A lista de reivindicações é extensa. Entre os 19 itens, está o fim do score. O sistema implantado pelo iFood desde o fim do ano passado vem se expandindo por todo o país e dá notas de 1 a 3 aos trabalhadores.
Por Redação, com Brasil de Fato - de Brasília
A partir de sexta-feira, em meio ao feriado prolongado de Corpus Christi, entregadores do iFood de todas as macrorregiões do país planejam paralisar. Mobilizações estão previstas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Distrito Federal, Pernambuco, Ceará, Pará, entre outros Estados.
A lista de reivindicações é extensa. Entre os 19 itens, está o fim do score. O sistema implantado pelo iFood desde o fim do ano passado vem se expandindo por todo o país e dá notas de 1 a 3 aos trabalhadores. Quanto menor a pontuação, menos pedidos a pessoa recebe e, consequentemente, mais baixa sua remuneração.
Além disto, os grevistas querem, entre outras demandas, que a taxa mínima paga por corrida seja de R$10 e o aumento do valor pago por km, que a distância das entregas de bike sejam de no máximo 3km, que haja um peso limite para as entregas de mercado e que terminam as entregas duplas ou triplas numa mesma corrida.
Espalhou
A faísca da mobilização nacional, dessa vez, veio de Jaraguá do Sul (SC). Insatisfeitos com as condições de trabalho, entregadores fizeram uma paralisação no último 21 de abril, travando as coletas do shopping principal da cidade. Inspirados, entregadores de Floripanópolis entraram em contato, resolveram organizar algo para 9 de junho e, por meio de grupos de WhatsApp, a coisa foi crescendo e tomou proporção nacional.
– Ia ser só na região – conta Eli, entregador de Floripa que preferiu não expor o sobrenome. “Só que o pessoal de Norte a Sul do país começou a ter acesso aos grupos e pediram que fosse uma paralisação geral. Porque o problema que os entregadores aqui no Sul estão tendo, é igual em São Paulo, Belo Horizonte, Belém, Rio de Janeiro e assim por diante. Então não deu nem muito trabalho de passar a visão para o pessoal, todo mundo já sentiu qual que é a pegada, entendeu?”, conta.
Jean Carlos dos Santos, entregador de Jaraguá do Sul, administra atualmente três grupos de WhatsApp de organização da greve, com cerca de mil entregadores em cada um. “Esses são os grupos gerais, junta gente de vários lugares. O entregador entra, encontra o grupo da sua cidade ou do seu estado, aí vai para o grupo local”, explica Santos.
– A paralisação se faz necessária pelos abusos cometidos pelo iFood – diz Jean, se referindo à empresa hegemônica do setor de delivery no país. Para além de desligar o app, as ações são variadas em cada lugar.
Em São Paulo, por exemplo, um ato com café da manhã coletivo está sendo convocado para as 10h na frente do escritório do iFood, na av. dos Autonomistas, em Osasco (SP). A ideia é também divulgar o próximo breque geral, agendado para 1 e 2 de julho.
– A intenção real da paralisação é chamar a atenção do iFood – afirma Jean. “Quando temos um problema, não somos tratados da forma como deveríamos e ainda somos punidos com o score. Então a gente quer atenção, reconhecimento e respeito”, resume Jean.
Ao Brasil de Fato, a empresa informou que “respeita o direito à manifestação e livre expressão” e que trabalha “na construção de espaços recorrentes e permanentes de escuta e melhoria constante”.
O iFood afirmou, ainda, que se dedica “na criação de uma agenda sólida e perene de diálogo com os trabalhadores e representantes da categoria para o aprimoramento de iniciativas que garantam mais dignidade, ganhos e mais transparência para estes profissionais”. “Eles falam que respeitam a classe”, comenta Jean, “mas na verdade não estão nem aí para o motoboy”.
Regulamentação
A mobilização nas ruas acontece quando se começa a discutir em Brasília a regulamentação do trabalho em aplicativos. Na última segunda-feira, o Ministério do Trabalho fez a primeira reunião do Grupo de Trabalho (GT) que, por decreto presidencial, tem até o 28 de setembro para elaborar uma proposta de ato normativo sobre o tema.
O grupo é composto por 15 membros do governo federal, 15 das empresas e 15 dos trabalhadores. Estes últimos, com exceção de um integrante da Aliança Nacional dos Entregadores (ANEA), está sendo representado por centrais sindicais. Na abertura dos trabalhos, o ministro Luiz Marinho declarou que uma proposta sobre o tema deve ser entregue ao Congresso Nacional ainda neste ano.
– As pessoas que estão lá representando a classe dos entregadores, eles não nos representam. A gente não quer que seja uma regulamentação feita a portas fechadas – opina Eli. “O que a gente quer é que Brasília venha para a rua através desses movimentos”, completa.
“Injustiças”
– Vida de motoboy é isso – escreve Jean, em mensagem acompanhada pela foto de um colega com o braço enfaixado. “Não dá para trabalhar por migalhas”, complementa.
– Se tua Internet cai, a corrida é deslocada, você ganha castigo e fica horas sem trabalhar. Teve caso de amigo meu que se acidentou de moto, não conseguiu concluir a corrida e foi punido. O iFood puniu, baixou o score – exemplifica Santos. “Hoje você é obrigado a fazer tudo o que o iFood quer, pelo preço que eles determinam e se acontece alguma coisa, você ainda é punido”, critica.
– Às vezes você tem que fazer duas, três, até quatro entregas numa só corrida. Eles te pagam o valor de uma entrega – se queixa o entregador catarinense. “Então”, conclui, “são várias injustiças que estão fazendo com que o pessoal pare”.