Nas redes sociais, a tese bolsonarista espalhada por apoiadores era de que o termo "moeda corrente" significava que o imóvel teria sido pago com o Real (e não em dólar, por exemplo). O UOL, no entanto, contradisse explicitamente a versão e trouxe os detalhes de como foi adquirido cada imóvel.
Por Redação - de São Paulo
Candidato à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) confessou, na noite passada, em transmissão ao vivo pela internet, o que pode ser um crime de obstrução da Justiça. Ele avisou aos seus irmãos e outros familiares que eles são alvos de operações de busca e apreensão em suas casas relacionada a denúncia de suposta compra de imóveis em dinheiro.
Bolsonaro referia-se à denúncia publicada em reportagem do portal de notícias UOL, que levantou a compra de diversos imóveis desde a década de 1990 por Bolsonaro, sua mãe, irmãos, filhos e ex-mulheres. A apuração levantou que 51 dessas propriedades teriam sido pagas, total ou parcialmente, "em moeda corrente nacional", o que, de acordo com o site, é expressão padronizada para repasses em espécie.
— Já liguei para os meus irmãos. Meus parentes. ‘Cuidado que vão fazer uma busca e apreensão na casa de vocês. Já estou avisando. Vão fazer busca e apreensão na casa de vocês daqui a poucos dias’. Para ter aquele escândalo na mídia — revelou o presidente.
Escândalo
Bolsonaro, que negou irregularidades nas casas compradas por ele e seus familiares, argumentou ainda que não "entra na Justiça" sobre o que alega ser ‘fake news’ por que até as eleições não "daria tempo de ver alguma coisa".
Anteriormente, Bolsonaro (PL) falou, durante uma entrevista a uma rádio paulistana, que sua família não utilizou dinheiro em espécie em transações imobiliárias que somam R$ 25,6 milhões nos últimos 30 anos. Essa afirmação também foi desmentida. Os jornalistas Juliana Dal Piva e Thiago Herdy divulgaram documentos que comprovam que o clã Bolsonaro fez uso de dinheiro vivo para quitar 51 das 107 transações imobiliárias realizadas no período.
Na entrevista, Bolsonaro afirmou que a reportagem do UOL que levantou o escândalo imobiliário envolvendo sua família tentou confundir o uso do termo "moeda corrente nacional" com "dinheiro vivo”.
— Em qualquer escritura está escrito moeda corrente — diz ele.
Desmentido
Nas redes sociais, a tese bolsonarista espalhada por apoiadores era de que o termo "moeda corrente" significava que o imóvel teria sido pago com o Real (e não em dólar, por exemplo). O UOL, no entanto, contradisse explicitamente a versão e trouxe os detalhes de como foi adquirido cada imóvel, quanto foi pago por cada um e de que forma. Os dados estão acompanhados de documentos oficiais. A reportagem também entrevistou parte dos vendedores e consultou os próprios cartórios de notas.
A reportagem destaca, ainda, que 17 transações imobiliárias registradas pelo clã são citadas em investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro “a partir de dados de quebra de sigilo, sobre o esquema de rachadinha nos gabinetes de Carlos e Flávio Bolsonaro” e que “outros 24 imóveis estão em São Paulo, Estado em que cartórios devem declarar em escrituras formas de pagamento, ‘se em dinheiro ou cheque (...) ou mediante outra forma estipulada pelas partes’".
“No Rio, o Código de Normas da Corregedoria Geral de Justiça estadual determina desde 1999 que na lavratura de atos notariais conste a "declaração de que foi pago em dinheiro ou em cheque, no todo ou em parte, discriminando, neste caso, valor, número e banco contra o qual foi sacado", resume a reportagem.