“Num geral, faz sentido aumentar os seus graus de liberdade, dada a fase do ciclo de afrouxamento e a maior incerteza (…) Apesar da orientação futura, não esperamos uma alteração na flexibilização total ou um abrandamento do ritmo”, disseram em nota David Beker, chefe de economia e estratégia para Brasil, e Natacha Perez, economista para Brasil, do Bank of America.
Por Redação, com Bloomberg - de Brasília e São Paulo
No dia seguinte ao corte de meio ponto percentual na taxa oficial de juros do país, a Selic, economistas ainda acreditavam na possibilidade de o Banco Central (BC) cortar o índice em um novo meio ponto para além da reunião de política monetária de maio. Mas alguns analistas avaliam que o novo ‘guidance’ aumenta a probabilidade de o colegiado desacelerar o ritmo da flexibilização monetária à frente.
O Comitê de Política Monetária do BC anunciou, na véspera, uma nova redução de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, a 10,75% ao ano, e encurtou sua indicação sobre cortes futuros ao citar uma ampliação de incertezas, afirmando que sua diretoria antevê corte na mesma intensidade apenas na próxima reunião, em maio. Desde agosto, a orientação era de novos cortes equivalentes nas próximas reuniões, no plural.
“Num geral, faz sentido aumentar os seus graus de liberdade, dada a fase do ciclo de afrouxamento e a maior incerteza (…) Apesar da orientação futura, não esperamos uma alteração na flexibilização total ou um abrandamento do ritmo”, disseram em nota David Beker, chefe de economia e estratégia para Brasil, e Natacha Perez, economista para Brasil, do Bank of America, que estimam taxa Selic terminal de 9,50%.
Taxa terminal
Para a equipe macroeconômica da Genial Investimentos, que manteve projeções de cortes da Selic de 0,50 ponto percentual nas duas próximas reuniões e um corte final de 0,25 ponto em julho, a 9,5%, “cabe destacar que o Comitê sinalizou que o cenário-base não se alterou substancialmente, dando a entender que o atual plano de voo ainda pode ser executado”.
Mario Mesquita, economista chefe do Itaú, foi na mesma linha: “o Copom afirmou que seu cenário não mudou e manteve sua projeção de inflação para 2025. Isso sugere, pelo menos no momento, uma taxa terminal inalterada”, disse ele, que tem como projeção juros a 9,25% ao final de 2024.
Em seu comunicado, o BC informou que, no cenário de referência, a estimativa para a inflação persiste em 3,5% para 2024 e 3,2% para 2025. No início do mês, o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, já havia dito em evento que mudanças no ‘guidance’ “não necessariamente significam uma correlação com a taxa de juros terminal”, e que o Copom estava ganhando tempo para “ver como as coisas vão se desdobrar”.
Espaço
Parte dos economistas aponta que o balanço de riscos está se deslocando no sentido de uma desaceleração do ritmo de cortes ser mais provável do que uma intensificação, o que poderia eventualmente levar a aumentos nas projeções das grandes instituições financeiras para a Selic – embora esse ainda não seja o caso.
“A nosso ver, a mudança na orientação aumentou a dependência de dados tanto das futuras decisões de cortes de taxas do Copom como da sua orientação. Acreditamos que há espaço para flexibilização no mesmo ritmo para as próximas reuniões, mas reconhecemos que a decisão de hoje (quarta-feira) aumentou o viés no sentido de uma redução no ritmo dos cortes em 2024”, resumiram a economista-chefe do Santander, Ana Paula Vescovi, e sua equipe em relatório.