Presidente do Congresso alega interferência de Trump no pleito presidencial e de grupos do narcotráfico. Candidatos denunciam fraudes, e observadores internacionais pedem cautela.
Por Redação, com DW – de Tegucigalpa
O Parlamento de Honduras disse na quarta-feira que não validará o resultado da eleição no país devido a pressões interna e externas.

A nação caribenha realizou o pleito em 30 de novembro, mas o resultado final ainda não foi divulgado, em meio a denúncias de fraude, interferências e problemas no escrutínio de centenas de atas, enquanto o país segue mergulhado na incerteza.
Em um documento, o Parlamento deixa claro que “não validará um processo manchado por pressões internas de estruturas do crime organizado vinculadas ao narcotráfico” e “muito menos sob pressões externas”, ao referir-se a declarações do presidente americano, Donald Trump feitas horas antes do pleito, a favor de um dos candidatos.
O presidente do Parlamento hondurenho, Luis Redondo, condenou a “ingerência” de Trump e denunciou que suas declarações públicas em favor de Nasry “Tito” Asfura, candidato do conservador Partido Nacional, constituíram “coação” contra os eleitores.
A declaração do Parlamento acrescenta que o apoio de Trump a Asfura e sua decisão de perdoar o ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernández “constituem uma interferência inadmissível, uma ameaça direta ao povo hondurenho e uma violação flagrante dos princípios democráticos e do direito internacional para influenciar a votação por meio de pressão, desinformação e condições econômicas”.
Membro do mesmo partido de Asfura, Hernández cumpria pena de 45 anos de prisão em Nova York desde junho de 2024 por tráfico de drogas e porte ilegal de armas. O Ministério Público hondurenho empreende esforços para prender novamente o ex-governante.
– Condenamos de maneira absoluta a ingerência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que mediante declarações públicas realizadas 72 horas antes das eleições de 30 de novembro ameaçou e coagiu os cidadãos hondurenhos, alterando o livre exercício do sufrágio – indicou Redondo em comunicado acordado pela Comissão Permanente do Parlamento, que integra nove dos 128 deputados, mas que tem grandes poderes.
Hernández foi extraditado em 2022 por seu país e condenado por narcotráfico em 2024, mas o ex-mandatário insiste que tudo foi um “montagem” perpetrada pelo governo do ex-presidente americano Joe Biden.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNEA) ainda não divulgou o resultado final da eleição e admitiu que 2.773 atas apresentaram inconsistências e deverão ser submetidas a um escrutínio especial, cuja data ainda não foi definida. Com isso, 500 mil votos estão em jogo.
O último cômputo oficial, com 99,40% das atas escrutinadas, dá vantagem a Asfura, apoiado por Trump, com 1.298.835 votos (40,52%). Logo atrás está Salvador Nasralla, do Partido Liberal, com 1.256.428 votos (39,48%). Ambos são candidatos de direita.
Em terceiro vem a candidata do partido governante, de esquerda, Liberdade e Refundação (Libre), Rixi Moncada, com 618.448 votos (19,29%).
Denúncia de fraudes
Nasralla denunciou na terça-feira uma “fraude monumental” nas eleições e exigiu uma recontagem especial “ata por ata” diante de uma série de falhas técnicas e supostas irregularidades no sistema de Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares (TREP).
– A falha do sistema de transmissão de resultados eleitorais, administrado pela empresa colombiana ASD, representa o maior risco técnico e jurídico observado no presente processo eleitoral. Não estamos diante de um erro menor, estamos frente a vulnerabilidades que comprometeram a confiabilidade da contagem digital, gerando inconsistências que deveriam ser impossíveis em um sistema corretamente validado – enfatizou.
Para Nasralla, um sistema com segurança ativa “teria rejeitado essas inconsistências e obrigado a revisar manualmente as atas antes de transmiti-las”.
O partido no poder, liderado pela presidente esquerdista Xiomara Castro, também rejeitou os resultados provisórios, afirmando que o apoio de Trump e o indulto ao ex-presidente Juan Orlando Hernández foram uma interferência eleitoral.
O que dizem as missões de observação
O Parlamento solicitou às missões de observação internacional que “incluíssem nos seus relatórios finais uma análise detalhada dos acontecimentos ocorridos, especialmente as ameaças externas e internas, as falhas do TREP e as decisões administrativas que afetaram a verificação biométrica dos votos”.
Ao mesmo tempo, as missões internacionais pediram na quarta-feira que os partidos políticos respeitem a vontade popular expressa nas eleições.
A Missão de Observação Eleitoral da União Europeia (MOE UE) apelou aos atores políticos que respeitem a vontade dos hondurenhos nas eleições e incentivou as forças políticas a utilizarem “os mecanismos de rastreabilidade” oferecidos pelo CNE e os recursos previstos pela lei para dirimir “questionamentos sobre os resultados”.
A delegação europeia, presente no país com 138 observadores desde 11 de outubro, pediu ainda aos membros do CNE e do Tribunal de Justiça Eleitoral que atuem “de maneira imparcial e exemplar”, evitando “obstruções ou atrasos” de caráter político.
Por sua vez, a Missão de Observação Eleitoral da Organização dos Estados Americanos (MOE-OEA) instou partidos, candidaturas e autoridades a “aguardarem os resultados oficiais e manterem uma vigilância ativa sobre os escrutínios em curso” para garantir que as “fases finais do processo se desenvolvam conforme a lei e reflitam a vontade popular”.
A OEA destacou a necessidade de “máxima transparência”, pediu ao CNE que agilize a contagem e reiterou que continuará monitorando o processo conforme o capítulo 5 da Carta Democrática Interamericana.
Além disso, advertiu contra “qualquer chamado para alterar a ordem pública” durante o escrutínio e enfatizou a importância de que as forças de segurança protejam os materiais eleitorais.