Rio de Janeiro, 05 de Dezembro de 2025

Autor de duplo feminicídio no Cefet usou arma registrada

O duplo feminicídio no Cefet expõe falhas de segurança e negligência institucional. O caso levanta questões sobre o controle de armas e a proteção de servidores.

Terça, 02 de Dezembro de 2025 às 13:02, por: CdB

Familiares e colegas das vítimas afirmam que instituição ignorou alertas sobre comportamento violento do assassino.

Por Redação, com Agenda do Poder – do Rio de Janeiro

O duplo feminicídio que abalou o Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet), no Maracanã, na última sexta-feira, abriu uma ferida profunda na comunidade acadêmica e escancarou falhas graves de segurança e prevenção. João Antônio Miranda Tello Ramos, servidor da instituição, usou uma pistola Glock calibre 380 — registrada em seu nome por ser CAC, categoria que reúne colecionadores, atiradores desportivos e caçadores — para assassinar a diretora Allane de Souza Pedrotti Matos, de 41 anos, e a psicóloga Layse Costa Pinheiro. Logo após os disparos, o agressor foi encontrado morto ao lado da arma e de dezenas de munições, em circunstâncias que indicam suicídio.

Autor de duplo feminicídio no Cefet usou arma registrada | As funcionárias do Cefet Layse e Allane que morreram baleadas no Cefet Maracanã
As funcionárias do Cefet Layse e Allane que morreram baleadas no Cefet Maracanã

O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) como feminicídio. Segundo reportagem do diário conservador carioca O Globo, testemunhas relataram que João não aceitava ser chefiado por mulheres, e a Polícia Civil informou que a investigação está em fase de conclusão.

Reconstituição do crime e perfis das vítimas

De acordo com relatos colhidos pela polícia, João chegou ao Cefet pela manhã e cumprimentou colegas normalmente. À tarde, entrou na sala da Diretoria de Ensino e efetuou os disparos contra as duas mulheres. Allane foi atingida na cabeça e no ombro; Layse sofreu ferimentos na cabeça e no tórax. Ambas foram levadas ao Hospital Municipal Souza Aguiar, mas não resistiram.

Os sepultamentos ocorreram no domingo. Allane foi enterrada no Cemitério Jardim da Saudade, em Paciência, Zona Oeste. Layse foi sepultada no São João Batista, em Botafogo.

A deputada estadual Elika Takimoto (PT), professora licenciada da instituição, esteve nos velórios e relatou forte consternação entre docentes e alunos. Ela afirmou ter ouvido que o agressor carregava ao menos 50 projéteis na mochila, além de possuir histórico de atitudes hostis com mulheres.

Questionamentos sobre retorno ao trabalho do atirador

Nas redes sociais, a cantora Elisa Maia, amiga de Allane, questionou por que João havia retomado suas atividades no Cefet após um afastamento de 60 dias. Ele havia denunciado uma colega por perseguição, mas o processo administrativo concluiu que a acusação não procedia. “Por que ele voltou ao trabalho? Onde está o nome do psiquiatra que deu o laudo para ele voltar ao trabalho?”, escreveu.

As críticas se intensificaram após a divulgação de relatos de funcionárias que deixaram o campus ao saber que o atirador estava presente no dia do crime.

Família aponta negligência e teme tragédia ainda maior

A pesquisadora e tradutora Alline de Souza Pedrotti, de 35 anos, irmã de Allane, afirmou nesta segunda-feira que a tragédia poderia ter sido evitada caso a direção tivesse adotado medidas preventivas.

– A direção não levou a sério esse caso. Deixou um cara entrar armado na instituição. Se tivesse levado a sério teria notado que ele era um sujeito perigoso e violento. Não era só minha irmã que se sentia ameaçada por ele. Soube que outras funcionárias ao tomarem conhecimento de que ele estava lá (no colégio) foram embora – disse Alline. E completou: “Poderia ter atentado contra vida de sabe lá quantas pessoas dentro da instituição. A conclusão que se chega a partir dos fatos é que a direção não se importa com as vidas que estão lá dentro”.

Segundo a irmã, Allane relatava medo desde o início do ano passado e chegou a pedir que Alline cuidasse de sua filha de 13 anos caso algo lhe acontecesse.

Reação do Cefet e força-tarefa do governo federal

O Cefet não abriu nesta segunda-feira. No prédio, apenas vigilantes e funcionários de uma empresa que realizava obras estavam presentes. Em nota divulgada no dia do crime, a instituição lamentou “profundamente essa tragédia que chocou a comunidade acadêmica” e decretou luto oficial por cinco dias a partir de 1º de dezembro. Procurada novamente após as declarações da família, a direção não respondeu.

Os Ministérios da Educação (MEC) e da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI) informaram que organizam uma força-tarefa com unidades do Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor Público Federal (SIASS) no Rio de Janeiro para prestar apoio psicológico e acolhimento aos servidores e estudantes. O MEC afirmou ainda que mobilizará outras instituições federais de ensino do estado para fortalecer a atuação emergencial.

A tragédia reacende o debate sobre protocolos de segurança em instituições de ensino, acompanhamento de servidores com histórico de conflitos e controle de acesso de armas de fogo, especialmente no caso de CACs.

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