Rio de Janeiro, 05 de Dezembro de 2025

França enfrenta ação judicial coletiva por discriminação racial da polícia

Seis organizações de defesa dos direitos humanos pedem ao conselho que considere que o Estado cometeu violação grave de suas obrigações ao perpetuar essa prática e que ordene às autoridades que tomem as medidas necessárias para remediar a situação.

Sexta, 29 de Setembro de 2023 às 12:26, por: CdB

Seis organizações de defesa dos direitos humanos pedem ao conselho que considere que o Estado cometeu violação grave de suas obrigações ao perpetuar essa prática e que ordene às autoridades que tomem as medidas necessárias para remediar a situação.


Por Redação, com RTP - de Paris


Nesta sexta-feira, o Conseil d'État, o mais alto tribunal administrativo de França, analisou sua primeira ação coletiva contra o Estado por discriminação racial sistemática por parte da polícia, em especial de jovens árabes e negros, em controles de rotina.




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Tribunal analisa práticas da polícia contra jovens árabes e negros

Seis organizações de defesa dos direitos humanos pedem ao conselho que considere que o Estado cometeu violação grave de suas obrigações ao perpetuar essa prática e que ordene às autoridades que tomem as medidas necessárias para remediar a situação.


Os seis grupos de defesa dos direitos humanos franceses e internacionais, entre os quais a Amnistia Internacional France, a Human Rights Watch e a Open Society Justice Initiative - esperam acabar com a discriminação entre a polícia francesa, que segundo eles tem sido desconsiderada pelos sucessivos governos.


A ação coletiva dessas organizações surge após notificação formal enviada em 27 de janeiro de 2021 ao então primeiro-ministro francês Jean Castex, ao ministro do Interior, Gérald Darmanin, e ao ministro da Justiça Éric Dupond-Moretti, solicitando reformas estruturais e medidas concretas para pôr fim a essas práticas, mas que não mereceu resposta por parte das autoridades.


Os controles de identidade discriminatórios da polícia francesa, especialmente a pessoas de origem negra e do Norte da África que são sistematicamente interpeladas pela polícia sem qualquer explicação, já foram reconhecidos pelo presidente francês, Emmanuel Macron, e condenados ao longo da última década por diversos organismos independentes, desde as Nações Unidas ao Conselho da Europa. "Não é aceitável que as crianças em tenra idade tenham de aprender que a cor da sua pele é um problema", disse Omer Mas Capitolan, presidente de uma das seis organizações, a Casa Comunitária de Desenvolvimento Solidário.


Operação nos arredores de Paris


A audiência no tribunal ocorre três meses após a morte do jovem Nahel, de origem argelina, atingido por um agente da polícia, numa operação nos arredores de Paris, o que gerou forte onda de protestos e distúrbios contra a violência policial em todo o país. Durante os protestos contra a morte de Nahel, vários jovens franceses de origem árabe e negra, confessaram ser vítimas de discriminação generalizada.


O processo de 220 páginas é sustentado por declarações de 40 vítimas e também da polícia francesa, que pede ao Conseil d'État que obrigue o Estado a conter a essas práticas, por meio de medidas concretas, como a limitação dos poderes da polícia no controle da identidade ou a implementação de um sistema de registro dos controles feitos A ação coletiva não visa indenização das pessoas.


Apesar de as ações coletivas serem permitidos na França desde 2014, elas continuam a ser raras. "Esse acórdão traz esperança, uma vez que põe em prática medidas para transformar a polícia e um mecanismo de controle", afirmou Antoine Lyon-Caen, o advogado representante das seis organizações.


Ao final da audiência histórica, nesta sexta-feira à tarde, o advogado francês Antoine Lyon-Caen, acompanhado pelos representantes das seis organizações que entraram com a ação, fez uma declaração sobre o veredito do Tribunal de Paris. O julgamento deverá ocorrer nas próximas semanas.




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