Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes autorizou a ação da PF, mas negou o pedido de prisão imediata do senador, embora ele não esteja totalmente livre do risco de ser detido por tempo indeterminado, caso a Corte perceba qualquer movimento no sentido de atrapalhar as investigações em curso.
Por Redação - de Brasília
Tanto o mandato quanto a liberdade do senador Marcos Do Val (Podemos-ES) estão ameaçados, por conta da operação da Polícia Federal (PF), que investiga a participação dele no golpe fracassado em 8 de janeiro. Com o acúmulo de evidências sobre o papel do parlamentar na trama golpista, seus colegas no Senado o abandonaram à própria sorte.
Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes autorizou a ação da PF, mas negou o pedido de prisão imediata do senador, embora ele não esteja totalmente livre do risco de ser detido por tempo indeterminado, caso a Corte perceba qualquer movimento no sentido de atrapalhar as investigações em curso.
Do Val é investigado por, supostamente, agir no sentido de impedir que o inquérito sobre os atos golpistas avancem. Entre as razões alegadas pelas autoridades para vasculhar os endereços do senador, tanto em Brasília quanto em Vitória, está o uso de informação sigilosa da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Segundo a PF, Do Val teve acesso antecipado ao relatório produzido pela Abin que alertava sobre o risco de invasão das sedes dos Três Poderes. O documento secreto foi enviado à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI), responsável por fiscalizar os órgãos de inteligência do governo federal. O material, porém, foi divulgado pelo parlamentar em suas redes sociais como uma forma de tentar culpar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelos atos terroristas.
Abandonado
O isolamento de Do Val é tamanho que nenhum de seus colegas, mesmo aqueles aliados mais próximos, saiu em sua defesa. Até a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) ou seu conterrâneo, Magno Malta (PL-ES); sequer o ex-juiz incompetente e suspeito Sérgio Moro (PL-PR), hoje senador; Eduardo Girão (Novo-CE) ou Flávio Bolsonaro (PL-RJ) pronunciaram-se em favor do investigado.
Se depender do senador Otto Alencar (PSD-BA), que já trocou farpas com o bolsonarista em sessão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8/1, propôs que Do Val seja investigado no Conselho de Ética da Casa.
— Por falta de ética, por faltar com a verdade, por participar do apoio à tentativa de golpe, por ter me gravado na CPI da Covid sem autorização, Marcos do Val já deveria estar sendo julgado no Conselho de Ética do Senado, até porque a psiquiatria não deu jeito — afirmou Alencar.
Golpe
Em entrevista à revista semanal de ultradireita Veja, no início deste ano, Marcos do Val revelou um suposto plano no qual ele tentaria gravar inconfidências do ministro Alexandre de Moraes durante uma reunião privada para, em seguida, usar a gravação como argumento para anular as eleições. Na ocasião, o senador afirmou ter discutido previamente a estratégia com o próprio Bolsonaro.
Em uma conversa com outra fonte ligada ao caso, um interlocutor exemplificou a prática do senador contando ter recebido dele uma mensagem agradecendo por uma suposta reunião ocorrida no dia anterior. Só que o encontro nunca existiu. “As pessoas já sabiam da prática e nem respondiam”, disse a fonte.
As mudanças bruscas em declarações públicas, que contrastavam inclusive com as que foram prestadas no depoimento à PF logo após a entrevista sobre o plano golpista, levaram os investigadores a acreditar que Marcos do Val estava atrapalhando as investigações de forma consciente.
Na prisão
Para o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, mesmo sem mencionar diretamente o senador, a operação da PF contra o congressista é “normal da democracia” e disse que o governo federal não tem nada a dizer sobre o assunto, já que se trata de um caso de “polícia”, e não de “política”.
— Temos processos, inquéritos, que se referem ao 8 de Janeiro que são conduzidos pelo Judiciário. Então, há fases que são continuadas. Nós já temos mais de 1,3 mil pessoas que respondem a processos criminais e isso é normal da democracia. Temos um Judiciário independente, temos uma Polícia Federal que cumpre as ordens judiciais e realiza as investigações que a lei manda, independentemente de quem seja a pessoa investigada — concluiu.