O poder era do imperador, portanto, mandou o jamegão no lugar da filha. Ou seja, esses fascistas são sábios na continuidade da ignorância histórica.
Por Urariano Mota – de São Paulo
Está na notícia “Gestão Tarcísio ‘ensina’ que capital tem praia e Pedro II assinou Lei Áurea” do UOL. Essa desinformação absoluta está no material didático distribuído às escolas paulistas desde abril deste ano, para mais de 3 milhões de alunos. Tamanho é o descaso pela pesquisa histórica, tamanho é o desprezo pela mínima informação, que produziram estas primeiras descobertas da pedagogia bolsonarista: Jânio Quadros, quando prefeito, proibiu o biquíni nas praias da cidade de São Paulo!. Mas que revolucionário, trouxe o mar para a cidade.
A confusão é compreensível, se por compreensão queremos dizer um esforço de entendimento para a brutal ignorância: Jânio Quadros proibiu o biquíni, mas quando era presidente do Brasil, aquele continente que cerca a capital paulista. De fato, no resto do país havia e há praias sem pudor e sem moral. Então Jânio Quadros, no seu atraso, recuou ao tempo de prefeito. Daí que, se dermos alguma asa à imaginação, daí que, confuso, perturbado, renunciou à frente para trás com os pés tortos, como nesta foto:
E a pedagogia do governador Tarcísio, que rejeitou os livros do Ministério da Educação do Brasil, foi mais longe, ou mais perto do asno: zurrou que Dom Pedro II assinou a lei da abolição da escravatura. Faz sentido, não é? O poder era do imperador, portanto, mandou o jamegão no lugar da filha. Ou seja, esses fascistas são sábios na continuidade da ignorância histórica. São mestres em dar patadas, de geração a geração. O grande Stanislaw Ponte Preta já havia escrito que
“Joaquim José
Que também é
Da Silva Xavier
Queria ser dono do mundo
E se elegeu Pedro II”
Sérgio Porto só não podia prever que Dom Pedro II acabaria com a escravidão, para arrependimento da direita brasileira até hoje.
Pobres alunos
Mas continuemos, porque existem zurros para todas as disciplinas dos pobres alunos submetidos ao governador de São Paulo. Olhem só, beber água é um perigo. Isso porque existe transmissão de doenças pela água, como Alzheimer e Mal de Parkinson. E mais perda de concentração e deficiência de memória, além de problemas cognitivos. Olhem, só podemos acreditar que os autores do material didático beberam muito dessa água, muita, e ficaram dementes. A se acreditar na ciência suicida dos seus slides para os alunos.
A reportagem não avançou sobre os coices das disciplinas de Português e Matemática. Então, estamos livres para imaginar o que foi distribuído aos estudantes. (E perdoem a nossa miséria de imaginação diante do que de fato os educadores de direita cometem). Podemos perfeitamente imaginar que o desconfiado Bentinho, do Dom Casmurro, tenha sido chamado de corno nas aulas, porque, afinal, Capitu teria aplicado sobre a cabeça do personagem adornos de chifres. E que dizer das Memórias Póstumas de Brás Cubas, onde um morto escreve as suas memórias? Hem, só pode ser um livro de terror. Um morto se levanta do túmulo e fala que não deixou a ninguém o legado da sua miséria. Só os ossos a se mexerem na escuridão! E a safadeza do conto Missa do Galo, onde um jovem fica desejando a dona da casa, que lhe dá alguns lances do colo desejado. Em vez de ir à missa o cara fica secando a mulher do dono da casa. Escroto e pervertido. E aquele Castro Alves, poeta dos escravos, que só pode servir para os negros? Hem? Passemos à conjugação de verbos, mas só os regulares. Nada de se meter com os irregulares, do português dos degenerados.
É provável que não escape das patas desses educadores de Tarcísio nem a necessária Matemática, a chamada ciência exata. Por exemplo, o zero deve ter sido confundido com o conjunto vazio. Ambos são “nadEntão n”, certo? Não vamos complicar. E mais, quem não se comportar direito, às direitas, vai ter 3 aulas de matemática por dia. Que é para prender que coisa ruim é o castigo de estudar números. Então, resolvam a operação: 1 + 2 x 6 = 18. Nunca o resultado 13, como se ensina nos livros do governo Lula, somente para insinuar a sua eleição. Pois sim. Treze noves fora, zero.
E por aí vai. Mas tenho que encerrar o artigo. Eu sempre digo que a realidade é mais poderosa que a imaginação. Quem diria que chegaríamos a esse ponto?
Urariano Mota, é Jornalista do Recife. Autor dos romances Soledad no Recife, O filho renegado de Deus e A mais longa duração da juventude.
As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil