Rio de Janeiro, 26 de Dezembro de 2025

Carta em que Bolsonaro confirma ’01’ cai mal a investidores de direita

A carta de Bolsonaro confirmando Flávio como pré-candidato à presidência gera reações negativas no mercado financeiro, com quedas na B3 e reflexões sobre o futuro do bolsonarismo.

Sexta, 26 de Dezembro de 2025 às 20:31, por: CdB

Mas a missiva foi interpretada negativamente no mercado financeiro, com a queda nos índices da Bolsa de Valores brasileira, a B3.

Por Redação – de Brasília e São Paulo

Ao lançar o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), ou filho ’01’ como também é conhecido, como potencial candidato à Presidência da República, o ex-mandatário neofascista Jair Bolsonaro (PL) tentou emprestar o tom de “missão” e de sacrifício pessoal ao primogênito.

Carta em que Bolsonaro confirma ’01’ cai mal a investidores de direita | Bolsonaro anuncia Flávio como pré-candidato ao Planalto
Bolsonaro anuncia Flávio como pré-candidato ao Planalto

Mas a missiva foi interpretada negativamente no mercado financeiro, com a queda nos índices da Bolsa de Valores brasileira, a B3. O Ibovespa Futuro operava com baixa nesta sexta-feira, com investidores repercutindo a confirmação de ’01’ para pré-candidato no ano que vem. O dia, no entanto, apresentava um volume reduzido de negociações após o feriado de Natal.

O exagero reparado é a comparação do signatário, atualmente preso para o cumprimento de uma pena superior a 27 anos, por golpe de Estado entre outros crimes, à narrativa cristã sobre Deus e Jesus. Na carta escrita de próprio punho e divulgada na véspera, em pleno Natal, Bolsonaro afirma estar entregando “o que há de mais importante” para uma tarefa de “resgatar o Brasil”.

 

Sucessão

A formulação aproxima, implicitamente, a decisão da passagem bíblica em que Deus entrega seu próprio filho como prova máxima de amor pela humanidade. O trecho central da carta deixa clara a analogia, ao transformar o ato político — lançar o próprio filho como herdeiro de um feudo eleitoral na extrema direita — em um gesto de sacralização e autoridade moral com origem em um criminoso convicto.

Bolsonaro escreveu: “Entrego o que há de mais importante na vida de um pai: o próprio filho, para a missão de resgatar o Brasil”. Ao usar o registro simbólico, o condenado não apenas tenta blindar a escolha contra críticas e disputas internas, como se coloca como figura capaz de “abençoar” a sucessão, reforçando sua imagem de líder incontestável do campo bolsonarista mesmo em meio à crise.

A carta foi lida por ’01′ pouco antes de Bolsonaro passar por cirurgia para corrigir uma hérnia inguinal bilateral. O texto foi planejado para manter o controle sobre um grupo político dividido, segurar dissidências no chamado ‘Centrão’ e conter a desagregação crescente dentro do bolsonarismo.

 

Prisão

Bolsonaro ainda apresentou a decisão como uma medida consciente.

“Trata-se de uma decisão consciente, legítima e amparada no deseja de preservar a representação daqueles que confiaram em mim”. Esse foi o primeiro documento político do líder golpista desde sua prisão, há um mês, em um momento em que sua influência é contestada dentro do próprio grupo e seus aliados buscam alternativas para 2026.

A missiva, no entanto, integra uma estratégia para reafirmar comando sobre um campo político em ebulição. Ao “abençoar” Flávio e apresentar a escolha como uma entrega pessoal, Bolsonaro buscaria conter dissidências e manter a disciplina de uma base que, nos bastidores, já discute outras opções.

O texto chega num contexto em que o bolsonarismo dá sinais de fragmentação: há disputa por protagonismo, divergências sobre candidaturas estaduais e resistência do ‘Centrão’ em aderir, sem reservas, a um nome que ainda não se consolidou como consenso.

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