O traficante, segundo os investigadores, operava de forma metódica. Com uso de planilhas para organizar a compra de armamentos, criou um grupo de mensagens chamado “Amigos do Transporte”.
Por Redação, com Agenda do Poder – do Rio de Janeiro
Uma investigação conduzida pela 60ª DP (Campos Elísios) revelou o funcionamento de uma engrenagem clandestina que sustentava financeiramente a expansão do Comando Vermelho no Rio de Janeiro. De acordo com informações divulgadas pelo jornal Extra e confirmadas por relatórios policiais, traficantes utilizavam os serviços de um taxista como uma espécie de “carro-forte” para circular grandes quantias em dinheiro vivo pela cidade sem levantar suspeitas.

Em um dos áudios interceptados durante a apuração, Luiz Carlos Bandera Rodrigues, conhecido como Zeus ou Da Roça, apontado como chefe do tráfico na comunidade da Muzema, aparece negociando o transporte de R$ 450 mil em espécie. A quantia deveria sair do Complexo do Alemão, na Zona Norte, e chegar a outro ponto da cidade com discrição total.
– Não posso mandar sair com R$ 450 mil de dentro da favela por qualquer um não. Tem que ser da nossa confiança – escreveu Da Roça em uma das conversas obtidas pela polícia.
O traficante, segundo os investigadores, operava de forma metódica. Com uso de planilhas para organizar a compra de armamentos, criou um grupo de mensagens chamado “Amigos do Transporte”, onde recrutava motoristas e intermediava a logística dos carregamentos, tanto de dinheiro quanto de armamento pesado.
A apuração também identificou que mototaxistas eram parte do esquema. Um deles, oriundo da comunidade de Manguinhos, era responsável por transportar fuzis entre comunidades. Em uma das tratativas interceptadas, um dos interlocutores assegura que o transporte seria facilitado porque o armamento podia ser desmontado antes de chegar à favela da Rocinha, na Zona Sul.
Suspeita de lavagem de dinheiro em mansão de luxo
A Polícia Civil investiga ainda se Jhonnatha Schimitd Yanowich, preso em São Paulo por lavagem de dinheiro e porte ilegal de armas, financiava seu estilo de vida luxuoso com recursos do tráfico ligados ao Comando Vermelho. Em sua residência no condomínio Novo Leblon, na Barra da Tijuca, Zona Oeste, agentes apreenderam um arsenal composto por 16 fuzis e 20 pistolas, além de dólares e dois relógios de luxo avaliados em R$ 2,5 milhões, um deles com mostrador feito de pedras de diamante.
A casa, que possui 1,3 mil m², elevador, boate com iluminação profissional e sistema de som, contava com um mecanismo de bloqueio de sinal de celular no ambiente de festas. Em nova diligência no imóvel, os policiais encontraram um caminhão estacionado nas proximidades. O veículo pertencia a Yanowich e, em seu interior, havia diversas obras de arte, que foram apreendidas e passarão por perícia para avaliação financeira.
De acordo com a apuração do telejornal RJ2, a polícia identificou movimentações financeiras consideradas atípicas entre Yanowich e a colecionadora de arte Geneviève Boghici, viúva do marchand Jean Boghici. Entre abril e maio de 2021, Geneviève teria realizado três depósitos que somam mais de R$ 18 milhões para o investigado.
Yanowich afirmou às autoridades que o valor se referia a uma comissão de 10% sobre a venda de uma obra de arte a uma cliente da Argentina, mas ele nunca apresentou documentos que comprovassem a transação.
A família Boghici esteve envolvida em um escândalo recente quando Geneviève acusou a própria filha, Sabine Boghici, de aplicar um golpe e furtar obras valiosas do acervo do pai. Sabine chegou a ser presa, mas morreu antes que o caso fosse julgado pela Justiça.
Até o momento, a reportagem não conseguiu contato com a defesa dos citados. As investigações continuam e podem revelar novas conexões entre o crime organizado, o mercado de arte e o setor imobiliário de luxo no Rio de Janeiro.