Pesquisa realizada entre outubro e dezembro do ano passado mostra que mais de 116 milhões de pessoas conviveram com algum grau de insegurança alimentar no período. O aumento da fome no Brasil está mais acelerado nos últimos anos. Entre 2018 e 2020 a alta foi de 27,6% ao ano. Entre 2013 e 2018, esse ritmo não passava de 8%.
Por Redação, com BdF - de São Paulo
Cerca de 19 milhões de pessoas passaram fome durante a pandemia do coronavírus no Brasil. Uma pesquisa realizada entre outubro e dezembro do ano passado mostra que mais de 116 milhões de pessoas conviveram com algum grau de insegurança alimentar no período.
Isso significa que mais da metade dos domicílios brasileiros sofreu algum tipo de privação. Segundo o estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), o índice exato de famílias nessa situação chegou a 55,2%.
A conclusão é de que o aumento da fome no Brasil está mais acelerado nos últimos anos. Entre 2018 e 2020 a alta foi de 27,6% ao ano. Entre 2013 e 2018, esse ritmo não passava de 8%.
Vulneráveis
Não é de agora que o alerta sobre o problema passou a ser preocupação de organizações e movimentos sociais. Em 2018, a ActionAid já chamava atenção para as consequências do empobrecimento acelerado da população.
Aliado ao desmonte de instituições promovido pelo governo, à devastação ambiental e ao agravamento das mudanças climáticas, o cenário faz vítimas principalmente entre as populações mais vulneráveis e não é fruto apenas da crise do coronavírus.
Segundo o professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, especialista em segurança alimentar e coordenador Rede PENSSAN, Renato Maluf, não há indícios de que a situação melhorou este ano.
— A nossa pesquisa, embora tenha revelado um indicador alto, ela ainda pegou a presença do auxílio emergencial. Se tivesse sido feita sem o auxílio seria pior. Temos todas as razões para achar que nesses primeiros meses do ano a situação se agravou — afirmou ao site de notícias Brasil de Fato (BdF).
Auxílio
O especialista afirma ainda que nenhum dos fatores que influencia na segurança alimentar das famílias melhorou nos últimos meses. Entre eles estão as garantias de emprego e renda, cada vez mais enfraquecidas.
— Outro indicador indireto é verificar como aumentaram as manifestações de preocupação em relação à fome e as ações de solidariedade. Então, seja pelo agravamento dos determinantes, seja pela maior presença do tema nos debates públicos, tudo nos leva a crer que a situação só fez piorar — acrescentou.
Para conter o aumento fome no Brasil, Renato Maluf aponta que é preciso a retomada imediata do auxílio emergencial, com valor suficiente para que a ajuda ao sustento das famílias seja efetiva.
— Esse auxílio que o governo está retomando essa semana não vai dar para muita coisa — alerta.
Inquérito
Além disso, é necessário trabalhar politicamente para a retomada do emprego e preservação dos pequenos negócios. Em longo prazo, é preciso iniciativas mais fortes nas políticas de abastecimento.
— Apoio às iniciativas de aproximação de produtor e consumidor, circuitos curtos de produção, circulação e comercialização de alimentos. Existem centenas de iniciativas pelo Brasil nessa direção, é preciso agora que essas ações sejam fortalecidas e cheguem às periferias — acrescenta Renato Maluf.
O Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil utilizou a mesma metodologia adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desde 2004, classificando a população brasileira conforme suas condições de segurança e insegurança alimentar.