Em pleito marcado por denúncias, ebola e bloqueios à internet, país tentava realizar sua primeira transição pacífica e democrática desde a independência. Opositor é anunciado vencedor, mas rival e observadores contestam.
Por Redação, com DW - de Londres
A comissão eleitoral da República Democrática do Congo declarou nesta quinta-feira o candidato oposicionista Félix Tshisekedi vencedor da eleição presidencial no país africano, com 38,57% dos votos válidos. Amplamente contestado por rivais e por observadores de França e Bélgica, o resultado pode levar à primeira troca de poder democrática em seis décadas. Tshisekedi obteve 7 milhões de votos. Outros 6,4 milhões de eleitores optaram pelo também candidato da oposição Martin Fayulu, e 4,4 milhões depositaram o voto em Emmanuel Ramazani Shadary, o candidato do partido no poder, segundo a comissão. O resultado anunciado, porém, foi contestado por Fayulu e posto em dúvida também pelo governo da França. Fayulu já havia dito que não aceitaria nenhum resultado que não o declarasse vencedor. Fayulu afirmou que os resultados divulgados pela comissão eleitoral são "fraudulentos, fabricados e inventados". Ele denunciou um acordo entre o atual presidente, Joseph Kabila, e Tshisekedi para a divisão de poder e pediu aos observadores eleitorais para que se manifestem. Ele pediu à Igreja Católica que divulgue os resultados que obteve de sua equipe de 40 mil observadores, que registraram as estatísticas de votação publicadas em cada um dos centros de votação. Na semana passada, a Igreja Católica afirmara que as suas observações mostraram um claro vencedor, mas não disse quem ele é. Vários diplomatas conhecedores do processo confirmaram à agência de notícias Associated Press que os números compilados pela Igreja Católica mostram que Fayulu obteve a maioria absoluta dos votos. Diplomatas disseram também que todas as principais missões de observação, incluindo da União Africana e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, mostram resultados semelhantes. Pouco após o anúncio, o governo da França contestou o resultado divulgado. O ministro do Exterior, Jean-Yves Le Drian, disse que Fayulu deveria ser declarado vencedor. "Parece que o resultado anunciado não está de acordo com o resultado real", disse a uma emissora francesa. "A conferência episcopal anunciou resultados totalmente diferentes." O governo da Bélgica expressou dúvidas sobre o resultado e disse que usará seu mandato temporário no Conselho de Segurança da ONU para buscar esclarecimentos. "Temos algumas dúvidas que precisamos verificar e que serão debatidas nos próximos dias no Conselho de Segurança", afirmou o ministro do Exterior, Didier Reynders. Já Tshisekedi prometeu a uma multidão de apoiadores que será um presidente de todos e declarou Kabila um importante parceiro. "Eu presto homenagem ao presidente Joseph Kabila e hoje não devemos mais considerá-lo um adversário, mas um parceiro na alternância democrática no nosso país", disse. Os candidatos têm 48 horas para contestar os resultados no Tribunal Constitucional. A seguir, o tribunal terá uma semana para se pronunciar. Os resultados finais da eleição só serão anunciados em 15 de janeiro.