Rio de Janeiro, 16 de Abril de 2025

Análise: ‘Brasileiro cordial’ guarda o caráter perverso de um país patrimonialista

Por Gilson Caroni Filho - (A cordialidade) expressa-se no famoso "minha empregada é como se fosse da família". E todos sabemos que o que é pago a ela, quando não descontam o que come, é uma miséria. É a primeira a levantar e a última a dormir.

Segunda, 24 de Maio de 2021 às 13:16, por: CdB

(A cordialidade) expressa-se no famoso "minha empregada é como se fosse da família". E todos sabemos que o que é pago a ela, quando não descontam o que come, é uma miséria. É a primeira a levantar e a última a dormir. Deve deixar os filhos e marido de lado, mesmo em tempos de pandemia, para se dedicar, com exclusividade, aos patrões.

Por Gilson Caroni Filho - do Rio de Janeiro

Volta e meia, aparece alguém dizendo que o governo do genocida desmontou o mito do brasileiro cordial. Sugiro que se deem ao trabalho de ler Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda.  E também indico a leitura de Raymundo Faoro.

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Sem máscara sanitária, Bolsonaro fez questão de aglomerar e evitar o distanciamento social

A cordialidade é o caráter perverso da sociedade patrimonialista e estamental. É a afabilidade instrumentalizada para oprimir e negar direitos.

Expressa-se no famoso "minha empregada é como se fosse da família". E todos sabemos que o que é pago a ela, quando não descontam o que come, é uma miséria. É a primeira a levantar e a última a dormir. Deve deixar os filhos e marido de lado, mesmo em tempos de pandemia, para se dedicar, com exclusividade, aos patrões. que se julgam donos de privilégios hereditários. É a herança escravocrata que não se esgota.

Simulacro

Vem daí a reação às cotas em universidades. Afinal,  julgam o espaço acadêmico como direito adquirido. Não que queiram aprender porra nenhuma, mas apreciam o título.

Com poder aquisitivo cada vez menor, sentem-se compensados com o aumento da miséria e da exclusão.

Ontem, entre aqueles motoqueiros que comemoram o genocídio com o miliciano, havia vários pais, todos capazes de qualquer coisa pelos seus filhos. Afinal, a família, a "sagrada família" é o núcleo estruturante da sociedade canalha em que vivemos. Neste cenário, falar em democracia é ignorar o simulacro em que o público é engolido pelo privado.

O que não faltou na orla do Rio de Janeiro foi cordialidade. No fundo todos são irmãos, brothers, pois são filhos da mesma putaria que veio de Portugal e continua forjando a identidade da sociedade mais brutal da América Latina.

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