Domingo, 16 de Dezembro de 2018 às 17:10, por: CdB
A questão venezuelana, porém, insere-se em um quadro mais diversos no amplo tabuleiro geopolítico mundial. Na análise do filósofo esloveno Slavoj Žižek, de 69, autodeclarado pós-marxista e sempre polêmico, a questão central não é mais “o velho comunismo, e sim um novo comunitarismo globalista”.
Por Redação, com agências internacionais - de Brasília, Caracas, Liubliana, Moscou, Pequim e Washington
A tensão na América Latina aumentou, nos últimos dias, com o ingresso direto dos setores de segurança russos e chineses no conflito em curso entre a Venezuela e os Estados Unidos. Enquanto a Rússia já atinge o estágio de enviar armas táticas, a exemplo dos dois bombardeiros com capacidade nuclear, a China amplia o suporte econômico ao governo de Nicolás Maduro (PSUV).
A questão venezuelana, porém, insere-se em um quadro mais diversos no amplo tabuleiro geopolítico mundial. Na análise do filósofo esloveno Slavoj Žižek, de 69, autodeclarado pós-marxista e sempre polêmico, a questão central não é mais “o velho comunismo, e sim um novo comunitarismo globalista”.
— Olhe o que aconteceu na China no último meio século. Houve alguma vez na história da humanidade um desenvolvimento econômico tão explosivo? É impressionante. A figura que anunciou nossa época foi Lee Kuan Yew, o falecido líder de Singapura. Ele criou a fórmula do autoritarismo “com valores asiáticos”. A China demonstra, em nível maciço, que isso funciona — afirmou, em entrevista a um diário conservador espanhol, neste domingo.
Nova tensão
Ainda segundo Žižek, “o capitalismo chinês é o capitalismo sob o domínio de um partido autoritário”.
— É uma nova combinação de capitalismo mundial em que o país participa do mercado global, mas ideologicamente funciona para dentro de uma maneira patriótica, etnocêntrica — acrescenta.
Parte da escalada no confronto entre EUA e Venezuela, ainda segundo Žižek, consiste no fato de a China passar a ser “o paradigma da nova tensão”.
— Como está há décadas sem experimentar seu armamento sobre o terreno, diferentemente dos EUA, precisa testá-lo, e a melhor forma de fazer isso é com uma guerra. É a situação mais perigosa — acredita.
Conflito armado
De forma inexorável, um possível conflito entre os norte-americanos e o regime de Caracas passará pelas fronteiras brasileiras, segundo análise da maioria dos teóricos ouvidos pela reportagem do Correio do Brasil. Ainda neste domingo, o futuro ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou pelas redes sociais que o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, não foi convidado para a posse do presidente eleito Jair Bolsonaro, marcada para 1º de janeiro.
"Em respeito ao povo venezuelano, não convidamos Nicolás Maduro para a posse do PR Bolsonaro. Não há lugar para Maduro numa celebração da democracia e do triunfo da vontade popular brasileira. Todos os países do mundo devem deixar de apoiá-lo e unir-se para libertar a Venezuela", publicou no Twitter.
A decisão fez aumentar a tensão entre os vizinhos, uma vez que Maduro denunciou, na quarta-feira, o envolvimento do Brasil em um plano de desestabilização da sociedade venezuelana, por parte dos EUA.
Governo legítimo
O diplomata Ernesto Araújo tensiona, ainda mais, o já delicado equilíbrio do subcontinente com um artigo em que contesta o que chama de "eixo globalista China-Europa-esquerda (norte-)americana”.
No texto, ele propõe um giro de 180 graus na política externa brasileira, que teria forte impacto na geopolítica e na economia internacional: abandono da política pacifista, alinhamento automático com os Estados Unidos, ataque à China, que seria, segundo esta lógica, excluída do BRICS e ofensiva para derrubar o governo legítimo e constitucional de Nicolás Maduro.
Em seu discurso, Maduro tem se referido aos desafios “econômicos” que a Venezuela vive devido à “guerra imposta por países imperiais” e valorizou o apoio de China para solucioná-los. Em recente encontro com o presidente chinês Xi Jinping, o líder venezuelano agradeceu à China por sua compreensão e seu apoio de longo prazo.
Invasão militar
Xi disse a Maduro que os dois países deveriam promover uma cooperação mutuamente benéfica para levar as relações a um novo patamar, e que deveriam consolidar a confiança política mútua.
Ao longo da última década, a China injetou mais de US$ 50 bilhões na economia venezuelana, por meio de acordos de petróleo em troca de empréstimos que ajudaram Pequim a garantir suprimentos de energia para sua economia de crescimento rápido; ao mesmo tempo em que fortalecia um aliado anti-EUA na América Latina.
A opção militar para a resolução da crise na Venezuela, no entanto, segue sobre a mesa ou ao menos na cabeça do presidente dos EUA, Donald Trump. Segundo a agência norte-americana de notícias Associated Press (AP) informou neste verão que o presidente Donald Trump teria discutido a invasão militar da Venezuela durante um encontro na Casa Branca, no ano passado.
Granada
Para reforçar seus argumentos, Trump lembrou as intervenções militares de Granada e Panamá que, segundo ele, foram um sucesso. Outras vozes nos EUA também se mostraram a favor de usar a força militar. Em particular, como sublinha o site especializado Business Insider, no fim de agosto deste ano, o senador republicano da Flórida Marco Rubio, assessor para assuntos da América Latina e próximo a Trump, afirmou que a Venezuela virou uma força desestabilizadora na região.
Há, no entanto, outras opiniões. Mesmo que a crise na Venezuela justifique fazer pressão para alcançar mudanças políticas, "uma intervenção militar não é a maneira de fazê-lo", acredita Shannon O'Neil, pesquisador sênior especializado nos assuntos da América Latina do Council on Foreign Relations.
O analista sublinha que a Venezuela não é Granada e, menos ainda, o Panamá, "países que foram invadidos pelos EUA nos últimos dias da Guerra Fria”. Segundo O'Neil, uma invasão militar da Venezuela seria semelhante em escala à do Iraque, um país duas vezes menor que a Venezuela, com uma população um pouco maior. Sem ter em conta que, segundo as pesquisas, as tropas americanas não seriam recebidas de braços abertos no país latino-americano.