Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Cristo vai voltar em meio às conspirações de evangélicos com a extrema-direita

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Domingo, 05 de Julho de 2020 às 15:03, por: CdB

Ao contrário do esperado, os evangélicos não se opuseram ao discurso armamentista, racista, de ódio e de destruição da democracia do candidato eleito presidente,  Jair Bolsonaro.  Alguns dos pastores evangélicos tiveram e têm papel importante na circulação de fake news.

Rui Martins, de Genebra, editor do Direto da Redação:
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O fake-news evangélico da próxima volta de Cristo
Cristo vai voltar — garantem os pastores evangélicos em seus vídeos no youtube vistos por milhares de fiéis, que chegam a render 8 mil reais por mês segundo informações da agitadora Sara Winter, frustrada por ter perdido a monetização de seus vídeos, atacando o STF e chamando os homens para a luta. Outros garantem estar próximo o fim-do-mundo, num cataclisma mundial. A nova peste ou a pandemia do coronavírus veio como anunciadora dos últimos dias de nosso planeta. Essa é a maneira profética e atemorizante como pastores, videntes e médiuns em contato com espíritos interpretam o caos sanitário, econômico e mesmo político do momento atual. O apelo é para o arrependimento, pois se Cristo decide mesmo retornar, vai ser para julgar vivos e mortos. O Ibope não fez ainda uma sondagem a respeito, mas se fizer o resultado será catastrófico — a maioria será considerada pecadora, culpada e boa para virar churrasco no fogo do Inferno. Mas não é só isso. Quem não se impressiona com os gritos histéricos dos pregadores pode acabar se deixando influenciar pelos rumores de complôs e conspirações circulando pela Internet e influenciando milhares de pessoas. E o que dizem esses rumores? Coisas horríveis! Por exemplo: somos governados por uma elite satânica. O povão não sabe, mas embaixo de nós, de nossas cidades, existem túneis subterrâneos, onde gente importante como políticos, atores de Hollywood e canais de televisão, os mais ricos empresários praticam atos imorais, torturam crianças e bebem seu sangue. Quem propaga isso? Tudo começou nos Estados Unidos com sites ou plataformas na internet de trocas de imagens e mensagens como 4chan e 8chan, inspirados em modelo japonês. Mas acabaram se transformando em pontos de encontro da extrema-direita, supremacistas brancos, verdadeiros gabinetes de ódio propagadores de teorias de conspirações e complôs, hoje conhecidas como fake news. A essas plataformas pertenciam membros mais fanatizados e extremados responsáveis por graves atentados cometidos de maneira individual. Hoje, esses extremistas com ramificações pela Europa e mesmo na Suíça, são conhecidos como membros de QAnon. Originalmente Q era um utilizador anônimo, Anon, dizendo-se funcionário do governo americano, que passou a divulgar as teorias mais malucas sobre os governos mundiais. A única esperança, dizem que é Donald Trump, capaz de utilizar o exército contra esse Estado satânico. Quem são os financiadores dessa sociedade secreta? A plataforma mundial tem o nome de Qlobal-Change no Youtube. Especializado em versões fantasiosas, dizia recentemente que as manifestações Black Lives Matter eram organizadas com o objetivo de desencadear uma guerra civil e derrubar Donald Trump. O próprio presidente Trump e seu ex-assessor Steve Bannon, já foram citados como inspiradores. No mês de maio, um grupo com o Q nas camisetas saiu do anonimato, manifestando em Zurique, para denunciar o complô mundial (!). Considerados como potencialmente terroristas por ameaçarem entrar em luta, eles revelam a extraordinária força das redes e plataformas baseadas na Internet, como Facebook, Youtube e Twitter que, valendo-se da liberdade de informação pregam justamente o oposto — uma sociedade totalmente controlada pelos detentores do Poder. E aqui chegamos ao Brasil, onde a campanha de Bolsonaro para a presidência foi feita à base de mentiras e falsas informações, teorias conspiratórias e de complôs, adicionada de discursos de ódio, prevendo matar os adversários “corruptos” e fazer uma limpeza necessária, no que se passou a chamar de gabinete do ódio. Ao contrário do esperado, os evangélicos (a versão populista dos Evangelhos, propagada por divulgadores sem formação teológica, mas chamados de pastores por tocarem o rebanho doutrinado e manipulado) não se opuseram ao discurso armamentista, racista, de ódio e de destruição da democracia em favor de uma ditadura, preparando-se para imitar o clero de outras ditaduras passadas e presentes, para se aproveitar desse concubinato com o Poder. Sem esquecer da ligação de Bolsonaro com Trump e Bannon, sem dúvida bem vista pelos terroristas fake-news da Internet do QAnon. *** Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A Rebelião Romântica da Jovem Guarda, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil, e RFI. Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martns.
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