Acompanhado de seus advogados, o mandatário Jair Bolsonaro também afirmou que pediu a substituição do delegado Maurício Valeixo – pivô da última crise entre Moro e Bolsonaro no governo – “em razão da falta de interlocução” com o então diretor, no Rio de Janeiro.
Por Redação - de Brasília
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) prestou depoimento, na noite passada, dentro do inquérito que investiga a possível tentativa de interferência política do chefe do Executivo na Polícia Federal (PF). Bolsonaro recebeu os agentes da PF no Palácio do Planalto e disse que “jamais teve qualquer intenção” de interferir na PF quando ‘pediu’ ao ex-ministro Sérgio Moro as mudanças na diretoria-geral e nas superintendências da corporação. Os advogados de Moro não estavam presentes à oitiva e já adiantaram que pretendem questionar a medida, judicialmente.
Acompanhado de seus advogados, o mandatário também afirmou que pediu a substituição do delegado Maurício Valeixo – pivô da última crise entre Moro e Bolsonaro no governo – “em razão da falta de interlocução” com o então diretor, no Rio de Janeiro. Por mais de uma vez, Bolsonaro denunciou o então ministro da Justiça e Segurança Pública; ex-aliado que se torna adversário nas eleições 2022.
O presidente repetiu a acusação de que o ex-juiz da Lava Jato teria concordado em colocar o delegado Alexandre Ramagem na chefia da PF “desde que ocorresse após a indicação do ex-Ministro da Justiça à vaga no Supremo Tribunal Federal”. Indicou, ainda, que o o ex-juiz administrava “a pasta sem pensar no todo, sem alinhamento com os demais ministérios e o Gabinete da Presidência”.
Informações
O presidente ainda reclamou de suposto pouco caso do então ministro quanto às investigações de seu interesse, entre elas a suposta facada em Juiz de Fora, na campanha de 2018, e a apuração sobre a citação do nome do presidente no inquérito sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Bolsonaro disse que cobrou de Moro “uma investigação mais célere e objetiva” sobre os inquéritos, mas não “observou nenhum empenho do ex-ministro em solucionar o assunto”.
Durante o depoimento, Bolsonaro também foi questionado sobre declarações dadas sobre a polêmica reunião ministerial do dia 22 de abril, tornada pública no âmbito das investigações do inquérito ‘Moro x Bolsonaro’. Sobre a afirmação “a PF que não me dá informações”, o presidente disse que “se referia a relatórios de inteligência sobre fatos que necessitava para a tomada de decisões”. Já sobre a frase “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro,
oficialmente, e não consegui!”, Bolsonaro disse que se referia a “um pequeno núcleo do GSI sediado no Rio de Janeiro”, responsável por “sua segurança pessoal e da sua família”.
Bolsonaro confirmou aos agentes da PF que pediu a troca de Valeixo e também solicitou a mudança na Superintendência de Pernambuco, em março de 2020. Confirmou, ainda, que pediu a troca da chefia da PF no Rio, em 2019 – a qual gerou a primeira crise pública entre o chefe do Executivo e o ex-juiz. Na ocasião, Bolsonaro levantou a possibilidade da unidade fluminense da PF ser chefiada pelo delegado Alexandre Saraiva, que acabou se tornando um desafeto do governo após acusar o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles de patrocinar diretamente interesses de madeireiros.
Supremo
A forma encontrada para ouvir o presidente, no âmbito da investigação, tornou-se um impasse no Supremo Tribunal Federal (STF), que acabou travando as investigações. Em um primeiro momento, Bolsonaro recorreu à corte para depor por escrito, mas depois quis ‘desistir’ da oitiva. No início de outubro, manifestou ‘interesse em depoimento mediante comparecimento pessoal’, um ano depois de acionar a corte.
Após Bolsonaro informar ao Supremo que iria depor por escrito no inquérito, o ministro Alexandre de Moraes, relator da investigação no STF, determinou, no dia 7 de outubro, que a PF ouvisse o presidente em até 30 dias, mediante ‘prévio ajuste de local, dia e hora’.
O depoimento de Bolsonaro era uma das últimas etapas para a conclusão do inquérito. Assim que for finalizado, o relatório da PF será enviado à Procuradoria-Geral da República (PGR), a quem cabe decidir se há provas suficientes para a apresentação de uma denúncia contra o presidente.
Sérgio Moro
Em nota, a defesa do ex-ministro Sérgio Moro reagiu ao fato de que não foi comunicada do depoimento, “impedindo seu comparecimento a fim de formular questionamentos pertinentes”. O ex-decano Celso de Mello, ao determinar que Bolsonaro prestasse o depoimento presencialmente, havia autorizado os advogados do ex-juiz a formularem perguntas a serem feitas ao chefe do Executivo.
“A Defesa do ex-ministro Sérgio Moro foi surpreendida pela notícia de que o presidente da República, investigado no Inquérito 4831, prestou depoimento à autoridade policial sem que a defesa do ex-ministro fosse intimada e comunicada previamente, impedindo seu comparecimento a fim de formular questionamentos pertinentes, nos moldes do que ocorreu por ocasião do depoimento prestado pelo ex-ministro em maio do ano passado.
“A adoção de procedimento diverso para os dois coinvestigados não se justifica, tendo em vista a necessária isonomia entre os depoentes”, resumiu Rodrigo Sánchez Rios, advogado do ex-ministro Sergio Moro que pretende contestar a oitiva, junto ao STF.