como também dificulta a adoção de matizes mais afirmativos e mais claros em relação a questões cruciais.

O exemplo mais marcante é a ininterrupta quebra de braços com a classe dominante  hegemonizada pelo rentismo, centrada na “obrigatoriedade” de um equilíbrio fiscal sob todos os títulos dificultador da obra administrativa. 

Capital financeiro

O poderoso complexo midiático dominante, comprometido fundamentalmente com o capital financeiro e o grande agronegócio exportador, exerce com sofisticada competência o papel ter partido político, a ponto de pautar tanto o parlamento como o próprio governo. 

A bola da vez é a pretensão do governo alterar alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras): ao cartão de crédito/débito internacional: de 3,38% para 3,5%; cartão pré-pago e cheques de viagem de 3,38% para 3,5%; compra de moeda em espécie: de 1,1% para 3,5%; empréstimo externo de curto prazo de 0% para 3,5%.

A Associação Brasileira de Bancos e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo puxam os protestos e determinam a oposição parlamentar.

O governo, na defensiva, resolve manter em zero a alíquota sobre aplicação de investimentos de fundos nacionais no exterior, que iria para 3,5%, e manteve a alíquota atual de 1,1% para remessas destinadas a investimentos.

A polêmica segue e os jornais anunciam que o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) “determina” o prazo de 10 dias (sic) para que o governo refaça sua proposta, naturalmente recuando em sua essência. 

Não é uma batalha qualquer. Há uma poderosa “operação de cerco e aniquilamento” operada por poderosas forças, que tentam manter o governo acuado até o próximo pleito, enquanto tentam viabilizar uma candidatura de centro-direita eleitoralmente viável.

Aguarda-se uma posição mais clara do próprio presidente da República, assim como uma atitude proativa na mobilização das correntes mais avançadas da ampla frente governista e dos diversos segmentos que formam a sua base social. Manobras táticas ágeis e focadas em fragilidades do poderoso adversário para romper o cerco.

 

Luciano Siqueira, é médico, membro do Comitê Central do PCdoB e secretário nacional de Relações Institucionais, Gestão e Políticas Públicas do partido, foi deputado estadual em Pernambuco e vice-prefeito do Recife.

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

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