Ao remover o ministro Luiz Henrique Mandetta, nas próximas horas, Bolsonaro colocará sua cabeça a prêmio, caso o número de mortes causadas pela pandemia se eleve aos níveis daqueles países que adotaram uma linha diversa daquela recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Por Redação - de Brasília
O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) tem seguido na direção inversa ao que os demais países do mundo recomendam, no combate à covid-19, e está prestes a dobrar a aposta no encerramento precoce do regime de isolamento social. A medida é recomendada pelas autoridades do Ministério da Saúde do seu próprio governo.
Ao remover o ministro Luiz Henrique Mandetta, nas próximas horas, Bolsonaro colocará sua cabeça a prêmio, caso o número de mortes causadas pela pandemia se eleve aos níveis daqueles países que adotaram uma linha diversa daquela recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O Congresso e o Judiciário já sinalizaram que poderá haver o julgamento quanto à atitude do mandatário.
Renúncia
Na manhã desta quarta-feira, o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, responsável diretamente pelo combate à epidemia de coronavírus, pediu demissão do cargo. Analistas ouvidos pela reportagem do Correio do Brasil sinalizam para o momento estratégico desta renúncia, que poderá apressar uma solução para o cargo do ministro.
Homem de confiança do ministro, Wanderson deixou uma carta aos subordinados, na qual avisa que não permaneceria mais no cargo, uma vez que seu chefe imediato havia informado aos auxiliares diretos que seria demitido dentro de alguns dias. Mandetta mantém a decisão de aguardar a demissão, sem renunciar ao cargo.
Com a saída do ministro, a tendência é de uma revoada de quadros do ministério, no segundo escalão, o que causaria uma interrupção, ainda que temporária, das atividades vitais ao país, durante a pandemia. Logo após a renúncia de Oliveira, setores do Palácio do Planalto trabalhavam para conter os servidores da pasta.
Cloroquina
O presidente iniciou, definitivamente, o processo de substituição de Mandetta na noite passada, segundo fontes palacianas, após ruminar os efeitos da entrevista do ministro ao programa dominical Fantástico, da Rede Globo de Televisão, que foi ao ar na noite de domingo. Nela, o ainda titular da pasta cobrou uma "fala única" do governo na luta contra a pandemia.
Mandetta aguarda que o presidente encontre alguém para substituí-lo, o que não tem sido fácil. Bolsonaro tem ouvido uma série de negativas mas, segundo apontaram aquelas fontes, ainda estão sobre a mesa os nomes do presidente do conselho do hospital Albert Einstein, Claudio Lottemberg,e da diretora da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Ludhmila Hajjar. A doutora Nise Yamaguchi, oncologista e infectologista que chegou a defender o uso da cloroquina, está entre aqueles que não aceitam o posto.
Na reunião diária do ministro com seus auxiliares diretos, nesta manhã, Mandetta avisou sua equipe que deve ser demitido até o final desta semana. Segundo essas fontes, Mandetta disse a seus principais auxiliares que não pedirá demissão e esperará a formalização de sua saída e a indicação de um sucessor.
Padaria
As duas fontes, no entanto, informaram que não houve um aviso ou uma conversa formal no Palácio do Planalto sobre a saída de Mandetta, mas o aviso teria partido de um “feeling” do ministro. Mandetta tem estado em rota de colisão com Bolsonaro por divergências na estratégia de combate à pandemia de coronavírus, que já matou mais de 1,5 mil pessoas no Brasil.
Esse mesmo “feeling” também foi acionado quando o presidente, na semana passada, parou para um cafezinho em uma padaria no interior de Goiás, onde causou uma aglomeração. A referida padaria fica ao lado da casa frequentada por Mandetta e, nessa conversa com a equipe, o ministro citou o episódio como se houvesse ali uma armadilha.
Mandetta tinha ido a última vez ao estabelecimento quatro dias antes de Bolsonaro, dia 5 de abril, um domingo. Enquanto sua esposa comprava pão, ele aguardava do lado de fora. Aos colegas, o ministro afirmou que teve informações de que Bolsonaro soube da sua ida à padaria.