Rio de Janeiro, 21 de Novembro de 2024

Fome, a chaga do bolsonarismo

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Sexta, 23 de Dezembro de 2022 às 06:14, por: CdB

O literal abandono da União, de políticas públicas, voltadas para as camadas mais pobres da população, lançou milhões de brasileiros nessa desgraça. O governo federal aplicou uma política que, se não podemos chamar de genocida, por questões semânticas, eu acho, teve um efeito genocida.

Por Wellington Duarte– de Brasília

A palavra fome, vem do latim faminem, e é uma das chagas que perseguem a humanidade desde tempos imemoriais. As pessoas nunca deixaram de morrer de fome, seja por motivos naturais, resultados de catástrofes, seja por motivos políticos, cuja expressão principal é a guerra em todas as suas formas, direta ou indireta.
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O literal abandono da União, de políticas públicas, voltadas para as camadas mais pobres da população, lançou milhões de brasileiros nessa desgraça

A fome

A fome, na verdade, nunca se ausentou desse mundo. Durante toda a história da civilização, ocorreram grandes “epidemias” da fome. Mesmo com o desenvolvimento da agricultura, basicamente a partir do século XIX, a fome continuou a ser um pesadelo permanente, mas foi se restringindo à periferia da humanidade e tudo parecia indicar que no século XXI, com o avanço civilizatório, o mundo se uniria para erradicar a fome. Bobagem! Nesse ano, o Segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil apontou que 33,1 milhões de pessoas não têm garantido o que comer. Conforme o estudo, mais da metade (58,7%) da população brasileira convive com a insegurança alimentar em algum grau: leve, moderado ou grave. Nada menos que 16 entre cada grupo de 100 brasileiros está na “insegurança alimentar”, que é a falta de regularidade no acesso às refeições, ou seja, a fome espreita, bate à soleira da porta dos pobres. A fome, um dos Cavaleiros do Apocalipse, vaga pelo interior desse país, está nas periferias e observa, com sarcasmo, a classe média, temerosa de juntar-se aos famélicos. A pesquisa, divulgada em junho, cujos dados foram coletados entre novembro de 2021 e abril de 2022, por meio de entrevistas em 12.745 domicílios em áreas urbanas e rurais de 577 municípios distribuídos nos 26 estados e no Distrito Federal. A pesquisa anterior, de 2020, mostrava que a fome no Brasil tinha voltado para patamares equivalentes aos de 2004. Naquele momento tínhamos regredido 16 anos e agora são 18 anos de regressão civilizacional, na medida em que a fome campeando é um sinal claro de degradação política de um país, principalmente se ele não está em guerra ou sofrendo as consequências de uma catástrofe nacional.

Brasileiros desesperados

Ver, em 2022, brasileiros desesperados comendo restos de comida; recolhendo ossos “fornecidos” por empresas e sendo disputada pelos famintos; a desnutrição retornando e vitimando as crianças, é trágico. Essa fome que agora nos assombra tem uma digital muito clara e forçosamente podemos enxergar na figura trágica de Bolsonaro, sua representação mais visível desse tormento. O literal abandono da União, de políticas públicas, voltadas para as camadas mais pobres da população, lançou milhões de brasileiros nessa desgraça. O governo federal aplicou uma política que, se não podemos chamar de genocida, por questões semânticas, eu acho, teve um efeito genocida, pois constrangeu milhões de pessoas, todos de uma mesma classe social, os que não detentores dos meios de produção, ou seja, atingiu basicamente os trabalhadores e os que não mais trabalham (aposentados e pensionistas, crianças, doentes, etc). O que se viu foi um governo deliberadamente abrir as fronteiras do Brasil, para a fome, um dos quatros Cavaleiros do Apocalipse. Com a destruição das políticas públicas e a sabotagem durante o auge da Covid-19, cerca de 700 mil brasileiros morreram atingidos pela peste; milhões perderam seus empregos ou seus pequenos negócios; milhares estão sequelados e fragilizados pela peste, reduzindo sua capacidade laboral, tornando-os mais dependentes de políticas públicas. Se o novo governo cumprir a promessa de combater resolutamente a fome, teremos começado bem.

Wellington Duarte, é professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Gande do Norte - UFRN, doutor em Ciência Política e presidente do Sindicato dos Professores da UFRN (ADURN-sindicato).

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

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