Outra vitória foi levar sob vara, na tora, boa parte da cúpula negacionista e golpista para se sentar no banquinho da República e lá terem que se submeter aos rituais da democracia e da Justiça, obrigando-os em vários casos a se socorrerem no tão criticado e demonizado por eles, STF.
Por Edilson Silva – de Brasília
A CPI da Covid foi encerrada em grande estilo. Como um inquérito, parte de um processo de persecução penal, fez o seu trabalho, entregando ao Procurador Geral da República os indícios de crimes, autores, e até confissões de crimes. Estamos falando de mais de 600 mil mortos, vidas perdidas num sofrimento incalculável, dentre os quais muitos são vítimas por ação ou omissão do governo Bolsonaro. Agora vamos pressionar para que o Procurador Geral, Aras, cumpra seu papel. Minha única dúvida, de natureza mais política, é se ter indiciado tanta gente, em tantos crimes, não será um pseudo argumento para o PGR protelar a denúncia para dar andamento às ações penais. Mas, antes de mais nada, a CPI já é vitoriosa em outros aspectos, de natureza política. A primeira vitória foi sua instalação, que não esqueçamos, foi feita “à revelia” do Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Foi uma vitória da oposição em harmonia com o STF, que ordenou a abertura da CPI, derrotando a aposta do governo em neutralizar o parlamento, a exemplo do que tem feito na Câmara. Bolsonaro tentou dar um golpe em meio à CPI, acusando que estava cercado e acuado.Outra vitória
Outra vitória foi levar sob vara, na tora, boa parte da cúpula negacionista e golpista para se sentar no banquinho da República e lá terem que se submeter aos rituais da democracia e da Justiça, obrigando-os em vários casos a se socorrerem no tão criticado e demonizado por eles, STF. Tiveram que responder perguntas. Calaram-se para se proteger. Foram enquadrados e, portanto, desmoralizados diante de sua base social radicalizada, que quer a volta do AI-5 e outras barbaridades. A vida real colocou os golpistas na defensiva. A CPI também foi vitoriosa quando se materializou no “veículo” onde embarcaram as mais amplas forças políticas em defesa da ciência, da democracia e da vida. Assim, a CPI se converteu num encontro cotidiano das forças políticas e sociais para isolar o vírus do negacionismo, do autoritarismo, das fake news, de isolamento de Bolsonaro. Uniram-se em torno da CPI o campo político partidário progressista, o centro e a direita; o STF, os religiosos sérios, a imprensa de todos os tamanhos, as centrais sindicais e os movimentos estudantis, a OAB, as universidades e os cientistas, artistas, enfim, o Brasil minimamente civilizado se uniu em apoio à CPI, e isto foi fundamental para construir uma maioria moral contra o Bolsonarismo e a extrema direita que, hoje, está acuada e em franca minoria moral. O fato da Comissão de Constituição e Justiça do Senado não ter encaminhado a sabatina do indicado de Bolsonaro para a vaga no STF certamente tem a ver com esta correlação de forças. Também é uma vitória indireta da CPI. Agora, o nosso desafio é perseguir os encaminhamentos deste inquérito. Um caminho de legalidade e afastamento dos criminosos do poder. O “Fora, Bolsonaro” tem um percurso que une uma maioria moral e ampla. Sigamos firmes. O Brasil é maior.Edilson Silva, é ativista do Movimento Negro, foi dirigente sindical nacional dos ferroviários, deputado estadual em PE (2015/2019), presidiu a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legistiva de Pernambuco neste período. Preside atualmente a Unegro Recife e compõe o Comitê Estadual do PCdoB.
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