A ciência e a prática epidemiológica então já comprovavam a eficácia das vacinas e a disposição dos governos para que as usassem em defesa da população. Mas, assim mesmo, Bolsonaro insistia em refutar a necessidade do imunizante.
Por Luciano Siqueira - de Brasília
O curso da História às vezes se altera a partir de um fato aparentemente fortuito, sob circunstâncias consideradas convencionais.
Terrível é uma nação estabelecer um divisor de águas entre os que acreditam na ciência e os que a rejeitam e, no final das contas, seu destino mudar de curso ou não por uma furada de agulha.
No auge da pandemia da covid-19, que ceifou a vida de centenas de milhares de brasileiros e brasileiras, o então presidente da República, capitão Jair Bolsonaro, persistia em sua cruzada negacionista que o levava a considerar a doença do mesmo naipe de uma gripezinha e a colocar toda a sorte de empecilho à vacinação em massa da população.
A ciência e a prática epidemiológica então já comprovavam a eficácia das vacinas e a disposição dos governos para que as usassem em defesa da população. Mas, assim mesmo, Bolsonaro insistia em refutar a necessidade do imunizante.
Concomitantemente disseminou versões tão absurdas quanto ridículas, como a associação da imunização com infecção pelo vírus da aids.
A cloroquina e assemelhados, isto sim, no dizer do capitão é que tinham eficácia no tratamento clínico dos infectados, embora as pesquisas vigentes o negassem.
Eis que, como uma espécie de comprovação de sua atitude anticientífica, difundia suposta decisão pessoal de jamais se vacinar contra a covid.
Cartão de imunização
Agora a nação está prestes a saber que, muito ao contrário, o presidente havia se vacinado, mas cuidara de decretar sigilo absoluto do seu cartão de imunização por exatos 100 anos, convertendo-o, a seu juízo, em segredo de Estado.
Havíamos chegado ao fundo de um poço enlameado pelo genocídio e pela mentira.
Felizmente agora se constrói outra trajetória para o Brasil, exorcizando a ameaça de ter seu destino de grande nação dependente da picada de uma agulha.
Luciano Siqueira, é Médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB
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