Braço forte da espinha dorsal do governo, o ministro Paulo Guedes enfrenta críticas cada dia mais contundentes e insiste no arrocho fiscal, ao mesmo tempo em que contribui para afastar aliados da agenda de Bolsonaro no Congresso Nacional “por não ter entregue o que prometeu ao longo do mandato”, acrescenta.
Por Redação, com BdF - de Brasília
Em apuros diante do estrago econômico que se avoluma no país, o governo Bolsonaro vê o Ministério da Economia derreter, em meio à crescente perda de confiança e prestígio do titular da pasta, Paulo Guedes, dentro e fora da gestão, avalia o cientista político Leonel Cupertino.
Braço forte da espinha dorsal do governo, o ministro Paulo Guedes enfrenta críticas cada dia mais contundentes e insiste no arrocho fiscal, ao mesmo tempo em que contribui para afastar aliados da agenda de Bolsonaro no Congresso Nacional “por não ter entregue o que prometeu ao longo do mandato”, acrescenta.
Especulações
A crise em torno da pasta tem como pano de fundo um mosaico de diferentes elementos. Têm destaque a alta da inflação e do custo de vida no país, o aumento exponencial do desemprego ao longo da gestão e a recente polêmica dentro do governo sobre o valor a ser aplicado para o Auxílio Brasil, programa social que deve substituir o Bolsa Família.
— É uma situação complicada. O ministro Paulo Guedes está em baixa dentro do Congresso já tem um tempo. Pra onde você olha, a situação do ministro está difícil — assinala Cupertino, que acompanha diariamente as articulações no Legislativo e atua na área de consultoria política.
Após o pedido de exoneração anunciado na quinta-feira à noite por quatro dos secretários diretamente subordinados a Guedes na pasta, cresceram as especulações em torno de possível exoneração do mandatário.
— A debandada é um péssimo sinal pro Brasil. É o derretimento do Ministério da Economia como a gente conhecia, guardião da âncora fiscal. E agora o que vem por aí não se sabe — analisa Cupertino, ao sinalizar que o cenário se torna cada dia mais politicamente insustentável para a manutenção de Guedes no governo.
Fundamentos
Paralelamente, o ministro tenta despistar as suspeitas de que pode deixar a pasta a qualquer momento. Em coletiva na véspera, acompanhado de Jair Bolsonaro (sem partido), o ministro da Economia também acenou para o populismo que marca a conduta do presidente da República.
— O teto é um símbolo de austeridade para as gerações futuras, mas não vamos deixar a população passar fome para tirar 10 na política fiscal — pontuou.
A manifestação se alinha à ideia de implantação do Auxílio Brasil – visto no mundo político como iniciativa voltada à tentativa de reeleição de Bolsonaro em 2022 – e ao benefício de R$ 400 de “auxílio-diesel” para caminhoneiros, anunciado nos últimos dias por Bolsonaro.
— Do ponto de vista fiscal, isso não abala os fundamentos fiscais da economia brasileira — completou Guedes, em uma tentativa de apagar o incêndio que hoje circunda o governo por conta do tema.
Mais críticas
Enquanto divergências relacionadas ao Teto dos Gastos marcam as tratativas entre a ala econômica e a ala política do governo, alguns personagens desta última começam a dar sinais de distanciamento da gestão.
A conduta é associada ao fiasco econômico gerado pela cartilha ultraliberal de Guedes – cujos resultados passaram a constranger aliados do governo diante de suas bases eleitorais nos estados –, que estremeceu o cenário político nos últimos tempos, mas também pelos escândalos de corrupção que cercam o ministro, o presidente da República e seu clã.
— Eu não vejo exatamente entre a maioria dos parlamentares um clima para impeachment do Bolsonaro, por exemplo, mas já está um tanto claro que vários integrantes da base aliada hoje evitam se associar diretamente à figura do presidente e detestam o Guedes, que eu entendo que está fritando — disse ao site de notícias Brasil de Fato um deputado federal do MDB que não quis se identificar. O partido é alinhado com o governo no Congresso em diferentes agendas.