Para uma parcela consistente de seus aliados, enquanto Bolsonaro se preocupa em atacar o Supremo Tribunal Federal (STF) e propagar o discurso de um golpe militar, Lula trata de negociar as alianças necessárias.
Por Redação - de Brasília e São Paulo
O declínio acentuado do mandatário neofascista Jair Bolsonaro (sem partido) nas pesquisas de intenção de voto divulgadas por mais de um instituto de pesquisa, em contraste com o crescimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tem levado os parlamentares do chamado ‘Centrão’ a fazer contas. Experientes nas disputas eleitorais, muitos deles já avaliam se devem permanecer ao lado da ultradireita.
Para uma parcela consistente de seus aliados, enquanto Bolsonaro se preocupa em atacar o Supremo Tribunal Federal (STF) e propagar o discurso de um golpe militar, Lula trata de negociar as alianças necessárias, hoje no Nordeste e mais adiante no Sudeste e Sul do país, com o foco na reconstrução do país, em setores destruídos pela crise gerada no atual governo.
A exemplo do deputado federal Silvio Costa Filho (Republicanos), presidente estadual de seu partido (que também é o partido de Carlos Bolsonaro), no Recife, os governistas acreditam que Bolsonaro está preocupado apenas com a sua reeleição e se esquece dos aliados.
Sem um partido para ancorar sua candidatura, em 2022, Bolsonaro começa a pesar na decisão de candidatos a cargos eletivos no ano que vem. As acusações de corrupção, ataques à democracia e má gestão da pandemia do novo coronavírus evidenciadas pela CPI da Covid têm colocado em xeque a aprovação de Bolsonaro e provocado seu derretimento nas pesquisas.
Impeachment
Para o ex-ministro-chefe da Casa Civil no governo Lula, o advogado, ex-deputado e analista político José Dirceu, o presidente Bolsonaro "vai esticando a corda para aprofundar a crise institucional e estimular o golpismo”, como forma de tentar um impulso extra, capaz de deter a queda iminente do cargo.
“Enquanto o governo se desidrata, ele se dedica a fazer bravatas diariamente – as mais recentes foram o desfile dos blindados na Esplanada dos Ministérios e o pedido de impeachment de dois ministros do STF", escreve Dirceu, em artigo publicado nesta quarta-feira.
De acordo com o ex-ministro, "independentemente de se tratar de uma bravata ou se, de fato, existe nos altos comandos da Forças Armadas apoio à pretensão presidencial, é hora da mais ampla unidade em defesa da democracia e da liberdade".
O líder petista destaca, ainda, que Bolsonaro "cria uma crise institucional e faz, por meio de seus porta-vozes, uma interpretação pessoal e não constitucional do artigo 142 na tentativa de 'legalizar' a interferência das Forças Armadas no sistema democrático brasileira”.
"As Forças Armadas não têm papel de árbitro ou tutela sobre o poder civil", continuou. Segundo o ex-ministro, "Bolsonaro sabe que será derrotado e responderá por seus crimes".
"Bolsonaro vive uma situação limite. Isolado, com aumento de seus índices de rejeição e reprovação, perde a cada dia parte do apoio dos empresários que apoiaram sua eleição, assim como de líderes de partidos de centro-direita e de direita”.
‘Irresponsável’
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, é mais objetivo em sua análise. Ele afirmou, nesta tarde, a necessidade de harmonia entre os Poderes nos termos definidos pela Constituição. Durante ato em Teresina, Lula chamou Jair Bolsonaro de "presidente irresponsável" que "caça briga" com o Judiciário.
— Porque ele não quer focar no principal: que é governar esse país decentemente — explica líder popular.
Lula prega, ainda, a construção de maioria no Congresso para fazer política tributária progressiva.
— Uma política justa com quem paga e justa com quem é isento. O Estado não consegue melhorar a Educação se não tiver mais escola, não consegue melhorar a Saúde se não tiver dinheiro para fazer investimento. Os partidos progressistas e democráticos, não só o PT, precisam lançar o maior número de candidatos a deputado nos Estados. Essa tem que ser uma prioridade para 2022 — concluiu.